| Foto: Reprodução do livro Design do Século 20, Taschen

Um objeto desafiante para os designers

Se para alguns consumidores a chaise-longue é um objeto de desejo, para os profissionais do design o móvel é um desafio, principalmente no quesito versatilidade. Feita para relaxar, o móvel precisa cumprir sua função com pessoas de todos os pesos e tamanhos. "Essa questão da ergonomia é, definitivamente, instigante", diz a arquiteta e designer Flávia Pagotti Silva, autora da chaise Paulistana, ganhadora do selo IF Design Awards de 2007 e fã da peça de Le Corbusier. "Ela é minha referência até no que diz respeito às medidas porque, além de linda, é super confortável."

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A chaise-longue (cadeira longa em francês), também conhecida pelas expressões inglesas long-chair ou ainda pela brasileiríssima espreguiçadeira, nasceu dos móveis de descanso de civilizações antigas, as "daybeds" ou divãs do Egito, Grécia e Roma. Mas só deixou a sua marca no imaginário popular a partir das peças da Corte francesa da época de Luís 15 e Luís 16, explica o designer paranaense e crítico da área Ivens Fontoura. Nesse período, o móvel recebeu influências de movimentos como o rococó (caracterizado pelo mobiliário cheio de entalhes e detalhes delicados), sempre instalado em partes mais íntimas dos palácios, em quartos e salas privadas.

"Mais tarde, já no século 20, foi a vez do arquiteto francês Le Corbusier (ou Charles-Edouard Jeanneret-Gris) eternizar a imagem de sua chaise-longue", comenta Fontoura. A cadeira, criada com a colaboração de Charlotte Perriand e Pierre Jeanneret e exposta no Salão de Outono em Paris, em 1929, é feita com estrutura de metal e revestimento de couro.

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Reeditada mais tarde pela fabricante italiana Cassina e copiada ao redor do mundo, a chaise-longue de Le Corbusier é também um símbolo do chamado "estilo internacional". A definição é do diretor do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque durante a década de 1930, Alfred H Barr Jr, sobre as criações de arquitetos e designers oriundos do Movimento Moderno e seguidores específicos de Le Corbusier que, no período pós-fechamento da Bauhaus (escola alemã do movimento), fugiram um pouco da forma utilitária (com o pensamento de que uma cadeira serve para sentar e ponto) para dar um ar despojado a suas obras.

No livro Design do Século 20, de Charlotte e Peter Fiel e edição da Taschen (editora especializada em livros de arte), são citados nesse período, junto com Le Corbusier, nomes como Walter Gropius e Ludwig Mies van der Rohe. Mais tarde outros profissionais, como Charles Eames e Florence Knoll, combinaram esse design livre com métodos de produção industrial. Eames e outros, como Eero Saarinen, foram capazes de ir além e dar formas esculturais às suas criações – como mostra a La Chaise, cadeira de 1948 de Charles e Ray Eames –, diferentemente de outros designers que seguiram o movimento do Brutalismo, marcado pelas formas geométricas e materiais rígidos.

Desde então cada chaise-longue criada por um arquiteto ou designer famoso ganha traços inconfundíveis e um status de objeto de desejo. Colocada em um cantinho da sala, quarto ou mesmo escritório, uma chaise-longue de design assinado rouba a cena, deixa o ambiente descontraído e, ao mesmo tempo, original. Mas todo esse charme exige espaço.

No Brasil, segundo a professora de História do Mobiliário, do curso de Design de Interiores do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Sueli Garcia, o móvel está muito mais ligado à indústria do estofado, que tem feito da chaise-longue uma parte do sofá, facilitando a sua colocação em imóveis cada vez mais compactos. "Levamos um bom tempo para nos acostumar com a ociosidade, exercício que vem da Grécia. A indústria dos estofados é muito mais detentora da divulgação dessa peça na sala de estar, porque nossos espaços urbanos hoje têm reduções que dificultam suportar uma chaise-longue, dependendo do segmento social e do poder aquisitivo."

Veja a seguir algumas das peças, inclusive brasileiras, que marcaram o século passado ou arrebataram os principais prêmios de design nos últimos anos:

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Foto 1 - Chaise-longue Le Corbusier em estrutura de metal e revestimento de couro. Criada em 1928 por Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand, para a fábrica austríaca Thonet.

Foto 2 - Chaise-longue Modelo 43, do arquiteto finlandês Alvar Aalto. A cadeira foi criada para sua fábrica, a Artek, em 1936.

Foto 3 - Chaise Paulistana, da arquiteta e designer brasileira Flávia Pagotti Silva. Feita com tiras de madeira de demolição de peroba com base de aço. Ganhou o iF Design Awards de 2007. Preço: a partir de R$ 10.429 na Momentum&Design.

Foto 4 - Chaise-longue Anelídeos, da designer brasileira Eulália Anselmo, produzida pela Prima Design. Feita em tiras de EVA (tipo de borracha) e estrutura de inox. Pode ser usada no solo ou na piscina. Preço médio: R$ 4 mil.

Foto 5 - La Chaise, de Charles e Ray Eames. Criada para um concurso do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em 1948, e fabricada pela marca suíça Vitra.

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Foto 6 - Chaise Zonza, do designer brasileiro Eduardo Baroni. O móvel foi um dos finalistas do 22º Prêmio Design do Museu Casa Brasileira. É feito em madeira e funciona como uma cadeira de balanço também. Preço médio: R$ 2.700.

Foto 7 - Chaise Rippa, do designer brasileiro Marcus Ferreira, produzida com madeira e tecido de linho branco. Foi ganhadora do IDEA Design Award de 2008. Preço: R$ 9.935 (modelo 1x1,30) na Momentum&Design.