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Lockdown no parque da Disney em Xangai, China
Lockdown no parque da Disney em Xangai, China. Como parte da iniciativa “Covid Zero” da China, visitantes foram impedidos de sair sem teste negativo. 1º de novembro de 2022.| Foto: EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI

Os países que perseguiram as medidas sanitárias mais autoritárias na pandemia, como a política de “Covid zero” da China, têm os piores resultados quanto à imunidade populacional à doença nesta fase em que a variante ômicron é a dominante. Países que não fizeram lockdowns generalizados, como a Rússia, Singapura e Brasil, têm mais imunidade. Enquanto menos de dois a cada dez chineses podem ficar tranquilos quanto à possibilidade de se infectar, esse número entre brasileiros é de quase sete a cada dez. Mais de 232 milhões de chineses continuam sob confinamento estrito.

Somente 17,2% dos chineses estão imunizados contra Covid. A taxa de imunização é de 68% entre os brasileiros. Essa estimativa é de 74,5% para a Rússia e 69,9% para Singapura. O Japão, que também fez lockdown, tem a taxa de imunização estimada em 38,9%. Os Estados Unidos perdem para o Brasil, com 60,5% contra nossos 68% de imunizados.

A análise é do Instituto de Métricas e Avaliação de saúde (IHME, na sigla em inglês), afiliado à Faculdade de Medicina da Universidade de Washington. Foi publicada no fim do mês passado, com resumo no site Politico. Os pesquisadores do instituto estimam as taxas de imunização com base em número de infectados, taxas de vacinação e o tempo que se passou desde a infecção ou inoculação. Também levam em conta em seu modelo quais variantes do coronavírus passaram pelos países, e a subnotificação.

O IMHE acredita que todos os russos tiveram Covid-19 após Vladimir Putin ter chamado a população a voltar para a normalidade ainda cedo na pandemia, o oposto da atitude do líder chinês Xi Jinping. O preço pago na Rússia foi alto: o excesso de mortalidade no país em 2020 e 2021 foi de 367 mortos por 100 mil habitantes, mais que o dobro da taxa do Brasil (160 em 100 mil), nas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, a revista britânica The Economist calculou que a China está publicando números de mortos por Covid que estão 5700% abaixo dos reais.

Diferentes tipos de imunização

A taxa de vacinação com ao menos uma dose contra Covid entre campeões de imunização da população foi de 58% na Rússia, 88% em Singapura e 87% no Brasil, segundo a OMS. Na China, com resultado ruim de imunização populacional, foi de 88,9%. No Japão, com resultado regular, foi de 82%.

Não parece haver um padrão claro de que altas taxas de vacinação seguem altas taxas de imunização populacional contra Covid-19. Fica claro que "imunizado" não deve ser tratado como sinônimo de "vacinado", neste caso. Além da importante participação da imunidade natural adquirida com a infecção prévia para a taxa de imunização geral da população, que parece ser auxiliada pelas vacinas para formar o mais poderoso tipo de proteção, a imunidade híbrida (infecção + vacina), os pesquisadores do IMHE acreditam que o tipo de vacina deve ser levado em conta.

Contra a variante ômicron, a Coronavac, utilizada na China e no Brasil, tem os piores resultados: a eficácia é de apenas 37% contra Covid severa e 24% contra infecção. A vacina da Rússia, a Sputnik-V, se sai melhor: eficácia de 67% e 44%, respectivamente. Das outras vacinas utilizadas no Brasil além da Coronavac, a eficácia contra doença severa e infecção é de 71% e 36%, para a vacina AstraZeneca/Oxford; 57% e 33%, para a Johnson & Johnson (Janssen); e de 72% e 44%, para a Pfizer/BioNTech.

Assim, enquanto na Rússia a imunidade natural parece ter sido muito importante para a imunização da população devido à menor taxa de adesão às vacinas, no Brasil o padrão da imunização populacional deve resultar mais da imunidade híbrida.

No começo da pandemia, os especialistas se dividiram entre os mais adeptos de intervenções não-medicamentosas como o lockdown e aqueles que aderiram à Declaração de Great Barrington, que defendia uma aplicação mais focada de medidas protetivas a grupos de risco como os idosos, em vez de intervenções sobre toda a população, e a minimização de danos socioeconômicos de lockdowns e fechamento de escolas. A posição dos últimos foi difamada como “deixar acontecer” (“let it rip”, em inglês). Com resultados de países que fizeram diferente, como a Suécia, e as estimativas preliminares do IMHE, o desnível entre os dois grupos pode se equilibrar ou até se inverter.

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