Uma casa cheia de charme, de frente para o mar e em uma ilha paradisíaca, pouco tocada pelo homem. Sinônimo de tranquilidade e contato com a natureza, ter uma residência assim é o sonho de muitos. Também era o desejo de um jovem casal com uma filha de um ano de idade. Para botar em prática a ideia, a família chamou a arquiteta Olga Bergamini, que tinha o desafio de construir uma residência contemporânea, mas integrada à natureza.
O local escolhido foi a Ilha das Peças, área de preservação ambiental pertencente ao município de Guaraqueçaba, no litoral do Paraná. O local tem acesso restrito, com chegada apenas de barco. Trânsito? Nem pensar. Barulho? Muito menos. "Os proprietários buscavam um lugar bem privativo. Não queriam locais que fossem muito frequentados, como a Ilha do Mel (vizinha na região)", comenta Olga.
Construir em uma ilha foi um grande exercício para a arquiteta. Olga explica que as legislações ambientais (estabelecidas pelo Ibama e pelo Instituto Ambiental do Paraná) exigem que apenas se construa ou reforme em terrenos onde já exista uma construção. Assim, os proprietários tiveram de comprar uma residência e demolir, para então construir a nova. "As leis estabelecem também que não se pode construir casas com área superior a 75 metros quadrados", conta a arquiteta.
No caso dessa residência, o tamanho ultrapassou em um metro quadrado o limite tem 76 metros quadrados de área , mas ainda assim foi aprovado pelos órgãos. Outra exigência foi cumprida à risca. "Não se pode fazer nada de alvenaria", diz Olga. Para isso, a arquiteta construiu toda a casa com madeiras certificadas (ou seja, que têm a extração permitida pelas leis ambientais). A base da casa foi feita em garapeira. Já o telhado recebeu a aplicação de Itaúba. Para o assoalho, a madeira escolhida foi a Muiracatiara. "São excelentes materiais de construção, mas não são tão fáceis de trabalhar. Principalmente a Itaúba, que é mais dura."
Olga diz que a casa é pré-cortada. As estruturas foram projetadas pela arquiteta e preparadas por uma fábrica de São Paulo. Para chegar até o local, foram transportadas em barcos (parte mais onerosa do projeto). "O início foi rápido. A primeira parte da montagem levou só três meses. O que demorou foi a finalização. Com alguns imprevistos, que sempre acontecem em obras, e a dificuldade de se conseguir pessoal para ir até lá, a casa só ficou pronta em oito meses", comenta.
Longe do chão
Para garantir a ventilação natural e diminuir a necessidade de aparelhos elétricos para refrescar o ambiente, Olga optou por construir a casa suspensa a uma altura de 1,40 metro do chão. "Como esse é um lugar em que se espera calor, a parte de baixo da casa permite a ventilação vinda do solo. Assim, não precisamos instalar ar-condicionado. Os ventiladores de teto já resolvem a situação em dias de sol mais intenso", aponta.
A suspensão evita ainda a entrada de bichos comuns em regiões de mata fechada, como formigas e até cobras. Outro papel importante da estrutura, é facilitar a manutenção hidráulica e elétrica. Explica-se. É que no caso dessa residência, essas instalações foram feitas na parte de baixo da casa e não por cima, como é o usual. "Os próprios donos podem inspecionar a residência com facilidade, para ver se é preciso algum reparo", diz Olga.
Para ambientes compactos, soluções integradas
Na hora de construir, a arquiteta Olga Bergamini esbarrou em dois detalhes controversos: a família queria uma casa com três dormitórios, porque sempre recebem os amigos; já a legislação só permite 75 metros quadrados de construção. A solução para driblar a falta de espaço foi criar ambientes bem compactos e abusar de elementos que dão a sensação de amplitude e integração.
Os quartos, por exemplo, têm apenas nove metros quadrados de área. A sala, que é o maior ambiente da casa, tem 25 metros quadrados. Todos são integrados quando as portas estão abertas. Além disso, os ambientes ganharam paredes com amplas lâminas de vidro. O objetivo é ganhar em amplitude e paisagem. "Como a casa fica de frente para o mar, quis deixar essa visão à mostra em todos os ambientes", conta a arquiteta.
Móveis brancos e tecnologia
Construída toda com madeira, a cor predominante na residência é um amadeirado, que dá um aspecto rústico aos ambientes. Ao mesmo tempo em que tem um charme cru, porém, a casa ganha tons muito escurecidos. Para amenizar esse efeito, Olga Bergamini apostou em móveis no estilo provençal (de cores mais suaves, com um leve aspecto de envelhecidas), principalmente feitos de pátina branca. "Queria quebrar um pouco das cores escuras", ressalta. Junto aos móveis claros, materiais como a fibra foram muito utilizados em bancos, cadeiras e objetos da decoração.
O ambiente tem ainda eletrodomésticos e outros itens tecnologicamente bem desenvolvidos, como contraponto à rusticidade. Na cozinha, o aço inox é o principal elemento. Já na sala, é a televisão de LCD que ganha destaque. "A família queria unir essa simplicidade, mas como o mesmo conforto que tem em Curitiba", lembra Olga.