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Homem chuta uma janela de uma loja durante um protesto em St. Paul, Minnesota | FOTO: Scott Olson/Getty Images/AFP| Foto: Scott Olson/Getty Images/AFP

Durante os anos 1960 e até o começo da década seguinte os Estados Unidos se viram abalados por enormes protestos que pediam mudanças radicais nas atitudes do país em questões raciais, de classes sociais, gênero e orientação sexual. A Guerra do Vietnã e o consequente adiamento nas convocações militares de muitos estudantes universitários (que eram automaticamente dispensados do recrutamento) provavelmente foram os responsáveis pela mudança de atitude nos protestos por desobediência civil, antes pacíficos.

Algumas dessas manifestações se tornaram bastante violentas, como aquela que ficou conhecida como a Rebelião de Watts, que ocorreu em 1965 em Los Angeles, assim como os protestos na Convenção do Partido Democrata em Chicago em 1968. Terroristas do grupo Weatherman (mais tarde conhecidos como Weather Underground) bombardearam dezenas de instalações do governo.

As revoluções dos anos 1960 apresentaram o país várias novidades, desde o movimento hippie e suas comunas, o amor livre, tatuagens em massa, blasfêmias generalizadas, excessivo uso de drogas, o rock e altas taxas de divórcio até a Guerra contra a Pobreza, um massivo crescimento do governo, feminismo, ações afirmativas e currículos universitários voltados para questões étnico-raciais e de gênero.

A contracultura dos anos 1960 era inimiga do “establishment” – políticos, corporações, os militares e toda uma geração chamada de “quadrados” ou "caretas". Os esquerdistas miravam nos próprios pais, que cresceram durante o período da Grande Depressão. Foi essa geração quem venceu a II Guerra Mundial, e voltou à América para criar uma economia que prosperou a partir do pós-guerra. Depois de crescerem em meio a grandes dificuldades econômicas e militares, eles só queriam voltar a ter um pouco de conforto e tranquilidade durante os anos 1950.

Meio século depois dessa primeira leva, a revolução cultura de hoje é muito diferente – e muito mais perigosa.

A máquina pública cresceu, assim como as dívidas. O ativismo social foi institucionalizado por meio de centenas de novos programas sociais federais. A Grande Sociedade inaugurou investimentos trilionários para garantir um estado de bem-estar social. As taxas de divórcio decolaram e a família tradicional está minguando. Imigrações, tanto legais quanto ilegais, dispararam.

Como consequência, a América se tornou cada vez mais dividida, muito menos resiliente, mais endividada e muito mais vulnerável do que estava nos anos 1950.

Os radicais de hoje não protestam contra o conservadorismo dos anos 1950, mas sim contra os radicais de 1960, que outrora foram liberais e agora detêm o poder. Muitas dessas pessoas -- governadores democratas, prefeitos e chefes de polícia -- são agora de esquerda. E diferentemente do prefeito democrata de Chicago nos anos 1960 Richard J. Daley, os líderes civis progressistas muitas vezes simpatizam com os manifestantes.

Os protestos dos anos 1960 se davam a favor da integração e da assimilação racial proposta por Martin Luther King Jr., e para pôr em prática sua agenda de tornar a questão de raça muito mais incidental do que essencial na mentalidade dos americanos. Não é mais assim com a revolução cultural de hoje. Esta busca garantir que as diferenças raciais sejam a base da vida americana, dividindo o país entre as supostas vítimas não-brancas e seus pretensos vitimadores, passado e presente.

Nos anos 1960, os radicais se rebelavam contra seus professores, na maioria das vezes altamente competentes, e os produtos de uma educação indutiva baseada em fatos. Nada disso acontece em 2020. Os radicais de hoje não são mais ensinados por tradicionalistas, mas por velhos radicais menos instruídos.

Outro ponto chave são as dívidas. A educação pública nos anos 1960 era muito simples e relativamente barata. Talvez porque não havia a necessidade de dormitórios forrados de pelúcia, cafés descolados, paredes de escaladas, coordenadores de diversidade e reitores de inclusão, os custos das faculdades medidos em dólares de verdade eram muito mais baixos.

A diferença é que nos anos 1960 os estudantes radicais se formavam sem muitas dívidas e, de forma bem “descolada”, conseguiam entrar na economia. Os graduandos de hoje devem mais de US$ 1,6 trilhão em financiamentos estudantis – muitos deles contratados para custear um ensino politizado, terapêutico e até medíocre, o que não impressiona os empregadores.

Quem tem débitos estudantis leva mais tempo para ter maturidade, casar e criar os filhos e não consegue comprar uma casa ou começar uma poupança. Em outras palavras, os radicais de hoje estão muito mais desesperados e nervosos porque pagaram pela faculdade, mas não conseguem retorno nesse investimento.

Há também uma divisão geográfica, como em 1861, e não só uma divisão de gerações como em 1960. As duas costas, leste e oeste, são fortemente dominadas pelos Democratas que parecem desprezar o interior do país, regido pelos Republicanos. E vice-versa.

A face mais assustadora da revolução atual é que a maioria dos seus simpatizantes não mudou muito de 1960 para cá. Eles podem estar mais ricos, mais poderosos, mais influentes e mais velhos, mas eles também continuam tão inconsequentes quanto eram décadas atrás, e seguem vislumbrando o caos como a vitória final de sua marcha iniciada há seis décadas.

As grandes corporações não são mais vistas como uma encarnação do mal, e sim como aqueles que despertaram para a realidade e hoje ajudam na revolução. Os militares não carregam mais a pecha de serem aqueles que advogam em favor do conflito, e hoje são louvados como um serviço de funcionários públicos onde as agendas de raça, classe social e gênero podem avançar sem toda aquela sujeira do debate legislativo. Ao contrário dos anos 1960, essencialmente não há mais conservadores em Hollywood, nas universidades ou dentro da burocracia governamental.

Assim, a guerra não opõe mais radicais contra conservadores, mas em sua maioria socialistas e anarquistas contra ambos liberais e conservadores.

Nos anos 1960, uma enorme “maioria silenciosa” finalmente conseguiu o que queria: elegeu Richard Nixon e conseguiu lidar com a revolução, inclusive prendendo criminosos que faziam parte do movimento. Hoje, se existe um grupo de tradicionalistas e conservadores, certamente eles estão bem escondidos.

E se continuarem assim, quietos em seus monastérios mentais repudiando a violência em um cândido silêncio, a revolução vai esmagá-los como um rolo compressor. Por outro lado, se assim como no passado esses conservadores tiverem um estalo e perceberem que a situação atual chegou ao limite, e que precisam reivindicar de volta seu país, então quem sabe essa nova revolução cultural também possa ser superada.

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