Manifestantes criticam as políticas do presidente Donald Trump sobre imigração do lado de fora do Suffolk Community College, onde o presidente Trump discursava, em 28 de julho de 2017, em Brentwood, Nova York| Foto: SPENCER PLATT/ AFP

É fácil perder o foco, entre os perigos e defeitos da presidência de Donald Trump, desse sucesso real em um problema central. 

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Trump fez uma aposta corajosa contra imigração na sua campanha em 2016. Aquela aposta teve dois componentes. Primeiro, Trump calculou que um grupo com grandes motivações anti-imigração do Partido Republicando poderia ser a base de uma campanha vitoriosa. Segundo, ele apostou que a maioria dos americanos, que expressava uma visão muito mais positiva de imigrantes, incluindo os não documentados, não corresponderia à intensidade dos contrários a imigração. 

Como resultado, Trump calculou que ele poderia alavancar as políticas de imigração do mesmo jeito que republicanos tem há muito tempo alavancado as políticas de armamento: atraindo a extrema direita e ignorando o centro. 

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A campanha provou que Trump estava certo

No seu governo, prisões por agentes de imigração aumentaram, e a disposição para aceitar imigrantes não documentados que moram no país há muito tempo, levando vidas exemplares, diminuiu muito. Quase todos os imigrantes não documentados agora são alvos federais. 

“Nós costumávamos enxergar as coisas através das circunstâncias totais quando se tratava de ordens de remoção – isso não existe mais”, um agente de imigração veterano contou para Jonathan Blitzer, da New Yorker, sob a condição de se manter anônimo. O agente continuou: 

“Eu não sei se existe uma avaliação da esfera total do que estamos fazendo. Não é só uma pessoa que está sendo removida. É a sua família inteira. As pessoas falam ‘Ora, eles se colocaram nessa posição porque entraram aqui ilegalmente’. Eu entendo isso perfeitamente. Mas precisamos lembrar que não é nosso trabalho julgar. O problema é que agora muitas pessoas se sentem livres para demonstrar satisfação com isso.” 

Estatísticas mostram um apoio amplo e consistente a imigrantes. A empresa de pesquisas de opinião Gallup mostra regularmente que mais americanos apoiam o volume atual de imigração ou um volume maior, e não uma diminuição. Imigrantes que entraram nos EUA ainda crianças, chamados Dreamers, cuja condição Trump se recusou a resolver, são muito populares. A maioria dos americanos apoia um atalho para legalizar a situação dos imigrantes não documentados vivendo nos EUA. Mais americanos acreditam que imigrantes ajudam a economia do que dizem que eles prejudicam. 

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Os sentimentos coletivos refletidos nessas pesquisas com certeza são reais. Mas Trump provou que a intensidade de um sentimento pode ser mais importante do que o seu volume. Os americanos não foram às ruas em volume grande o suficiente para impedir que mães e pais trabalhadores sejam deportados. Americanos comuns não estão impedindo a generalização do governo Trump. 

“Quando adicionamos essas medidas a outras – o impedimento de imigrantes muçulmanos, refugiados e, em breve, uma pressão para diminuir a imigração legal pela metade ao eliminar categorias de reunificação familiar que beneficiam especialmente asiático-americanos – temos um conjunto de políticas projetadas para fazer o seguinte: deportar latinos, barrar asiáticos e banir muçulmanos”, diz o defensor pela imigração Frank Sharry. 

“Esse grupo não só parece decidido a reformular o nosso sistema de imigração para que não sejamos mais uma nação acolhedora, mas também parecem decididos a refazer a composição étnica e racial do país. Posso dizer? Isso é uma agenda de nacionalismo branco.” 

Esse talvez seja também o elemento de maior sucesso desse primeiro semestre lamentável de Trump no governo. Alguns agentes de imigração, como o que foi citado pelo New Yorker, podem estar pouco à vontade com a nova agressão contra os imigrantes não documentados. E muitos americanos prefeririam não separar pais de seus filhos ou cônjuges americanos. Mas até agora, a reação negativa foi confinada ao que para Trump é uma minoria manobrável

Trump vem contando com a passividade americana para se manter no poder. Até agora, tem funcionado para ele.

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*Wilkinson escreve editoriais sobre política para a Bloomberg View. Ele já trabalhou para a Rolling Stone, foi consultor de comunicação e estrategista de mídia política.

Tradução de Andressa Muniz