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Sob críticas de partidos de esquerda pela invocação de uma lei dos anos 50 para adotar o toque de recolher contra os distúrbios urbanos dos últimos dias, o governo da França viu-se obrigado a sair em defesa de sua estratégia e a prometer comedimento na aplicação das medidas de emergência. O primeiro-ministro Dominique de Villepin disse que o Estado será "firme e justo", assegurou que o controle dos meios de comunicação está excluído do pacote e anunciou que a repressão não será a única arma para conter a violência que eclodiu em protestos de jovens contra o racismo e o desemprego.

Se por um lado o toque de recolher parece algo inimaginável para um país como a França (que antes adotou a lei apenas fora de seu território), por outro Villepin lembrou que a nação também não está se reconhecendo na violência das ruas e se vê "na hora da verdade". Num discurso à Assembléia Nacional, o primeiro-ministro anunciou que o governo vai criar uma agência de coesão social e igualdade de oportunidades.

- A república enfrenta um momento da verdade. A França está ferida. Não pode se reconhecer nas ruas e nas áreas devastadas, nesses rompantes de ódio e violência que destroem e matam - disse Villepin aos deputados. - A volta à ordem é a prioridade absoluta. O governo mostrou isso. Vai tomar todas as medidas necessárias para assegurar a proteção de nossos cidadãos e restaurar a calma. Vemos esses eventos como um aviso e um apelo.

Mais cedo, o presidente Jacques Chirac teve que argumentar diante do Conselho de Ministros em favor da restrição de circulação, dizendo que isso era fundamental para acelerar a volta à calma. O conselho aprovou o decreto anunciado na segunda-feira por Villepin, que coloca o país em estado de emergência e permite o toque de recolher. O decreto começa a vigorar nesta quarta-feira.

O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, disse que as medidas não vão tirar a liberdade dos cidadãos, mas que o governo "não pode ceder à força dos bandos".

Sarkozy deve decidir a lista dos municípios onde os prefeitos poderão decretar toque de recolher. Nessas cidades ou em parte delas, poderá se restringir ou proibir a circulação de pessoas e veículos, sob penas que podem chegar a dois meses de prisão. Os prefeitos poderão utilizar medidas de confinamento contra os responsáveis pelos tumultos, exigir a entrega de armas e selar lugares públicos que servem de ponto de encontro para os bandos.

As 12 noites de violência na periferia de Paris e em bairros pobres de várias cidades do país são atribuídas a jovens franceses, em sua maioria filhos de cidadãos vindos de ex-colônias. Eles queixam-se da discriminação, racismo e falta de oportunidades. Além da criação da agência de coesão social, Villepin prometeu ampliar medidas que ataquem os problemas de base dos bairros pobres, como educação, emprego, economia e urbanização.

As medidas de emergência e as promessas do governo foram recebidas com desconfiança pela esquerda francesa.

- Seu governo, senhor primeiro-ministro, é altamente responsável por essa explosão de paixões - confrontou o deputado socialista Jean-Marc Ayrault.

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