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Em Seattle, cada vez mais os funcionários públicos acreditam que políticas identitárias e a “luta contra a opressão” faz parte de suas atribuições.
Em Seattle, cada vez mais os funcionários públicos acreditam que políticas identitárias e a “luta contra a opressão” faz parte de suas atribuições.| Foto: Pixabay

O problema dos moradores de rua em Seattle virou crise. Apesar de gastos públicos e privados de mais de US$1 bilhão no condado de King County, nunca houve tantas pessoas morando nas ruas (problema que provavelmente vai ficar ainda pior, depois da recusa da Suprema Corte de tratar do assunto dos acampamentos nas ruas). Mas em vez de se ater às causas da mendicância — vício em drogas, doenças mentais e colapso social — os progressistas da administração local têm travado uma guerra contra as forças abstratas da opressão.

Recentemente, os líderes da reação aos moradores de rua em Seattle e no condado de King organizaram sua conferência anual, que tinha por tema “A Descolonização do nosso Trabalho Coletivo”. De acordo com os organizadores, a principal responsabilidade do governo na redução dos moradores de rua é “questionar as atuais estruturas do poder” e “analisar o legado do racismo estrutural em nosso sistema e coplanejar um caminho rumo à libertação dos negros, nativos, pardos e outras comunidades marginalizadas”.

A diretora executiva do programa para moradores de rua do condado de King, Kira Zylstra, usou dinheiro dos pagadores de impostos para contratar uma stripper trans para se apresentar durante a “hora cultural” da conferência. De acordo com o Seattle Times, a stripper, chamada Beyoncé Black St. James, “dançou com os seios amostra num traje justo, rebolou no colo e beijou os que estavam presentes”. A plateia – formada por representantes de agências governamentais e instituições sem fins lucrativos financiados com o dinheiro dos pagadores de impostos — aplaudiam, gritavam e davam cédulas de dólares para St. James.

O episódio ajuda a ilustrar uma tendência cada vez maior em Seattle: funcionários públicos que veem seu trabalho como uma parte de uma pauta maior de mudança social radical. Nos últimos cinco anos, a cidade de Seattle contratou vários funcionários com base na “diversidade, igualdade e inclusão”. Christopher Peguero, por exemplo, gerente do programa de igualda da Seattle City Light, vê seu papel como algo que vai além de fornecer eletricidade aos consumidores. Como explicou Peguero numa entrevista recente ao blog da prefeitura, os serviços públicos podem ser instrumentos essenciais na luta contra a supremacia branca. “A raça é fundamental para se resolver a opressão institucional por conta da desigualdade histórica nos Estados Unidos”, diz ele. “Sinto que um modelo inclusivo é a única forma de alcançarmos a libertação coletiva da opressão institucional”.

A Força-Tarefa de Estudos Étnicos das Escolas Públicas de Seattle lançou um novo currículo de matemática com base na ideia de que o modelo “ocidental” de educação “marginaliza pessoas e comunidades de cor” e legitima “sistemas que contribuem para a pobreza e o trabalho escravo”. A fim de combater essa injustiça, a força-tarefa argumenta que as escolas precisam fazer a transição “de um pensamento individualista para um pensamento coletivista” e implementar um novo currículo matemático que vai “libertar os povos e comunidades de cor”. Tracy Castro-Gill, líder do programa de Estudos Étnicos, se identifica como uma “ativista-professora” e se dedica a radicalizar alunos em todo o distrito com a ideia de que “a matemática é um instrumento de opressão”. Além disso, ela trabalha como conselheira do programa de defesa da educação do Centro de Direito dos Pobres.

A política identitária se tornou parte dominante da ortodoxia cultural da esquerda contemporânea, e ela se multiplica com eficiente em toda a burocracia pública. Não existe nenhuma forma de strippers trans reduzirem os moradores de rua, de serviços públicos racialmente conscientes combaterem a supremacia branca ou de um currículo de “resistência de libertação” aumentar as notas em matemática. Mas o salário é bom: Zylstra recebe US$123 mil por ano no programa habitacional do condado, Peguero recebe US$104 mil na Seattle City Light e Castro-Gill recebe US$108 mil por ano da Secretária de Escolas Públicas de Seattle.

Os funcionários públicos/ativistas pagos com o dinheiro do Estado estão entranhados no governo, são protegidos por poderosos sindicatos e contam com o apoio da cultura política. Depois do episódio com a stripper trans, Zylstra foi posta em licença remunerada, mas só acabou demitida depois da divulgação de um vídeo. Castro-Gill, a agitadora por trás do currículo que diz que “matemática é racista”, foi reconhecida como Professora do Ano. E Peguero, apesar de várias publicações racialmente incendiárias em suas redes sociais, continua trabalhando para a Seattle City Light.

Se os progressistas querem mesmo “questionar as estruturas de poder”, eles devem olhar para si mesmos. Os progressistas controlam Seattle há uma geração, mas fingem ser “pessoas de fora” lutando contra as forças da “opressão institucional” e o “racismo estrutural”. A administração municipal emprega mais de 10 mil funcionários, todos sujeitos a um rigoroso treinamento em diversidade e pensamento politicamente correto. Apesar de, aqui e ali, um fiasco de relações públicas, os progressistas não parecem prestes a se desapegar da cultura política de Seattle.

Christopher F. Rufo é editor colaborador do City Journal, documentarista e pesquisador no Discovery Institute’s Center on Wealth & Poverty.

© 2019 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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