“As mudanças são necessárias não só porque jogos da Copa do Mundo serão realizados aqui, mas sim porque a sociedade precisa das obras e das melhorias que vêm com elas. O evento é, no máximo, um motivador.”| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Joel Krüger assumiu o Conselho Regional de Engenharia e Agro­­no­­mia do Paraná (Crea-PR) em ja­­neiro e tem pela frente três anos de mandato, que vai até 2014. O tempo em que o engenheiro civil estará à frente do conselho coincide com o prazo para que Curitiba e região façam as adaptações necessárias para receber jogos da Copa do Mundo. Até lá, por causa do evento, as cidades envolvidas vão precisar refinar a infraestrutura de trânsito, o modelo de transporte público, ampliar aeroportos e redefinir esquemas de segurança. As mudanças, que envolvem obras e, diretamente, a construção civil, não são vistas pelo presidente como desafio. "As mudanças são necessárias não só porque jogos da Copa do Mundo serão realizados aqui, mas sim porque a sociedade precisa das obras e das melhorias que vêm com elas. O evento é, no máximo, um motivador", co­­menta. Por isso, Krüger defende que, mesmo com a agilidade de que estas obras necessitam, não haverá queda na qualidade. "So­­mos parceiros das mudanças, mas seguiremos todos os procedimentos técnicos adequados. Queremos atuar de maneira firme na orientação e fiscalização de empresas e responsáveis por estas obras", manifesta.

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Um desafio da gestão, indicado por Krüger, é promover a aproximação entre diretoria do Crea-PR e profissionais associados, para que a entidade não faça esforços em vão. Para ele, é só o diálogo entre profissionais e diretoria do Crea-PR que poderá nortear os trabalhos do grupo. Por isso, Krüger quer transmitir as sessões plenárias do conselho pela internet e modernizar os formatos de contato com os quase 80 mil associados no estado. "Hoje, a comunicação mudou a unidade do tem­­po do mês, por exemplo, para o minuto. Como somos um conselho de tecnologia, não podemos deixar de inovar, inclusive nesse sentido", afirma. Con­­fira o que mais Krüger falou sobre planos para a gestão nos principais trechos da entrevista para a Gazeta do Povo.

O que os profissionais do estado, ligados ao conselho, podem esperar do Crea-PR durante a sua gestão?

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Uma ênfase na inovação, que é a grande preocupação que temos. Isso não significa que o conselho esteja atrasado tecnologicamente. Mas temos a preocupação de ser a vanguarda do conhecimento e no atual estágio de desenvolvimento, as mudanças são muito rápidas. Aí entra a necessidade de renovação contínua, e não só as mudanças revolucionárias, mas as que podem ser feitas nos pequenos detalhes do dia-a-dia. No seu posto de trabalho, dentro de uma inspetoria do Crea, você pode achar uma fórmula diferente de atender os profissionais, que faz avançar a rotina. É isso que queremos que aconteça e para tal, temos algumas prioridades. Uma delas é construção da nova sede estadual. Isso pode parecer um tanto patrimonialista, mas é que as nossas condições de trabalho já não são ideais por causa da falta de espaço. E não é um prédio qualquer, mas é um imóvel que terá grandes preocupações com sustentabilidade e consumo de energia. Vamos fazer um projeto que seja exemplo de construção sustentável. Tam­­bém queremos trabalhar com mudanças profundas no setor de fiscalização, que é nosso ato de ofício. Vamos aumentar o numero de fiscalizações: hoje, temos algo na faixa de 50 mil fiscalizações por ano e queremos passar para 80 mil.Também vamos criar núcleos especializados de fiscalização, em diferentes áreas. Outro ponto é a participação no debate das políticas públicas que envolvem mobilidade urbana, saneamento, resíduos sólidos, energia, logística do estado, transporte da produção agrícola. Queremos atuar como agente estimulador do debate.

O que muda com o desligamento dos arquitetos, que recentemente formaram seu próprio conselho?

Nós, historicamente, sempre estivemos juntos com a arquitetura. Temos diferenças em questões conceituais e operacionais, que precisaremos definir para conviver harmoniosamente. Entre as questões conceituais, há um sombreamento de atribuições profissionais. Há atividades da arquitetura que também são atividades da engenharia civil, e vice-versa. Na questão mais operacional, teremos de resolver o convívio do processo fiscalizatório, pois ambos vão fiscalizar o mesmo objeto, a mesma obra. Nós teremos de criar uma forma de não fazer o mesmo trabalho duas vezes. Vamos ter de criar alguns ajustes e construir essa nova forma de convívio. É uma relação nova, que vai precisar ser construída, mas acredito que não haverá problemas.

