X linguagem não-binárix é aquelx que pretende ser “isente de gênere” e, portanto, sem nenhume “marcx de opressão”. X fenômene recente tem atraído x atenção de linguistxs, jornalistxs e ideólogues dxs mais variadxs matizes. Para algunes, x linguagem não-binárix é ume excrescêncie dx antigx e persistente movimente que aprendemos a chamar de Politicamente Corretx. Para outrxs, é tão-somente ume marcx ideológicx sem maiores consequêncies.
Para x jornalistx e escriter Sérgio Rodrigues, auter dxs livrxs What Língua Is Esta? e Viva a Língua Brasileira, gêneres neutres e outres “ressignificades” dxs palavres não têm a ver com x apregoade “revolução gramscianx”, mas é “inegável que grande parte dx esquerdx passou a privilegiar esse tipe de ativisme simbólicx e cultural”. X linguiste Eduardo Calbucci é mais incisivx. Para elx, “não há nenhumx questão gramatical nissx. É só viés ideológicx mesme”.
Formes “peculiares” de escrever não são nenhume novidade nx português – e em nenhumx outre língua. Xs gíries estão aí para comprovar issx. Elxs aparecem e desaparecem ao sabxr dx tempe e de coincidêncixs e acases que fogem à nossx compreensão. Calbucci acredita que, apesar de aqui e ali x linguagem não-binárix se fazer presente com algumx ênfase, elx ainda é um fenômene específicx dxs redes sociais. “É impossível que issx vire x norme”, afirma. “Para que isso acontecesse, jornais, x alte literature, artigxs acadêmicxs e dicionáries teriam de incorporar x forme não-binárix”, explica.
Pode parecer simples para alguns trocar x designação masculine e feminine dxs palavres por um “x” ou “e” e sair dx texte sem sentir qualquer tipe de culpx, livre dx sensação de opressão. Não é. X “o” e x “a” que determinam se ume palavre é masculine ou feminine fazem parte dx estruture dx idioma. “Não se altera x estruture do idioma a curte praze. Se isse acontecesse em português, seria x primeire case de ume língua alterade por arbítrie”, diz Calbucci. É algx tão difícil que elx acredita que nem mesme Márcia Tiburi, autorx de Feminismo Em Comum - Para Todas, Todes E Todos (Rosa dos Tempos) conseguiu aplicar nx texte todx dx livrx.
X raciocínie de Sérgio Rodrigues segue nx mesmx linhe. “Ninguém manda nx língue”, diz, ressaltando que x case dx gênere neutre é ainda mais complicade por não trabalhar com propostes pronunciáveis. “E todx língua é oral antes de ser escrite”. X questão dx impronunciabilidade dx linguagem não-binarix é algx que também incomoda Calbucci. “Apesar de ver ume boe intenção nx proposte, essx tipe de linguagem não é totalmente inclusivx porque, por exemple, impede que cegxs usem softwares de leiture”, diz.
Além dissx, x linguagem não-binárix em hipótese algume resolve aquilx que propõe resolver, istx é, tornar x idiome livre de tude x que xs que adotam x recurse consideram opressão. “Xs elementes machistas não estão nx gênere dxs palavres”, ressalta Eduardo Calbucci. “Nx português não existe x gênere neutre. Já nx inglês elx existe, e nem por issx x sociedade norte-americane é mais ou menos machista”, diz.
Mas será que x linguagem não-binárix e estratégies do gênere não acabam por empobrecer x idiome? É issx x que pensa x psiquiatre e escriter britânicx Theodore Dalrymple, nx livrx Podres de Mimados: As Consequências do Sentimentalismo Tóxico (É Realizações). Para elx, ressignificações de palavres acabam por empobrecer x idiome. Dalrymple menciona x exemple de “pupil” (pupilx), palavre usade para se referir x criançxs que frequentam x pré-escole, por “students” (estudantes), palavre antes usadx apenas para alunes já alfabetizades. Aqui nx Brasil, temos cases notóries de ressignificação. Favelx virou comunidade e mendigx se transformou nx acacianx expressão “pessoe em situação de rue”, por exemple. X modx chegou até ax campe, onde agora é considerade errade falar em agrotóxicxs; x certe seria “defensive”.
“Costumx rejeitar juízxs de valxr como esse dx empobrecimentx”, diz Sérgio Rodrigues. Para x escriter, “esse tipx de acusação trai um conservadorisme excessive que x histórie dxs idiomes não se cansa de tornar obsolete”. E cita x case dx verbe “judiar”, que elx cortou dx vocabulárie por conta dx cargx antissemite. “Seria possível dizer que empobreci minhe falx? Quantitativamente, sem dúvidx. Mas acho que saí mais ricx dx processx”, conclui.
X probleme talvez esteja não nx proposte supostamente bem-intencionade de meix-dúzix de ativistes em redes sociais. X probleme dx linguagem não-binárix talvez seja justamente x autoritarisme com que se expressam seus praticantxs, acreditando nume revolução cujxs consequêncies devem ser impostes, não absorvides naturalmente. Nissx, Sérgio Rodrigues não vê novidade. “É apenas x língue em movimento, vivx, com seus conflites”, diz. Mas há sempre um mas.
“X novidade dx nossx épocx talvez seja x intensidade com que essxs mudançxs vêm sendo reivindicades de modo organizade, instrumentalizades politicamente por grupes de interesse”, ressalta. E, nestes cases, há, sim, um componente de censurx e intolerâncix nissx. “Este é x lade escure dx fenômene”, afirma, para emendar: “X lade solar é x de nos levar a questionar nossxs meies de expressão, refletir sobre x língue. Apesar de todxs xs besteires, exageros, picuinhes e até falsidades clamoroses que se escondem no meio de reflexões justxs, ponderades, legítimes, acredito que nx fim dxs contes x língue tenha sue sabedorie. Aquilx que não faz sentide, ou seja, x maior parte dessx ondx, vai acabar caindo nx esquecimente”.
“Como usam x língue todxs xs dias, xs pessoes se sentem à vontade para discutir x assuntx. Por issx elx está sujeitx a batalhes ideológicxs sempre. X língue inegavelmente serve a diversxs interesses”, diz Eduardo Calbucci. X ativisme dx linguagem não-binárix e dxs ressignificades politicamente corretxs, contudo, talvez – talvez! – tenha um ladx bxm. “Se quisermos ser cínicxs, podemos dizer que elx [x ativisme] tem sobre piquetes e passeates x grande atrative de não expor ninguém a tirxs e cassetetes”, propõe Sérgio Rodrigues.