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Se acreditarmos nos líderes progressistas, o coronavírus é o primeiro vírus na história humana a ter consciência social.
Se acreditarmos nos líderes progressistas, o coronavírus é o primeiro vírus na história humana a ter consciência social.| Foto: AFP

No começo da semana, a prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, deu uma notícia ótima: a cidade estava abrindo seu famoso Lakefront Trail [um calçadão à margem do lago Michigan] depois de meses fechado como parte do isolamento provocado pela Covid-19.

O fato de Lightfoot ter mantido o calçadão fechado mesmo depois dos grandes protestos do movimento Black Lives Matter — com milhares de pessoas durante a “Marcha Drag por Mudança” — é só um caso da hipocrisia explícita do distanciamento social em todo o país nas últimas semanas.

Se não há nada de mau no fato de milhares de pessoas encherem as ruas protestando contra a morte de George Floyd, então as pessoas deveriam poder andar de bicicleta às margens do lago. Na verdade, a primeira atividade envolve a interação contínua de pessoas umas com as outras, e até em brigas com a polícia, enquanto a outra é uma atividade solitária ou realizada ao lado de um amigo ou cônjuge.

Sim, a prefeita Lightfoot celebrou os protestos — “Queremos que as pessoas expressem aquilo pelo que são apaixonadas”, disse ela — mas ainda assim manteve o calçadão fechado.

Muitas autoridades que demonstraram zelo ao fecharem seus estados ou cidades abriram uma exceção para os protestos do movimento Black Lives Matter. A rigidez dele se transformou em leniência num piscar de olhos. A justificativa deles para a reabertura não foi nenhuma orientação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças nem qualquer outra medida de saúde pública, e sim a “consciência social” da atividade em questão.

Visitar um ente querido com Covid-19 em seu leito de morte? De jeito nenhum. Realizar um funeral decente? Nunca. Reunir umas dez pessoas no cemitério? Não se pode permitir que ninguém coloque as pessoas em risco dessa forma.

Reunir milhares de estranhos para que eles marchem juntos durante horas em aglomerações espontâneas e desordeiras? Obrigado por seu comprometimento com a mudança positiva.

Frequentar a igreja? Bom, talvez daqui a alguns meses.

Organizar um movimento com um quê de religião no qual as pessoas confessam seu racismo e prometem trabalhar para desfinanciar a polícia? Sim, por favor, queremos mais!

A nada séria governadora Gretchen Whitmer, do Michigan, se disse profundamente incomodada com um protesto contra suas regras arbitrárias de isolamento, ainda que esse protesto tenha consistido em pessoas fazendo uma carreata ao redor da sede do governo. Ela previu cenários catastróficos de um surto de Covid-19. Isso não impediu que ela, no começo do junho, participasse de uma marcha contra a brutalidade policial com centenas de pessoas aglomeradas, explicando que era importante que ela demonstrasse seu apoio.

A sinalização da virtude é hoje uma atividade essencial em Michigan.

Se acreditarmos nos líderes democratas, o coronavírus é o primeiro vírus na história humana a ter consciência social — letal o bastante para justificar medidas as mais restritivas, mas nem tão perigoso a ponto de atrapalhar as marchas por justiça social.

Pessoas como o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, justificam os padrões diferentes dizendo que a luta contra o racismo é importante. Bom, também é importante enterrar seus mortos, impedir a destruição da sua empresa e adorar o seu deus. É de uma hipocrisia ridícula acreditar que um protesto é mais relevante do que outras necessidades humanas básicas.

Outro argumento é o de que os manifestantes estão dispostos a arriscar a própria saúde em nome da causa, sinal de sua devoção. Mas até bem pouco tempo dizia-se que as pessoas que saiam de casa não estavam colocando em risco apenas a própria saúde, e sim arriscando a saúde dos mais vulneráveis em nossas comunidades. Por que isso não serve para os protestos do movimento Black Lives Matter também?

Não espere coerência e nem uma tentativa séria de demonstrar coerência. Mais de mil especialistas em saúde pública assinaram uma carta considerando os protestos “essenciais para a saúde pública nacional”, imolando, assim, sua credibilidade numa pira de ativismo. O distanciamento social vale para pessoas e atividades que eles consideram inadequadas; para seus aliados ideológicos as regras são completamente diferentes.

Isso é o que chamo de uma traição desprezível da confiança do povo.

Rich Lowry é editor da National Review.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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