
Casas térreas de padrão econômico, com metragem entre 49 e 63 metros quadrados, são o carro-chefe do mercado imobiliário de São José dos Pinhais. São imóveis direcionados a famílias com renda até dez salários mínimos, cujos integrantes da família prestam serviços nas fábricas e outras empresas adjacentes, e que procuram o primeiro imóvel com preço de até R$ 100 mil. As casas, que têm geralmente dois quartos, área de serviço, cozinha, sala e um banheiro, ficam dentro desse valor: entre R$ 76 mil e R$ 92 mil. É uma média de metro quadrado valorizado, entre R$ 1.400 e R$ 1.500. Bairros como o Borda do Campo, nos arredores da fábrica da Renault, e São Marcos, no entorno da Audi, são repletos dessas construções, que não ficam vazias por muito tempo.O motorista Leandro Valério Perez, de 26 anos, e sua esposa, a auxiliar de produção Janete, acabaram de comprar uma casa assim no São Marcos. Ele trabalha em Curitiba, mas a esposa trabalha em São José dos Pinhais. "Cheguei a procurar imóveis desse tipo em Curitiba, mas encontrei as melhores opções aqui", conta Leandro. A casa de 60 metros quadrados e dois quartos é o primeiro imóvel do casal e é financiado pela CEF por meio do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida. É também pelo mesmo programa que a contadora Delizete Guerreiro, de 37 anos, conseguiu comprar a sua primeira casa, do mesmo padrão da de Leandro, só que no bairro Jardim Cruzeiro, mais próximo ao centro de São José dos Pinhais, e um pouco mais cara. "Após a avaliação do meu cadastro consegui um subsídio de R$ 15 mil na compra da minha casa, cujo valor era de R$ 100 mil (preço que é o limite do programa com exceção de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, onde valor máximo é de R$ 120 mil)", conta Delizete, que mora em São José dos Pinhais há nove anos.
"Os lotes dessas regiões se valorizaram, passaram de cerca de R$ 15 mil há alguns anos para R$ 40 mil a R$ 50 mil hoje", diz o delegado distrital do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Paraná (Creci-PR), Dilermando Aniceto Eleuterio. Segundo ele, uma das razões para a valorização dos terrenos é a inexistência de novos loteamentos na cidade nos últimos quatro anos.Dados do Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar), órgão do Sindicato da Habitação e Condomínios (Secovi-PR), indicam que os terrenos tiveram uma valorização média de 51% passaram de R$ 163 o metro quadrado em agosto de 2008 para R$ 246 em agosto deste ano. "Todos os imóveis valorizaram entre 20% e 25%, em média", avalia o vice-presidente de Lançamentos, Compra e Venda do Secovi-PR, Paulo Celles. Entre as casas de três quartos usadas a valorização foi de 27% (passou de R$ 1.043 para R$ 1.322 o metro quadrado).
Foi justamente uma oferta de moradia desse tipo que atraiu a família da dona de casa Roseli Maria Marques de Lima para São José dos Pinhais. Ela, o marido Hamilton Rodrigues de Lima, aposentado, uma filha e duas netas, se mudaram do bairro Boqueirão, em Curitiba, há cerca de dois anos, para uma casa de 120 metros quadrados e quatro quartos usada, no bairro Afonso Pena, próximo do aeroporto. "Eu e meu marido optamos pelo município pela tranquilidade de cidade do interior. Nos dois anos que estou aqui não sinto falta de nada. Tenho escola e farmácia na esquina de casa. Só vou a Curitiba, que fica a 20 minutos de ônibus, para comprar roupas e calçados. Isso mais por costume, do que por falta de opção."
Os clientes que vêm de bairros como Boqueirão e Uberaba, de Curitiba, para São José dos Pinhais foram fatia importante no sucesso de vendas do Viver Bosque, conjunto de prédios da construtora e incorporadora Inpar que será construído no bairro Afonso Pena. "São José dos Pinhais virou uma boa opção de moradia para a classe média, com imóveis de bom custo/benefício impulsionados pelo Minha Casa, Minha Vida", afirma Paulo Celles. "Das quase 750 unidades dos apartamentos de dois quartos, com metragem entre 42 e 55 metros quadrados, do Viver Bosque, restam apenas 200 unidades", aponta o diretor de atendimento da imobiliária Lopes, uma das responsáveis pelas vendas do empreendimento, Luiz Augusto Brenner Rose.
"Outra construtora focada no primeiro imóvel, a MRV, também fará um lançamento na cidade", adianta o superintendente da Apolar Imóveis, Michel Galiano.
