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 | Joyce Hesselberth
| Foto: Joyce Hesselberth

Lenore Skenazy, mãe de duas crianças, foi apelidada de "a pior mãe dos EUA" depois de contar num jornal que deixava seu filho mais novo, de nove anos, andar de metrô sozinho em Nova York.

A crítica que sofreu, incluindo uma ameaça de prisão por colocar menores em risco, intensificou seu desejo de incentivar pais a deixarem seus filhos com a liberdade para desenvolver a autoconfiança e a perseverança.

Um dos resultados foi o livro "Free Range Kids: How to Raise Safe, Self-Reliant Children (Without Going Nuts With Worry)" ["Crianças soltas: como criar filhos seguros e autoconfiantes (sem pirar de preocupação)", inédito no Brasil].

O outro é o Projeto Free Range Kids e uma série de TV em 13 episódios, intitulada "World's Worst Mom" ("a pior mãe do mundo"). Nela, Skenazy resgata filhos da superproteção dos pais, orientando as crianças a fazerem atividades antes proibidas e mostrando como elas se saem.

O casal Danielle e Alexander Meitiv, de Washington, adota o mesmo estilo de Skenazy. Recentemente, eles viraram notícia por permitirem que seus filhos Rafi, 10, e Dvora, 6, fossem sozinhos a pé até um parque local. As crianças foram abordadas pela polícia, e a família está sendo investigada por uma instituição social.

No primeiro episódio de "World's Worst Mom", a mãe de Sam, 10, não o deixa andar de bicicleta ("Ela tem medo de que eu caia e me machuque"), cortar o bife nem praticar esportes como o skate. O apelo de Sam: "Só quero fazer as coisas sozinho".

Numa entrevista, Skenazy disse que "depois de sofrermos uma lavagem cerebral com todas as histórias que ouvimos, há um medo de que toda vez que você não está supervisionando diretamente o seu filho você está colocando a criança em perigo".

A divulgação dada a determinados crimes gerou um temor exagerado quanto aos riscos que as crianças enfrentam ao andarem ou brincarem sozinhas por aí.

Mas o psicólogo Peter Gray, do Boston College, disse que "a taxa real de estranhos que sequestram ou molestam crianças é muito pequena".

"É mais provável que isso aconteça nas mãos de um parente ou amigo da família. As estatísticas não mostram nenhum aumento nos perigos da infância. No mínimo houve uma redução", afirmou.

Gray disse que "se as crianças não puderem assumir riscos rotineiros, ficarão menos propensas a lidar com os riscos reais quando eles ocorrem.O consultório de orientação da sua faculdade observou que os chamados de emergência duplicaram nos últimos cinco anos, "principalmente para problemas que as crianças costumavam resolver sozinhas", como serem xingadas por colegas.

No passado, as crianças inventavam suas próprias brincadeiras e assim adquiriram habilidades importantes. "Em jogos improvisados", disse Gray, "as crianças fazem as regras, negociam e descobrem o que é justo para manter todos felizes. Elas desenvolvem a criatividade, a empatia e a capacidade de ler a mente dos outros jogadores".

Gray vincula o aumento da depressão e ansiedade infantis às limitações nas brincadeiras. "Os jovens de hoje estão menos propensos a ter um senso de controle sobre suas próprias vidas e mais propensos a se sentirem vítimas das circunstâncias", disse ele.

Como disse Skenazy, "se os pais realmente acreditam que as crianças devem ser supervisionadas a cada segundo, então elas não podem ir a pé para a escola, brincar ou pegar suas bicicletas e ir atrás de uma aventura".

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