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Lula e Fidel Castro no Palácio da Revolução, na capital cubana, em setembro de 2003.
Lula e Fidel Castro no Palácio da Revolução, na capital cubana, em setembro de 2003.| Foto: EFE/Enrique de la Osa

De tempos em tempos, alguém resgata a histórica (e controversa) entrevista concedida em 1979 pelo presidente Lula à revista Playboy. E o motivo é sempre o mesmo: sua admiração confessa por figuras nefastas como Hitler, Che Guevara, Fidel Castro, Mao Tsé-Tung e o Aiatolá Khomeini.

A conversa com o jornalista Josué Machado, que ocupou 13 páginas da edição de julho da publicação mensal da editora Abril, poderia ter ficado para trás e se tornado apenas um registro de outros tempos na vida do petista. Mas, 45 anos depois, Lula segue apoiando ditadores, autocratas e outros líderes sanguinários do mundo.

Essa atração pelo lado errado marcou os seus dois primeiros mandatos na Presidência da República e tem se acentuado no terceiro. Só em 2023, o ex-metalúrgico se encontrou com chefes de Estado de 13 (número sugestivo, não?) países com regimes questionáveis do ponto de vista da democracia ocidental.

A seguir, selecionamos os trechos da entrevista em que Lula fala desses “ídolos” perversos. E relembramos por que eles deixaram um legado de corrupção, pobreza e mortes.

Playboy – Há alguma figura de renome que tenha inspirado você? Alguém de agora ou do passado?

Lula – Há algumas figuras que eu admiro muito, sem contar o nosso Tiradentes e outros que fizeram muito pela independência do Brasil. (…) Um cara que me emociona muito é o Gandhi. (…) Outro que eu admiro muito é o Che Guevara, que se dedicou inteiramente à sua causa. Essa dedicação é que me faz admirar um homem.

A ação e a ideologia?

Não está em jogo a ideologia, o que ele pensava, mas a atitude, a dedicação. Se todo mundo desse um pouco de si como eles, as coisas não andariam como andam no mundo.

Inimigo da democracia e da imprensa livre, o argentino Ernesto Che Guevara (1928-1967) tomou o poder em Cuba, ao lado de Fidel Castro, às custas de uma lista infindável de crimes. Responsável por diversas execuções de adversários, ele também fundou campos de trabalho forçado e chegou a assumir, em uma carta para seu pai, que realmente gostava de matar.

Alguém mais que você admira?

O Mao Tsé-Tung também lutou por aquilo que achava certo, lutou para transformar alguma coisa.

Autointitulado “O Grande Timoneiro”, Mao Tsé-Tung (1893-1976) fundou a República Popular da China e a governou durante 27 anos (só deixou o poder ao morrer). Além de confiscar bens, aprisionar opositores e tentar apagar todo o passado cultural e religioso de uma nação, o ditador foi responsável por cerca de 70 milhões de mortes – muitas delas causadas pela fome.

Diga mais…

Por exemplo… O Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer.

Quer dizer que você admira o Adolfo?

Não, não. O que eu admiro é a disposição, a força, a dedicação. É diferente de admirar as ideias dele, a ideologia dele.

Estima-se que o austríaco Adolf Hitler (hoje comparado por Lula ao Estado de Israel) causou a morte de 12 milhões de pessoas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. E não perseguiu, confinou e exterminou apenas judeus: seus alvos também incluíam ciganos, homossexuais e indivíduos com deficiências físicas e mentais.

E entre os vivos?

O Fidel Castro, que também se dedicou a uma causa e lutou contra tudo.

Tirano de Cuba entre 1959 e 2008 (quando deixou o poder em função de problemas de saúde), Fidel Castro (1926-2016) é considerado o líder da ditadura mais letal das Américas. De acordo com um estudo coordenado pelo cientista político Rudolph Joseph Rummel (1932 - 2014) e publicado em 1987, o regime castrista pode ter matado entre de 35 mil a 141 mil cidadãos cubanos até aquele ano.

Mais...

