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David Sim, do escritório Gehl Architects, que fez de Copenhague exemplo de cidade sustentável; Edson Yabiku participa do planejamento de Masdar, cidade neutra em emissões de carbono, em Abi Dhabi | Fotos: Daniel Castellano/Gazeta do Povo
David Sim, do escritório Gehl Architects, que fez de Copenhague exemplo de cidade sustentável; Edson Yabiku participa do planejamento de Masdar, cidade neutra em emissões de carbono, em Abi Dhabi| Foto: Fotos: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Reconhecidos internacionalmente pelo trabalho a favor das cidades inovadoras, os arquitetos e urbanistas David Sim e Edson Yabiku, paranaense radicado em Londres, acreditam que é preciso pensar as cidades com foco nas pessoas e planejar os espaços urbanos para que os habitantes possam ocupá-los e conviver com qualidade. Confira a entrevista concedida por eles à Gazeta do Povo..

Quais são os principais pilares que fazem de uma cidade inovadora?

Edson – Talvez eu não concorde com o título cidade inovadora. A meta do nosso diálogo não é explicar ou debater quais são as inovações. A questão é definir por que estamos tendo esse diálogo. A partir daí conseguimos planejar o que fazer e como fazer. Já passou da hora de se fazer algo para aumentar a qualidade de vida das pessoas. É muito difícil para as pessoas aceitarem isso, pois no dia seguinte o sol nasce. Depois da tempestade todos relaxam e voltam à maneira normal de lidar com a sua vida, dirigir para o trabalho, comprar mais do que deveria e descartar mais.

Essa promoção da qualidade de vida envolve todos os aspectos do cotidiano?

Edson – Quanto mais global e integrado for o movimento, mais certeza nós teremos do sucesso dele. Não basta, por exemplo, prestar atenção apenas à questão do tráfego, porque isso só irá resolver uma parte do problema. Temos que olhar para o tema de maneira mais holística.

Você cita o exemplo de cidades planejadas, como Brasília, que são muito bonitas vistas do alto, mas que na vivência do dia a dia não são percebidas assim pelas pessoas. Qual é o principal desafio?

Davi – O principal desafio é encontrar a escala humana, na qual nossos sentidos funcionam. Por isso, é importante que os aspectos do dia a dia, como cruzar uma avenida, sejam lembrados na hora de planejar. Brasília é um grande sucesso na escala monumental, para a realização de grandes eventos, mas, no cotidiano do uso das ruas, quando as pessoas vão ao trabalho, as crianças à escola, a cidade não consegue responder dessa forma.

Você também fala sobre a importância do software (vivência) sobre o hardware (infraestrutura) no cotidiano das cidades. Isso leva em conta apenas as soluções de inovação apresentadas pela administração pública ou envolve questões culturais?

Davi – Os governos concentram-se na infraestrutura porque é mais fácil medi-la. É muito mais difícil precificar o "software". Construir 60 quilômetros de ciclovia e cortar a fita inaugural é fácil. Agora, encontrar o dinheiro para investir em campanhas de segurança ou para ensinar as crianças a andar de bicicleta, por exemplo, é mais complicado. De maneira geral, a as pessoas entendem melhor o valor de algo que podem ver e tocar, e não os conceitos e a educação, por exemplo.

O que Curitiba tem de inovador e o que ainda pode ser melhorado?

Davi – Curitiba ainda é um modelo entre as cidades do mundo. As faixas de pedestre, os parques, as ciclovias. Mas algumas partes da infraestrutura da cidade já estão começando a ficar cansadas e precisam receber novos investimentos. Talvez, em algum momento, a cidade tenha que ter novas rotas BRTs [Transporte Rápido por Ônibus] que se acoplem às antigas, e até precise que as BRTs antigas passem por melhorias para receber outros meios de transporte. É preciso buscar constantemente a melhoria. O bom em Curitiba é que surgiu uma nova classe média que elevou as pessoas a um nível mais alto de expectativa. E a cidade tem que responder a essa aspiração. Outro ponto que me chamou a atenção quando cheguei aqui é que o centro da cidade estava morto, pois as pessoas estavam dentro do shopping. É preciso entender porque as pessoas gastam seu tempo nos shoppings e não nas ruas?

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