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Alunos do curso de Design em Permacultura, do Instituto Çarakura, em Florianópolis. | João Paulo Santana
Alunos do curso de Design em Permacultura, do Instituto Çarakura, em Florianópolis.| Foto: João Paulo Santana

É lei

Confira o que diz a legislação de algumas cidades:

- O governo de Nova Iorque já oferece um estímulo de US$ 4,5 por square feet (929 centímetros quadrados) para as construtoras que implantarem telhados verdes em pelo menos 50% de suas obras até 2011, e ainda prevê descontos no IPTU destes imóveis.

- Em 2007, Santa Catarina sancionou a lei 14.243, que define a criação do Programa Estadual de Incentivo a Adoção de Telhados Verdes em Espaços Urbanos Densamente Povoados, em que a implantação de sistemas vegetados não pode ser inferior a 40% da área total do imóvel.

- A Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre defende a destinação de uma porcentagem da área total dos terrenos para Área Livre (parcela vegetada, sem elemento construtivo permeável). Se o terreno tiver entre 151 e 300 metros quadrados, essa área deverá ser de no mínimo 7% do total.

- Em Curitiba, ainda não existe uma lei que mencione as coberturas vegetadas, mas já são comuns as reduções parciais de IPTU para imóveis com áreas verdes, como bosques nativos, árvores de corte proibido ou áreas declaradas como reservas particulares do patrimônio Natural Municipal.

Ilhas de calor

Calcule o que pode acontecer em uma cidade tomada por asfalto e concreto, onde a poluição atmosférica excessiva soma-se a energia solar acumulada, irradiada pelas superfícies sólidas de ruas e edifícios. O resultado é uma série de desequilíbrios térmicos pontuais, originando o fenômeno das Ilhas de Calor Urbano (ICU). Segundo a arquiteta especialista em Bioclimática Paula Fraiz Morais, as zonas centrais das cidades costumam ser aproximadamente 80C mais quentes do que as regiões periféricas, onde a urbanização é menor e há mais áreas verdes. Paula diz que as telhas ecológicas ajudam a reduzir as ICU, pois quanto maior a cobertura vegetal, menor o desequilíbrio térmico das grandes cidades.

  • Passarela verde em São Paulo: telhado com plantas retém impurezas do ar e reduz calor.

Acostumada aos campos e montanhas de sua terra natal, a rainha Amytis deve ter se decepcionado com o solo arenoso e a falta de vegetação da Mesopotâmia do século 6 a.C. Felizmente, seu marido Nabucodonosor mandou construir em seu palácio os Jardins Suspensos da Babilônia, uma das Sete Maravilhas da Antiguidade. Hoje, com o aumento da poluição urbana nas grandes metrópoles e o aquecimento global na pauta do dia, a presença de áreas verdes nas cidades é mais necessária do que nunca. O problema é que nem sempre o espaço disponível nos terrenos permite manter um jardim – pense em Manhattan, no coração de Nova Iorque, ou mesmo no centro de São Paulo. Os telhados verdes, também conhecidos como ecotelhados, são uma solução. Assim, a paisagem cinza e sem graça dos telhados, paredes e coberturas começa a ganhar vida e mudar de cor.

"A cidade é um organismo vivo. Cobri-la de verde é uma forma de otimizar ao máximo essa vitalidade", opina o engenheiro agrônomo João Manuel Feijó, um dos sócios da Ecotelhado, empresa gaúcha e uma das pioneiras na comercialização de telhados verdes no Brasil. Apesar deste conceito não ser novidade – a ideia surgiu na Alemanha nos anos 1970, quando o país enfrentava uma crise energética –, o diferencial da Ecotelhado foi tornar a tecnologia mais simples, prática e acessível.

A empresa oferece três tipos de coberturas: Modular, Alveolar e Laminar – esta última recomendada para lajes planas. O sistema Modular é o mais versátil dos três, indicado tanto para lajes de concreto quanto para telhados de cerâmica, madeira, fibrocimento ou telhas metálicas. Trata-se de uma estrutura formada por um subtelhado convencional, revestido por módulos de ecotelhas vegetadas produzidos com pneu reciclado, restos de cimento e borracha EVA (material não tóxico, muito utilizado em artesanato). Cada módulo mede 68x35centímetros e é sobre ele que as plantas são cultivadas – geralmente espécies de baixo porte e manutenção, como os sedum, que não exigem poda e precisam de pouca água. A vantagem da ecotelha é que a peça já vem pronta para ser fixada em telhado e pode ser removida facilmente em caso de uma eventual manutenção.

Custos e benefícios

A cobertura verde funciona como um isolante térmico, retardando o aquecimento dos ambientes durante o dia e conservando a temperatura durante a noite. Outro benefício é que ela absorve cerca de 30% da água das chuvas, reduzindo o risco de enchentes nas cidades. E, como se fosse pouco, ainda oferece conforto acústico, evitando a entrada de ruídos externos para dentro de casa e a reverberação de sons internos para a rua. A instalação do sistema Modular é rápida e o valor, acessível. O metro quadrado custa R$ 100, e uma área de aproximadamente 150 metros quadrados pode ficar pronta em apenas um dia de trabalho de três pessoas capacitadas. Só em Porto Alegre, já são mais de 200 empreendimentos utilizando as ecotelhas, mas outras cidades brasileiras também já aderiram. Em São Paulo foi inaugurada recentemente a primeira passarela verde da cidade, sobre a Avenida Eusébio Matoso.

Capital ecológica

Diante das inúmeras vantagens que um telhado verde oferece, o produto ainda não encontrou muitos adeptos em Curitiba, diferentemente de cidades como Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. "Curitiba ainda tem se mostrado resistente à ideia dos telhados vivos", confessa Arnaldo Brandão, representante da empresa gaúcha em Curitiba.

Segundo ele, um dos motivos é o receio de infiltração, associado ao alto índice de chuvas na cidade. "É uma percepção equivocada, porque o que causa rachaduras na manta de impermeabilização é justamente a oscilação térmica, e os telhados verdes ajudam a manter esse equilíbrio de temperatura, além de impedirem a incidência direta de sol na superfície da laje, o que garante mais tempo de vida do que os telhados convencionais", explica Brandão.

É bom lembrar que, antes da instalação da peça, o subtelhado é revestido por uma geomembrana muito forte que impede a passagem de umidade no telhado, assim como a entrada de insetos ou animais.

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