Khomeini. Eu não conheço muita coisa sobre o Irã, mas a força que o Khomeini mostrou, a determinação de acabar com aquele regime do Xá foi um negócio sério.

No novo Irã, já foram mortas centenas de pessoas. Isso não abala a sua admiração pelo Khomeini? 

Ninguém pode ter a pretensão de governar sem oposição. E ninguém tem o direito de matar ninguém. (…) É preciso fazer alguma coisa para ganhar mais adeptos, não se preocupar com a minoria descontente, mas se importar com a maioria dos contentes. (...) Acho que o importante é fazer a coisa de forma que não sobre argumento para ninguém ser contra.

Em 1979, depois de destituir o xá pró-Ocidente Mohammed Reza Pahlavi, o aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989) fundou uma teocracia cujo legado ecoa em todo o planeta até os dias de hoje – vide o papel central do Irã na atual crise do Oriente Médio. Durante seus 11 anos de governo, o “líder supremo” da Revolução Islâmica acumulou um amplo histórico de violações dos direitos humanos, que incluíram prisões injustas, execuções, torturas e abuso sexual. Mais de 20 mil iranianos, a maioria jovens, foram mortos nesse período.

Entrevista de 1979 ainda traz declarações polêmicas sobre sexo, feminismo e política

“Luiz Ignácio da Silva, o Lula, tornou-se mais conhecido no país e no exterior do que muitos políticos ou artistas brasileiros. Essa fama, porém, só começou há pouco mais de um ano, quando os metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, em São Paulo, entraram em greve liderados por ele”, diz o texto de abertura da entrevista para a Playboy, que também conta com algumas histórias e opiniões no mínimo curiosas reveladas pelo futuro presidente, então com 34 anos.

Primeira vez

“Me iniciei com mulher, claro!  (...) Eu fui numa dessas casas em São Paulo, levado por um amigo. Achei bom para cacete (...) Mas naquele tempo a sacanagem era muito maior do que hoje. Um moleque naquele tempo, com 10, 12 anos, já tinha experiência sexual com animais. O mundo era mais livre.”

Feminismo

“Eu respeito as mulheres que pretendem lutar por sua independência. Mas não sei que tipo de independência elas querem. Se é sexual, se é no trabalho. (...) Não há condições de uma dona de casa, mãe de três filhos, ser feminista [referindo-se à mulher, Marisa Letícia].”

“Viuvinhas”

“Um dia, não sei por quê, contei a um taxista que eu era viúvo. Então ele me contou que tinha uma nora muito bonita, e que o filho tinha sido assassinado três meses antes do casamento. (...) E eu pensava: ‘Qualquer dia eu vou papar a nora desse velho’. (...) Nessa época a Marisa [Letícia, sua segunda mulher] apareceu no sindicato. Ela foi procurar um atestado de dependência econômica para internar o irmão. Eu tinha dito ao Luisinho, que trabalhava comigo no sindicato, que me avisasse sempre que aparecesse uma viuvinha bonitinha. Quando a Marisa apareceu, ele foi me chamar.”

Leitura

“Eu leio os jornais e converso muito. Aprendendo com o dia a dia, em contato com os problemas que a gente enfrenta. Eu ganho muitos livros, mas sou preguiçoso para ler. Quando muito, leio o prefácio, deixo para depois e acabo não lendo.”

Caetano e Gil

“Eu não gosto, não. Não é o tipo de música que me agrada. Mas acho que a música que eles fazem ajudou a modificar alguma coisa. Mexe muito com o pessoal mais jovem. Só que eu não perco tempo ouvindo.”

Um novo partido

“A gente quer criar um partido para todos os que vivem de salário, não só operários, mas para todos os que trabalham. (...) Tem uns companheiros que estão fazendo contatos (...). Com o Fernando Henrique Cardoso, o Chico de Oliveira, o Jarbas Vasconcelos... Senadores mais progressistas do MDB, o pessoal de atitudes mais coerentes. Mas nada definido ainda. Temos de conversar com várias pessoas para reunir um grupo disposto a organizar um partido onde a classe trabalhadora predomine.”

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