A separação entre igreja e Estado ajuda o país a manter o progresso e a paz. A separação entre o Estado e o setor privado deveria também ser sagrada.| Foto: Pixabay

O candidato sem esperança à Presidência dos Estados Unidos Beto O’Rourke tem sido castigado pela direita, esquerda e até por ateus pelo que disse no debate democrata do dia 10 de outubro. Ele disse que organizações religiosas que discriminam o casamento entre pessoas do mesmo sexo deveriam perder a isenção tributária. Mas ninguém pareceu notar que O'Rourke, sem querer, também admite que impostos são uma forma de punir cidadãos que desobedecem ao Estado.

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Durante 137 anos depois da Declaração de Independência, nenhuma norte-americano pagou imposto de renda federal. O governo só aumentava sua arrecadação por meio de tarifas alfandegárias e outros impostos indiretos, e a Constituição norte-americana teve de receber uma emenda em 1913 para que o imposto direto se tornasse legal. As igrejas mantiveram a isenção, mas o imposto de renda passou a ser cobrado de todos os demais.

Assim, aumentar ou diminuir os impostos é como os políticos conseguem contribuições de campanha e votos. E geralmente a ameaça de se aumentar impostos é a forma mais eficiente para um político obrigar empresas a fazerem o que eles querem. No livro Crony Capitalism in America [O capitalismo malandro nos Estados Unidos], o investidor Hunter Lewis menciona o caso de dois senadores democratas que planejavam criar um novo imposto sobre fundos de investimento.

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Isenção para grupos religiosos

Como resultado, o Partido Democrata conseguiu duas vezes mais contribuições de campanha de fundos de investimento de Wall Street em comparação com as contribuições dadas aos republicanos em 2008 e 2009 e a proposta de aumento de impostos jamais chegou ao plenário do Senado. Lewis argumenta que é

por isso que o código tributário só aumenta e se torna cada vez mais impenetrável. Quanto mais complexo e vago ele é, mais fácil é trocar acordos por contribuição de campanha.

As organizações religiosas têm isenção justamente para evitar esses acordos políticos escusos. Isso não quer dizer que não tenha havido um motivo político: ao isentar grupos religiosos, os políticos esperavam conquistar o apoio em bloco deles. Mas a justificativa oficial para as isenções é a de que as organizações religiosas realizam atividades que melhoram o bem-estar da sociedade e contribuem para o bem comum de uma forma que compensa a perda em renda tributária.

Mas essa lógica não se aplica também a organizações seculares e até a cidadãos? Afinal, empresas de sucesso, por definição, fornecem bens e serviços que contribuem para o bem-estar das pessoas. Se as empresas não estão melhorando o bem-estar das pessoas (pessoas que apoiam financeiramente a empresa), os clientes deixam de comprar seus produtos e serviços e a empresa fecha. Quando o governo passa a cobrar impostos de empresas, esses impostos entram para os custos e podem distorcer a concorrência entre as empresas, o que significa que as necessidades dos consumidores não são satisfeitas de uma forma tão eficiente quanto poderia ser.

Um crítico de esquerda aplicou essa mesma lógica até mesmo a organizações religiosas para argumentar que as igrejas não devem pagar impostos.

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“Para muitas instituições religiosas, esse é um tema existencial legítiimo – pagar impostos sobre propriedade, imposto de renda de pessoa jurídica (supondo que elas tenham lucro) e perder a capacidade de receber doações dedutíveis do imposto de renda seria um golpe para suas finanças”, escreveu Jordan Weissmann na Slate.

Separação entre igreja e Estado

Mas o que tem outro significado além de sugerir que tais grupos não têm apoiadores o suficiente para pagar pelas despesas e impostos? Seguindo os padrões empresariais, essas organizações religiosas não têm clientes o bastante para justificar sua existência. Mas o critério para empresa privadas é a de que elas também precisam de consumidores o bastante para que ela cumpra todas as suas responsabilidades e ainda deem dinheiro ao Estado. Ainda assim, o argumento básico de Weissmann não está errado, no sentido de que as igrejas prosperam justamente porque estão isentas de impostos.

Um estudo de 2008 realizado por Jonathan Fox e Ephraim Tabory mediu a regulamentação estatal sobre a religião em 81 países e descobriu que, quanto mais o governo intervém no “mercado” religioso, menos as pessoas frequentam a igreja e diminuir a probabilidade de o povo se identificar como “religioso”. O fato de a religião luterana sem a igreja estatal na Dinamarca, Suécia e Noruega talvez explique por que esses países estão nos primeiros lugares no ranking dos países secularistas, enquanto no “livre mercado” da religião a religiosidade nos Estados Unidos é a maior entre os países desenvolvidos e os pastores evangélicos são multimilionários.

Embora os “bens espirituais” da religião sejam importantes, também o são os bens reais do livre mercado. A Heritage Foundation, em seu Índice de Liberdade Econômica de 2019 nota que

As pessoas em sociedades economicamente livres vivem mais, têm mais saúde, protegem mais o meio ambiente e extrapolam os limites da ciência e tecnologia por meio de uma inovação maior.

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Economias consideradas “livres” têm renda duas vezes maior do que a média nos outros países e cinco vezes maior do que nos países cuja economia é considerada “fechada”.

A história mostra que a separação entre igreja e Estado é um princípio que ajuda o país a manter o progresso e a paz. A economia mostra que a separação entre o Estado e o setor privado deveria também ser sagrada.

© 2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês

*Kevin Baldeosingh é escritor.