• Carregando...
Pessoas fotografam um modelo do porta aviões Liaoning em mostra que celebra conquistas da China nos últimos 70 anos, Pequim, 26 de setembro de 2019
Pessoas fotografam um modelo do porta aviões Liaoning em mostra que celebra conquistas da China nos últimos 70 anos, Pequim, 26 de setembro de 2019| Foto: WANG ZHAO / AFP

O Partido Comunista da China planeja realizar o maior desfile militar na terça-feira (1) para os 70 anos de história da República Popular da China, em uma exibição projetada para mostrar os avanços do país sob a liderança de Xi Jinping.

O partido está comemorando o 70º aniversário do estabelecimento do seu Estado, um marco importante porque a República Popular da China ultrapassou a sobrevivência da União Soviética, que durou 69 anos.

Mas a comemoração ocorre em um momento de intensa pressão sobre a liderança do partido.

O partido está preso a uma prolongada guerra comercial com os Estados Unidos, que coincide com uma desaceleração tangível da economia. Ao mesmo tempo, manifestantes em Hong Kong estão protestando contra crescentes restrições da China às suas liberdades e estão alertando os taiwaneses de que isso poderia acontecer com eles se a China tentasse oferecer um acordo de "um país, dois sistemas" para a ilha.

"Este desfile destacará o poder militar chinês, em um momento em que as relações sino-americanas estão se deteriorando e os tratados internacionais de controle de armas estão sendo questionados", disseram Antoine Bondaz e Stéphane Delory, da Fundação para a Pesquisa Estratégica da França.

"Nossa pesquisa indica que capacidades balísticas convencionais e nucleares sem precedentes serão exibidas, algumas pela primeira vez, demonstrando a modernização quantitativa e qualitativa do arsenal balístico da China", eles escreveram em uma nota de pesquisa. "Sistemas de armas altamente rápidos e até hipersônicos também podem ser mostrados, ilustrando que a China está, em alguns aspectos, na vanguarda da inovação global".

O desfile mais recente da China foi em 2015, marcando o fim da Guerra do Pacífico e a vitória sobre o Japão, e contou com a presença de líderes estrangeiros, incluindo o então presidente sul-coreano Park Geun-hye e o líder russo Vladimir Putin. Os líderes estrangeiros são esperados novamente neste desfile, mas Pequim não anunciou quem virá. Mas alguns detalhes foram anunciados.

O desfile contará com 59 falanges, cerca de 15 mil soldados, 160 aeronaves e 580 outros armamentos e equipamentos, disse o major-general Cai Zhijun, vice-diretor do gabinete de desfiles militares. Cerca de 300 mil civis participarão do desfile.

  • Militares participam de ensaios de marcha antes do desfile de 1 de outubro, Pequim, 25 de setembro
  • Militares participam de ensaios de marcha antes do desfile de 1 de outubro, Pequim, 25 de setembro
  • Estudantes formam o número 70 em evento para celebrar o aniversário de 70 anos de fundação da República Popular da China, em Jiangsu, 28 de setembro
  • Condutores de trem aguardam passageiros para embarcar no Daxing Airport Express, nova linha de alta velocidade para o aeroporto recém-inaugurado, em Pequim, 28 de setembro
  • Pessoas tiram fotos de retratos de líderes chineses em exposição para marcar as conquistas da China nos últimos 70 anos
  • Modelo do novo aeroporto internacional Daxing, em Pequim, em exposição que marca as conquistas da China nos últimos 70 anos, em Pequim, 26 de setembro
  • Pessoas fotografam um modelo do porta aviões Liaoning em mostra que celebra conquistas da China nos últimos 70 anos, Pequim, 26 de setembro de 2019

Mas o porta-voz do Ministério da Defesa, Wu Qian, descartou a ideia de que o Exército de Libertação Popular, a força militar ligada do Partido Comunista, esteja "demonstrando força" para enviar uma mensagem ao mundo exterior.

"Nos últimos 70 anos, o desenvolvimento das forças armadas da China é óbvio para todos. Não tínhamos intenção, nem sentimos a necessidade de demonstrar nossa força por meio de um desfile militar", disse ele em um briefing sobre os preparativos para o desfile na semana passada. "Nos últimos 70 anos, o mundo também testemunhou as contribuições das forças armadas da China. Quanto mais fortes nos tornamos, mais contribuições podemos fazer para a paz mundial".

