O presidente russo Vladimir Putin (à direita) com o ministro de Relação Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Putin anunciou no sábado que a Rússia suspenderia a participação em um tratado chave da era da Guerra Fria, em resposta aos EUA| Foto:  ALEXEY NIKOLSKY / AFP

Na sexta-feira (1º), o governo Trump confirmou sua intenção de cancelar um pacto histórico de controle de armas nucleares com Moscou. O secretário de Estado, Mike Pompeo, anunciou que os Estados Unidos suspenderiam sua participação no Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) de 1987. A retirada formal se dará, provavelmente, em seis meses. 

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A notícia é compatível com a tendência do presidente Donald Trump em abandonar pactos diplomáticos. Ele descartou um importante acordo comercial na região Ásia-Pacífico durante sua primeira semana no cargo e retirou os EUA dos acordos internacionais sobre mudanças climáticas e sobre o programa nuclear iraniano, da era Obama. 

"Vamos avançar no desenvolvimento de nossas próprias opções de resposta militar e trabalharemos com a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e nossos outros aliados e parceiros para negar à Rússia qualquer vantagem militar de sua conduta ilegal", disse Trump em comunicado na sexta-feira. 

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Durante vários anos, autoridades dos EUA alegaram que alguns dos novos mísseis da Rússia violam os termos do pacto. Em comunicado de apoio à decisão de Trump, a Otan disse que a “Rússia desenvolveu e colocou em prática um sistema de mísseis, o 9M729, o qual viola o Tratado INF e representa riscos significativos para a segurança euro-atlântica”. Moscou negou essas acusações, responsabilizando Washington de deliberadamente tentar sair do tratado para desencadear uma nova corrida armamentista. 

No sábado, o Kremlin deu uma resposta dura, ordenando que seus militares começassem a desenvolver mísseis baseados em terra uma vez proibidos. "Nossa resposta será simétrica", disse Putin em uma reunião televisionada com seus ministros da defesa e do exterior. "Nossos parceiros americanos declararam que vão suspender sua participação no tratado, então suspenderemos a nossa também. Eles disseram que começariam a pesquisa e desenvolvimento, e faremos o mesmo." 

Se o Tratado INF entrar em colapso, marcará o fim de um acordo fundamental em que, pela primeira vez, os dois rivais da Guerra Fria concordaram em destruir partes de seus arsenais nucleares. A seguir, algumas perguntas e respostas sobre o Tratado INF e as possíveis consequências do seu cancelamento. 

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O que é o Tratado INF?

O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês) foi assinado em 1987 pelos presidente dos EUA, Ronald Reagan, e o líder soviético  Mikhail Gorbachev, em um esforço para controlar as armas desenvolvidas pelas duas potências. O documento proíbe os Estados Unidos e a Rússia de possuírem, produzirem ou testarem mísseis balísticos e de cruzeiro lançados do solo com um alcance entre 500 quilômetros e 5.500 quilômetros, nucleares ou convencionais. Um total de 2.692 mísseis foram destruídos sob o tratado nos primeiros três anos, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA.

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Por que os EUA estão abandonando o tratado?

Há anos o governo americano alerta sobre as violações da Rússia. De acordo com a Otan, em 4 de dezembro de 2018, depois de seis anos de conversas com a Rússia, os aliados do grupo declararam que o país de Vladimir Putin desenvolveu e colocou em operação um sistemas de mísseis chamado 9M729, que, segundo eles, viola o INF e impõe riscos significantes à segurança da Europa. O governo americano também alega que os pedidos para a eliminação do sistema de mísseis não foram atendidos.

"Os Estados Unidos aderiram plenamente ao Tratado INF por mais de 30 anos, mas não continuaremos limitados por seus termos, enquanto a Rússia deturpa suas ações", disse Trump. “Não podemos ser o único país do mundo unilateralmente vinculado por este tratado ou qualquer outro. Continuaremos desenvolvendo nossas próprias opções de resposta militar e trabalharemos com a Otan e nossos outros aliados e parceiros para negar à Rússia qualquer vantagem militar de sua conduta ilegal”.

O que dizem os russos?

A Rússia nega que esteja violando o acordo e se nega a abandonar o 9M729. Segundo a agência de notícias russa Tass, o míssil de cruzeiro é uma configuração mais recente do 9M728, com uma ogiva de maior rendimento e um novo sistema de controle para maior precisão. A maioria das peças e componentes dos mísseis 9M728 e 9M729 é idêntica, segundo a Força de Mísseis e Artilharia da Rússia. O especialista em ciências militares Konstantin Sivkov disse, em entrevista à Rádio Sputnik, que o alcance do míssil não chega a 400 quilômetros.

A Rússia também alega que os EUA estão violando o INF devido à implantação terrestre, em suas bases na Europa, de sistemas de lançamento de mísseis MK-41, que, segundo os russos, podem ser usados para lançar mísseis de cruzeiro de longo alcance e outros sistemas de mísseis de ataque – uma acusação que os EUA rejeitam.

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O que poderia ocorrer sem o tratado?

A Rússia poderia avançar no desenvolvimento dos mísseis que violam o tratado, ao passo que os EUA anunciaram que começaram a fabricar uma nova arma nuclear de baixo rendimento destinada a conter a Rússia, levantando a possibilidade de uma corrida armamentista.

“Estamos indo em uma direção em que não estamos há 40 anos: nenhum limite ou regra de controle de armas a seguir, e isso é muito perigoso", disse à CNN Lynn Rusten, diretora sênior de controle de armamentos e não-proliferação do Conselho de Segurança Nacional durante o governo Obama, que agora é vice-presidente da Iniciativa de Ameaça Nuclear.

De acordo com a Bloomberg, o desaparecimento do tratado também libertaria os EUA para a implantação de armas nucleares de médio alcance para conter o avanço da China, que nos nos últimos anos expandiu agressivamente seus mísseis de alcance intermediário para afirmar sua influência no Pacífico. Isso aumentaria potencialmente as tensões na Ásia. 

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E quanto ao Novo START?

Com a suspensão do INF, questões também pairam sobre o futuro do Novo Start, outro pacto entre EUA e Rússia, assinado em 2011, que limita o número de ogivas nucleares estratégicas implantadas pelos dois países. Esse tratado deve expirar em 2021 e pode ser prorrogado por mais cinco anos, mas as atuais tensões sugerem que seu colapso pode estar chegando. Nenhuma conversa para prolongar o Novo START foi iniciada.

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Segundo o Washington Post, se a Casa Branca e o Kremlin não concordarem em estender o novo Start, a decisão levaria de volta a uma época em que Washington e Moscou possuíam armas nucleares praticamente sem restrições acordadas e arriscariam o retorno a uma corrida armamentista, como na Guerra Fria.