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Procrastinação, perfeccionismo e as fugas que nos distraem do essencial

A procrastinação pode criar um ciclo de ansiedade capaz de afetar a produtividade e o bem-estar.
A procrastinação pode criar um ciclo de ansiedade capaz de afetar a produtividade e o bem-estar. (Foto: Unsplash/Nubelson Fernandes)

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Conhecida no Reino Unido por suas aparições em programas de tevê e podcasts, a psicóloga e escritora Meg Arroll é especialista em desenvolver estratégias práticas e acessíveis para o enfrentamento dos desafios da vida moderna.

No texto a seguir, extraído de seu livro "Pequenos Traumas: Superando as Barreiras Emocionais que Afetam a Nossa Saúde Mental" (selo Vestígio), ela aborda a relação entre procrastinação, perfeccionismo e as fugas que adotamos para lidar com as pressões do dia a dia.

Ao mesmo tempo, a autora reflete sobre como transformar esses padrões em comportamentos mais saudáveis, oferecendo dicas para quebrar o ciclo de ansiedade e encontrar um equilíbrio entre produtividade e bem-estar.

É quase mais fácil explicar a procrastinação dizendo o que ela não é: não se trata de ser preguiçoso, ruim, incompetente ou descuidado.

Na verdade, normalmente é o exato oposto. Os procrastinadores entre nós são, em geral, bem conscienciosos, por medo de entenderem errado.

Embora possamos não ter consciência disso, lavar a louça, arrumar uma gaveta ou navegar pelas redes sociais é uma maneira de nos distrairmos da sensação incômoda de que talvez não sejamos bons o bastante e do medo de que logo todos descobrirão isso.

Assim, deixamos as tarefas até que nosso limite de estresse seja rompido, e nas últimas horas de um dia analisamos algo com os nervos à flor da pele, depois nos convencemos de que o projeto final está realmente péssimo, somos totalmente estúpidos e nem deveríamos estar na função. Soa familiar?

Mas, antes desse ponto, nosso querido procrastinador teria gastado uma quantidade excessiva de energia mental pensando no trabalho ou usando técnicas de distração para pensar em qualquer outra coisa.

Isso consome tal quantidade de recursos – físicos, mentais, emocionais – que o esgotamento profissional, conhecido como burnout, pode ser a única maneira que nosso organismo encontra para nos levar a tomar conhecimento desse comportamento inadequado: “Simplesmente não posso levar isso adiante!”, “Da próxima vez, não vou fazer isso, começarei cedo e não vou voltar a ficar nesse estado”.

Basta dizer que, se você for um procrastinador, as chances são de que se preocupe muito com o que estiver fazendo, em vez de não se preocupar o suficiente... o que significa que você pode estar se desviando para o purgatório que é o perfeccionismo.

A procrastinação pode ser boa?

O que você acha? Pode chegar a ser uma boa coisa adiar hoje o que pode ser feito amanhã?

Para alguns, isso poderia ser difícil de encarar, mas existem certas circunstâncias em que a procrastinação é uma coisa boa. A “procrastinação planejada”, ou o adiamento de tarefas, é, muitas vezes, uma estratégia muito benéfica.

Por exemplo, quantos e-mails ou mensagens você recebe por dia? Especialmente se fizer parte de um grupo de família ou de trabalho? Aposto que montanhas!

Você já tentou não responder a mensagens de grupo para ver o que acontece? O provável é que a vasta maioria de assuntos “urgentes” resolvam-se sem a sua contribuição. Mas no começo pode parecer difícil, porque você pode ser aquela pessoa-que-resolve do grupo.

Você até pode ter uma sensação enorme de pertencimento por ser a pessoa a quem os outros recorrem, e tudo bem, se isso não estiver lhe causando nenhum problema, tal como um burnout e uma exaustão.

A realidade que vejo toda semana na clínica é que esse padrão comportamental, conduz de fato a alguns sintomas bem desagradáveis. Mas você pode usar uma procrastinação planejada e inverter isso, e sinceramente é o que eu sugeriria para quem quer que sinta não ter tempo suficiente no dia.

Para algumas tarefas, pode haver uma razão lógica para esperar um tempo antes de prosseguir, tal como conseguir informação suficiente até tomar uma decisão, mas muitas outras não são tão vitais como parecem, de início.

Estou falando de e-mails. E textos. E mensagens. A maioria. Mas existem muitas outras microtarefas que não merecem a melhor parte do seu dia, como lavar roupa, lavar louça, inúmeros afazeres domésticos.

O motivo de nos agitarmos com esses tipos de funções é que nos sentimos bem quando algo é terminado, quando realmente completamos alguma coisa, por mais que seja trivial. Existe uma descarga mínima de dopamina quando as pilhas de roupa lavada são organizadas (sinceramente, como é que elas se multiplicam como Gremlins quando se joga água neles?), guardadas e tiradas da nossa frente, o que é muito difícil de replicar quando se tem em vista um relatório crucial de dez mil palavras, metas de vendas, análise de desempenho, e daí por diante.

Mas essa fome de realização é apenas acalmada por um tempo muito curto, depois volta rápido, uma vez que realmente não estamos fazendo qualquer progresso nas tarefas mais substantivas.

Uma maneira fácil de distinguir se alguns padrões são adaptativos, tal como um adiamento planejado, ou desajustado, é se colocar essas cinco palavras: “Em que isso lhe serve?”.

Se hesitar até certo ponto quando defronte a uma tarefa (estou falando de responder a todos os e-mails quando eles soam na sua caixa de entrada, no momento em que chegam!) significar que outra pessoa muito provavelmente responderá, então lhe dê tempo.

Nós sempre insistimos em como a tecnologia pode ser invasiva em nossa vida, mas indo mais a fundo é possível ver se nossa natureza de “resposta instantânea” está nos servindo ou simplesmente nos ocupando o bastante.

Essa pergunta de cinco palavras pode ser incrivelmente útil para todos nós, em nossas sociedades voltadas para resultados – aceitar que, talvez, um padrão de procrastinação-perfeccionismo não estava nos servindo da maneira mais proveitosa.

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Conteúdo editado por: Omar Godoy

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