As autoridades realizaram três ensaios para o desfile centralizados na Praça da Paz Celestial nas últimas semanas. Pessoas relataram ter visto aviões de guerra, tanques, veículos de assalto anfíbios, mísseis antiaéreos e antinavais e drones supersônicos e furtivos.

Estes são alguns dos poderes de fogo que podemos esperar ver no desfile de terça-feira:

O míssil balístico intercontinental DF-41

O arsenal da Força de Foguetes do Exército de Libertação Popular está atraindo atenção, em meio a sinais de que o míssil balístico intercontinental de próxima geração Dongfeng-41 poderá fazer sua estreia no desfile. "Dongfeng" significa "vento leste".

O DF-41 é um míssil de combustível sólido de três estágios, com alcance de cerca de 7,5 mil milhas (ou cerca de 12 mil quilômetros), o que significa que ele poderia atingir qualquer alvo nos Estados Unidos.

Ele pode transportar até 10 ogivas nucleares de alvo independente, disse Xu Guangyu, consultor sênior da Associação de Controle de Armas e Desarmamento da China, ao Global Times, um jornal afiliado ao partido.

O Global Times citou especialistas militares dizendo que o míssil nuclear de quarta geração DF-41 está "basicamente no mesmo nível que os mísseis nucleares de sétima geração que estão sendo desenvolvidos pelos EUA e pela Rússia, e alcançou um nível de liderança mundial em termos de tecnologias, materiais e processos".

Como o míssil DF-41 pode ser armado com um número relativamente grande de múltiplas ogivas, ele "possibilita à China aumentar significativamente o número de ogivas implantadas sem aumentar o tamanho do seu arsenal balístico", escreveram Bondaz e Delory.

Além disso, o míssil pode levar iscas e auxiliares de penetração, aumentando suas capacidades ofensivas, e também pode mudar o rumo e a trajetória em voo, o que ajuda a esquivar-se de defesas antimísseis, disseram eles.

Pessoas que assistiram aos ensaios do desfile tiraram fotos do que pareciam ser mísseis DF-41, cobertos por lona de camuflagem, em caminhões nas ruas do centro de Pequim. Mas os organizadores do desfile se recusaram a confirmar se o míssil DF-41 aparecerá na terça-feira.

"Esperem para ver, e acredito que nossos amigos jornalistas não ficarão desapontados", disse o major-general Tan Min, um dos comandantes do desfile, a repórteres.

O míssil balístico hipersônico DF-17

O Dongfeng-17 é um míssil de curto a médio alcance que pode lançar um veículo planador hipersônico, ou HGV, que Bondaz e Delory dizem que "seria um grande feito inédito".

"O surgimento de um sistema desse tipo teria um impacto considerável, destacando o progresso da China no projeto de planadores não-estratégicos hipersônicos, um segmento no qual russos e americanos estão ficando para trás", escreveram eles.

O míssil parece ser capaz de exceder a velocidade do som e penetrar nos escudos antimísseis dos EUA e possui um veículo de reentrada manobrável, para que possa mudar de alvo em voo.

Isso o tornaria menos vulnerável à interceptação pelos sistemas de defesa de outros países, informou o site de notícias South China Morning Post, citando uma fonte da estatal Corporação Chinesa de Ciência e Indústria Aeroespacial.

"E o DF-17 poderá transportar cargas tanto nucleares quanto convencionais", disse a fonte do jornal, que não divulgou o seu nome.

Quando a China realizou os primeiros testes no final de 2017, o míssil DF-17 completou com sucesso seus voos balísticos e reentrou na atmosfera da Terra, usando o HGV durante a fase de planeio, informou o Diplomat na época. Ele aterrissou "a poucos metros" do alvo pretendido durante o teste, informou o site, citando fontes de inteligência americanas.

O veículo aéreo não tripulado DR-8 e o drone de ataque furtivo Sharp Sword

Fotos dos ensaios do desfile provocaram especulações de que ele incluirá dois tipos de veículos aéreos não tripulados, ou drones. A China tem investido fortemente em tecnologias de drones e fazendo avanços tecnológicos.

Especialistas avistaram imagens do que parece ser um drone de reconhecimento DR-8, que pode chegar até o território americano de Guam, no Pacífico Ocidental, mas que já está em serviço há algum tempo.

Mais preocupante é o Sharp Sword (Espada Afiada), um drone de ataque que não é apenas um UAV, veículo aéreo não tripulado, mas UCAV: um veículo aéreo de combate não tripulado. A aeronave pode transportar mísseis ou bombas guiadas a laser. Espera-se que ele entre em serviço antes do final do ano.