O gestor executivo de vendas da construtora mineira, Marcelo Alisson, confirma a intenção. "Compramos um terreno no Jardim Veneza, onde pretendemos, em 2010, lançar um empreendimento com 170 unidades com faixa de preço dentro do Minha Casa, Minha Vida (até R$ 100 mil)."
Os apartamentos novos de segmento econômico na cidade estão girando em torno de R$ 1.800 a R$ 1.900 o metro quadrado valor que se equipara ao preço inicial de apartamentos novos em Curitiba. Já os usados de três quartos, pelos dados do Inpespar, estão em R$ 1.458 o metro quadrado, 19% a mais do que em 2008.
Médio e alto padrões
Em alguns bairros de São José dos Pinhais é possível avistar construções individuais de casas de padrão médio, entre 100 e 200 metros quadrados. Um desses locais é a Boneca do Iguaçu, bairro colado ao Afonso Pena. Nas quadras próximas do rio, local que é chamado por Monte Líbano, terrenos são comercializados em meio a lotes com tapumes com obras a todo o vapor. Nomes de empresas de engenharia se repetem nas placas. Esse é o caso da Maxiprojetos, empresa que projeta e executa obras residenciais da engenheira civil Ana Luiza Harumi Besch. "Ali são cerca de 500 lotes que começaram a ser ocupados há quase três anos. Cerca de 150 ainda estão vagos". Ela diz que os moradores são famílias de São José dos Pinhais e de bairros de Curitiba como o Uberaba. "São famílias que moravam em sobrados com pouco espaço e mudaram para lá, em uma casa maior, com quintal, mais tranquilidade e qualidade de vida". Bairros como o Jardim Cruzeiro e o Aristocrata (onde antes só havia casas de alto padrão) estão com construções de padrão médio.
Dentro do alto padrão há o condomínio de 33 casas Vinhas San Tièra, da construtora L. Vignatti que se diz um dos primeiros empreendimentos de alto padrão do município. "São casas entre R$ 380 mil a R$ 400 mil voltadas para empresários e executivos que não vêem mais sentido em morar em Curitiba e perder de duas a quatro horas por dia com o trânsito", analisa o diretor da Galvão Planejamento Imobiliário e Vendas, Gerson Carlos da Silva.
O gerente executivo da empresa, Marcelo Baldi, diz que esse é o primeiro empreendimento em que a construtora familiar entra sozinha. Ele e a esposa, Cristiane, identificaram uma demanda por condomínios horizontais e resolveram investir em um modelo com casas individuais (não geminadas). O Vinhas San Tièra foi lançado em junho e está 60% vendido. "É um perfil de alto padrão, de empresários e executivos que têm recursos próprios e não dependem de financiamento."
Industrialização
Não só as multinacionais automotivas, como a Renault e a Volkswagen, e seus fornecedores, movem a economia de São José dos Pinhais. A industrialização do município e sua condição geográfica é cortado pelas BRs 277 e 376 e o Contorno Leste, que leva a São Paulo o direcionam para uma vocação de transportes e logística. "As rodovias que cruzam São José dos Pinhais levam a várias regiões do país e dão acesso fácil aos portos de Paranaguá e Itajaí. Isso continua a incentivar a instalação de empresas de transporte e logística na região, inclusive com a implantação de centros de abastecimento e distribuição", avalia o diretor executivo da Venturi Consultoria Imobiliária, Adelino Venturi, com mais de 20 anos de experiência na comercialização de espaços para indústrias e empresas em geral.
Com o crescimento populacional, os setores de comércio e serviço também estão se desenvolvendo. A construção de um shopping na cidade e o anúncio de investimentos do grupo empresarial Coppel, com a implementação de uma loja de departamentos de quatro mil metros quadrados no Centro, prevista para março de 2010, são exemplos recentes disso. "São José dos Pinhais é a cidade da Região Metropolitana de Curitiba (que reúne 26 municípios ao todo) que mais sofreu transformações e um dos que têm maior nível de integração com a capital do estado", analisa Rosa Moura, geógrafa que faz parte do Observatório das Metrópoles, grupo de pesquisadores que estuda 21 regiões metropolitanas do Brasil. Com isso, o município que tem o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado são mais de R$ 7 bilhões por ano, segundo dados do Ipardes de 2006, atrás somente de Curitiba e Araucária e o quinto PIB per capita (R$ 26.938) está cada vez mais atraente para moradia.