Na sua opinião, qual é o papel político do Crea-PR e como atuar ao lado das instâncias governamentais?

O papel do Crea-PR nesse processo é de articulação. Por exemplo, queremos fazer um grande trabalho de valorização do profissional e ações junto a governadores, secretários estaduais e prefeitos para demonstrar quais benefícios o setor público tem quando contrata profissionais. Um exemplo prático: uma determinada prefeitura, que possui quadro técnico qualificado e com remuneração adequada. Dessa forma, é mais fácil que ela apresente projetos para a captação de recursos nas áreas de saneamento, pavimentação, energia e outras, se ela tiver projetos condizentes e com boa sustentação e razoabilidade. Essa seria uma das estratégias. Outra forma de atuação política é o debate de políticas públicas, do qual o Crea-PR já participa e quer participar ainda mais.

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Como é a relação com o Confea? Existe algum gargalo entre as entidades?

O plenário do conselho federal toma algumas decisões que refletem nos Creas de todos os estados, como a definição de anuidade e outras taxas. Aí, os conselhos regionais podem apenas implantar essas medidas e não modificá-las. As duas são autarquias públicas federais, com gestão independente, mas complementar. É uma relação institucional, mas há duas resoluções do Confea, mais pontuais, que são polêmicas e podem ser tratadas como gargalos nessa relação. Uma delas é a Resolução nº 1.010 do Confea, que estabelece as atribuições profissionais. Do ponto de vista do conceito, essa resolução é boa, porque ela diz que deve ser dada a atribuição profissional de acordo, unicamente, com a formação profissional. Isso, na teoria, é correto. A grande dificuldade é como tornar essa resolução operacional. Como é que vamos estabelecer o que é conhecimento suficiente em uma área para pessoa ter determinada atribuição profissional? Se não é possível indicar a quantidade de horas/aula que a pessoa precisa ter sobre determinado conteúdo, qual seria o pré-requisito? Essa resolução foi editada, inicialmente, em 2005 e até hoje estamos discutindo uma forma de torná-la operacional. Outra resolução, que é muito específica das entidades, é a nº 1.032. Essa resolução regulamenta a forma que os Creas têm para repassar o apoio financeiro às entidades de classe. Hoje, repassamos pouco mais de 10% do que arrecadamos para que as entidades de classe ofereçam o apoio ao sistema de fiscalização. Essa resolução estabeleceu critérios que vão além da razoabilidade e do que a legislação exige. Estabelece procedimentos que praticamente inviabilizam o repasse. E as entidades de classe precisam desse valor para manter a parceria com o Crea-PR. Temos posição claramente contrária a essa resolução e vamos fazer esforço para que o Confea faça a revogação dessa resolução, e se necessário faça nova resolução sobre isso, dentro de parâmetros mais compatíveis. Há outras resoluções que são questionáveis, mas, em ordem de importância, essas são as duas primeiras que queremos discutir.

O desenvolvimento e ampliação da construção civil influenciam a atuação do Crea-PR? Como lidar com esta nova realidade?

O Crea-PR existe porque as profissões que ele regulamenta são de interesse do Estado e da sociedade. Os conselhos têm a missão de garantir que essas profissões possam atuar de maneira adequada e harmônica, impedindo que pessoas que não tenham conhecimento atuem e possam colocar em risco a vida dos cidadãos. Por isso, a atua­­ção do conselho, em relação a esse crescimento da construção civil, precisa ser no sentido de colocar para a sociedade os profissionais que têm qualificação, que têm conhecimento técnico-científico. É assim que obras e serviços de melhor qualidade podem ser oferecidos à população. Em breve, temos alguns eventos, como a Copa do Mundo, que é importante, mas não é fundamental. A construção de um estádio, por exemplo, é mais pontual e até poderíamos dizer que é específica. Mas as demais, que envolvem serviços, serão feitas porque a população precisa, independente do evento. Talvez ele seja motivador, porque definiu um prazo para essas obras que pudessem ser executadas. Nosso papel é não deixar que essas obras, que vão ser feitas muito rapidamente, por uma necessidade temporal, sejam de má qualidade. O Crea-PR vai estar muito atento a essa questão, para que a gente siga procedimentos técnicos adequados, para manter uma padrão condizente com a engenharia brasileira. Temos essa preocupação e nos comprometemos a fa­­zer ação fiscalizatória e de orientação, além de debater profundamente a necessidade e a conveniência de determinadas obras.