"Os EUA usam drones armados com mísseis e bombas guiadas há muitos anos na guerra contra o terrorismo", escreveu Sam Roggeveen, diretor do programa de segurança internacional do Instituto Lowy, em Sydney.

Esses aviões e mísseis de longo alcance parecem projetados com o exército dos EUA em mente, dizem analistas.

"A Força de Foguetes do Exército de Liberação Popular deu ênfase especial ao desenvolvimento de mísseis anti-navios perigosos de longo alcance que podem manter a Marinha dos EUA a uma distância segura", relatou a publicação Defense Talk, "de modo que a capacidade da Sharp Sword de ampliar ainda mais esse alcance coloca navios inimigos em maior risco".

Caças furtivos J-20

A Força Aérea do Exército de Libertação Popular divulgou recentemente um vídeo de sete J-20 voando em formação, provocando especulações de que eles voariam sobre a Praça da Paz Celestial como parte do desfile.

"Para realmente alcançar a paz, defender a nossa pátria não é suficiente. Não devemos apenas nos defender, mas também atacar", disse Yang Wei, designer-chefe do J-20, no vídeo.

Pares ou pequenos números de J-20 apareceram em desfiles anteriores, mas o fato de a Força Aérea estar pronta para pilotar sete deles é significativo e sugeriu que eles estão prontos para o combate, segundo analistas.

"Um número considerável de unidades provavelmente está pronto para pilotar o J-20", disse Wang Ya'nan, editor-chefe da revista Aerospace Knowledge, ao Global Times.

"Se sete J-20 forem enviados simultaneamente para a batalha, eles terão uma capacidade de ataque significativa com suas armas ar-ar e ar-superfície", disse Wang ao jornal. Eles seriam capazes de atingir alvos inimigos profundamente em território hostil, disse ele.

Projetado para maior furtividade e manobrabilidade, o J-20 tem o potencial de fornecer à China uma variedade de opções de combate aéreo anteriormente indisponíveis e aprimorar sua capacidade de força, de acordo com o China Power Project no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

O Pentágono diz que a China vê a tecnologia furtiva como um componente essencial na transformação de sua força aérea de "uma força aérea predominantemente territorial para uma capaz de conduzir operações ofensivas e defensivas".

O H-6N, um novo bombardeiro

O H-6N, uma nova versão do bombardeiro estratégico de longo alcance da China, também apareceu durante os ensaios do desfile. Mas as fotos do H-6N postadas no Weibo, a versão da China para o Twitter, pareciam mostrar que ele não tinha um compartimento de bombas, fazendo com que os analistas se perguntassem se ele havia sido excluído das fotos.

As fotos, no entanto, mostram grandes e visíveis mísseis montados no bombardeiro. O blog War Zone comentou que poderiam ser mísseis balísticos anti-navio DF-21, que dariam ao bombardeiro "uma impressionante capacidade de confronto contra grandes navios de guerra inimigos, especialmente porta-aviões".

Outros analistas observaram que o bombardeiro tinha um receptáculo de reabastecimento aéreo. Isso permitirá que a aeronave, cujo modelo é baseado no bombardeiro a jato soviético Tu-16, realize reabastecimento em voo - aumentando significativamente seu alcance operacional em comparação com seu antecessor, o H-6K, relatou o South China Morning Post.

Tanques Tipo 15

Os tanques leves Tipo 15 da China também parecem estar prontos para aparecer no desfile. Os tanques foram encomendados pelas forças armadas chinesas, de acordo com o último relatório de defesa nacional da China, e aparecerão em público pela primeira vez no desfile de terça-feira.

Eles são armados com um fuzil de 105 mm totalmente estabilizado e com alcance de tiro efetivo de duas milhas (3,2 quilômetros). O tanque pesa entre 33 e 36 toneladas, tornando-o mais móvel do que um tanque de batalha padrão, que geralmente pesa cerca de 50 toneladas.

"A mobilidade e a rápida capacidade de recolocação são o fator chave deste novo veículo de combate. Ele é projetado principalmente para operações de reconhecimento e apoio à infantaria", de acordo com o Military Today. "Ele pode ser lançado do ar e operar em áreas, como montanhas, selvas e regiões fluviais, que não são acessíveis aos tanques de batalha mais pesados".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]