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O aquecimento global está ligado a emissão de gases de efeito estufa. Entenda como ocorre o processo |
O aquecimento global está ligado a emissão de gases de efeito estufa. Entenda como ocorre o processo| Foto:
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Por trás do debate político sobre a redução de emissões dos gases que causam o efeito estufa existe um esforço científico imenso para compreender o fenômeno das mudanças climáticas. A face mais conhecida da mobilização de cientistas é o Painel Intergo­ver­namental de Mudanças Cli­má­ticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), que reúne o conhecimento de quase 3 mil pesquisadores. Em quatro relatórios divulgados entre 1990 e 2007, o IPCC ficou gradualmente mais incisivo em seu diagnóstico – com o tempo ficaram de lado as dúvidas sobre o aquecimento da Terra e de que o processo é causado pela ação humana.Os relatórios do IPCC são uma espécie de consenso da comunidade científica, mas não estão imunes a críticas. No meio científico, há teses que tentam desmontar o resultado central do IPCC, de que as emissões de gases do efeito estufa elevam a temperatura do globo. No entanto, o acúmulo de evidências sobre a transformação do clima nos últimos anos dá crédito ao painel da ONU."A ciência evoluiu muito nos úl­­timos anos. Foi necessário acumular evidências para dizer que sem dúvida o homem está alterando o clima, com enormes conse­­quên­­cias ambientais, sociais e econômicas", diz o físico Paulo Ar­­taxo, membro do IPCC e professor da Universidade de São Paulo (USP). Um exemplo de conhecimento recente é o fato de o período entre 1995 e 2006 ter concentrado 11 dos 12 anos mais quentes desde 1850. Segundo o relatório do IPCC, no último século a superfície da Terra ficou 0,74 grau centígrado mais quente, com o ritmo de aquecimento se acelerando a partir de 1950 para 0,13 grau por década.

O painel da ONU conclui que muito provavelmente o aquecimento seja causado pelo homem. Para a maioria dos cientistas é inegável que o clima está mudando por causa da crescente emissão de gases como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).

"O processo de mudança climática começou com a adoção de combustíveis fósseis na Revolução Industrial. A concentração de dióxido de carbono na atmosfera desde então é crescente, o que leva a um fenômeno que é bem conhecido pela ciência, o efeito estufa", explica Marcos Sanches, pesquisador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe). O efeito estufa é a retenção de radiação solar na atmosfera após ela ser refletida pela superfície da Terra por causa da presença de gases – sem eles, essa energia voltaria para o espaço.

Cenários

O último relatório do IPCC trouxe três cenários para a temperatura da Terra até 2100. Em nenhum deles o globo deixará de se aquecer de forma sensível – ou seja, não é possível reverter o processo, apenas minimizá-lo. O cenário mais otimista prevê que, com colaboração internacional e a rápida adoção de novas tecnologias, as emissões estufa passarão a crescer lentamente nos próximos 30 anos, para depois cair. Estima-se que, assim, a temperatura global subiria de 1,1 a 2,9 graus centígrados até 2100, em relação à média vista entre 1980 e 1999.

O pior cenário, que leva em con­­ta um crescimento econômico intensivo no uso de combustíveis fósseis, apresenta um aumento médio da temperatura global de 2,4 a 6,4 graus até 2100. "Há alguma incerteza científica porque centenas de fatores estão envolvidos. O problema é que os cenários mais pessimistas parecem mais próximos da realidade", afirma Fábio Feldmann, consultor e ex-secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Um dos sinais de que o processo pode ser mais rápido e intenso do que o proposto pelo IPCC vem do Oceano Ártico. Cientistas da expedição Catlin, que estão percorrendo a região, notaram que o gelo na área do Mar de Beaufort está mais fino e novo do que em anos anteriores. De acordo com os pesquisadores, o Oceano Ártico deve ficar completamente sem gelo durante o verão dentro de 20 anos. Pesquisas anteriores falavam que isso ocorreria só em 2070.

Para se ter uma ideia da complexidade das mudanças climáticas, o fenômeno do Ártico pode causar um efeito em cadeia. "O derretimento é totalmente anômalo e causa preocupação porque pode retroalimentar o aquecimento do mar. A água do mar é mais escura do que o gelo e absorve 50% mais energia. Assim a temperatura da região pode subir mais rapidamente. Isso pode mudar correntes marinhas e afetar os modelos de previsão climática em todo o mundo", afirma Jefferson Cárdia Simões, coordenador do Projeto Antártico Brasi­­leiro e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ao mesmo tempo em que derrete o mar, o aquecimento global faz com que recuem as áreas congeladas perto do Círculo Polar Ártico. Áreas que antes ficavam o ano todo cobertas de gelo agora passam meses expostas. "Estamos diante de um processo irreversível. Agora precisamos de instrumentos para reduzir sua velocidade e para nos adaptarmos a ele", diz Marcos Sanches, do Inpe.

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