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Bernadete Brandão é especialista em ecodesign e presta consultoria para indústrias | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Bernadete Brandão é especialista em ecodesign e presta consultoria para indústrias| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Água da chuva para lavar carro serve de exemplo

Um condomínio de 112 apartamentos em fase de acabamento no bairro Cachoeira, no limite de Curitiba com o município de Almirante Tamandaré, será entregue em junho deste ano com um lava-car exclusivo para os moradores – que funcionará com sistema de reutilização de água da chuva. Esse é um dos detalhes do residencial Colinas Cachoeira nos quais se aplica o conceito de sustentabilidade – foco da construtora Con­­ceito & Moradia.

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A construção civil é responsável pelo consumo de 50% da água e da energia disponível no planeta. O dado é do Green Building, entidade internacional certificadora de cons­­truções sustentáveis. Aço, vidro, madeiras, mármores, argilas, cimentos, gessos estão entre os principais elementos que compõem as casas das pessoas e utilizam estes recursos naturais. Um índice grave, na opinião da ecodesigner Berna­dete Brandão, especialista em sustentabilidade e diretora da Uia EcoDesign, de Curitiba, que presta consultoria para indústrias."Somos quase 7 bilhões de pessoas e, desse total, 4 bilhões ainda necessitam de casas. Quantos planetas serão necessários, se 50% dos resursos são consumidos para essa área?", questiona.

Em entrevista à Gazeta do Povo, a ecodesigner fala sobre a importância de profissionais de decoração, arquitetura e engenharia aderirem ao conceito de sustentabilidade, e também sobre a necessidade de cobrança, por parte dos consumidores, por esse tipo de produto. Confira os principais trechos.

Como é, na prática, esse trabalho de consultoria?

Trabalhamos com profissionais da área de decoração e arquitetura para que ele entendam como po­­dem utilizar peças, piso e tinta de maneira e economizar recursos. Todos os elementos podem ser adaptados. Mas ainda faltam muitos produtos com esse conceito e há muito o que se adaptar. Um obstáculo enfrentado é que certificar custa caro, então comprar o produto de origem certificada custa mais. No entanto, se conseguirmos fazer a cadeia acontecer mais rápido, ou seja, os consumidores comprarem mais, o preço cairá. Por isso treinamos equipes de vendas para explicar sobre sustentabilidade.

Como o consumidor pode entender por que determinado móvel é mais caro?

Trabalho muito com cadeias produtivas naturais, como bambu, vi­­me, madeiras de manejo e algodão. Fazer a transformação disso é um processo longo. Na cadeia da ma­­deira, a área é dividida em 36 lotes, então a cada 36 anos volta-se ao mesmo lugar. Tira-se uma árvore a cada dez ou 15 anos e o conjunto fica – e a biodiversidade não se modifica. Com isso, há mais entrada de luz na floresta, a semente cresce novamente, e é "plantada" por passarinhos e animais. Fazer seleção, medir árvore por árvore, identificar espécies, marcar a data em que se passou por ali, marcar a idade, tudo isso exige uma equipe e custa.

Como é o processo de adaptação de uma empresa?

São pelo menos três anos. O olhar sobre a sustentabilidade traz no­­vo resultados estéticos e de utilidade. Para elaborar estratégias, é preciso primeiro pensar em como evitar a pressão sobre o planeta, depois sobre processo produtivo, o que fazer com resíduos, como desenhar produtos que gerem processo econômico e como pensar nas comunidades do entorno. Uma pessoa compra um móvel na cidade e não sabe como está o local onde foi obtida a madeira. Quando se compra aço ou alumínio, ninguém se per­­gunta como foi produzido esse material.

O que pode ocorrer se as indústrias continuarem trabalhando da mesma forma?

As previsões são claras. Há diversas estimativas de que a água acabará em 10 anos e o ar puro, em 30 anos. Não precisamos nem projetar isso, porque já está acontecendo. O que aconteceu aqui na Mata Atlântica, em Morretes, de o rio perder a margem e as montanhas desabarem, é resultado da ação do homem. A chuva sempre acontece na mesma época, tirar floresta da Mata Atlântica, cadeias e montanhas, logicamente gerará erosão. Fazer buracos para captação de aço, cimento, materiais para o vidro, cerâmica, tudo gera erosão.

Qual a importância de adquirir produtos sustentáveis?

O consumidor é muito imediatista e não percebe o longo prazo. Mas ele precisa se conscientizar de que é a força para fazer a mu­­dança. Ele pode exigir que as cons­­truções sejam ecológicas e sustentáveis, assim como os móveis. Pequenas ações, como captação de água da chuva, são sistemas ba­­ratos e muito possíveis.

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