A folha corrida de um terrorista de Estado

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Pinochet personificou, durante sua ditadura, o terrorismo de Estado. Apesar de não agir sozinho, as responsabilidades que pesam sobre ele, quanto à violação dos direitos humanos e às ações ilícitas de enriquecimento, são enormes. Aliás, a situação é paradoxal: foi a vinculação do seu nome com contas secretas no exterior que garantiu sua prisão domiciliar nas últimas semanas – e não sua responsabilidade pela morte ou pelo desaparecimento de mais de 3 mil chilenos.

Sendo comandante-em-chefe do Exército, traiu o presidente Salvador Allende, a Constituição e a democracia que jurara proteger. Sua atuação no golpe de 1973 ficou mais evidente com a divulgação, em 1998, de uma gravação da comunicação do alto comando feita no dia 11 de setembro: nela, Pinochet ordena, sem vacilar, que se derrube o avião que levaria Allende ao exílio.

Entre os crimes cometidos logo após o golpe, está a morte do cantor popular Victor Jara, autor de "Te Recuerdo Amanda". Torturado com ferocidade, ele teve as mãos destroçadas antes de ser executado. Triste lembrança deixou também a caravana da morte, unidade de extermínio que se deslocava pelo Chile em um helicóptero, eliminando opositores.

O ex-ditador foi o mentor intelectual da Operação Condor, a conexão internacional das ditaduras do Cone Sul. É fato documentado que Pinochet foi o condor número um do Chile e que pela operação foram assassinados brutalmente, entre outros, dois ex-ministros de Allende – Prats, na Argentina, e Letelier, nos EUA.

Pinochet ainda atrai simpatizantes em seu país, mas seu legado estará sempre associado a um autoritarismo exacerbado, a um anticomunismo virulento, a uma escalada repressiva inédita e ao medo.

Sua ausência permitirá intensificar as ações legais para responder às consignas de Verdade e Justiça. Sem a sua sombra, quem sabe, se abrirão as grandes alamedas, como profetizara Allende antes de morrer. Nem que seja para acabar com a impunidade dos co-autores dos crimes do pinochetismo.