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Centenas de funcionários federais em licença não remunerada fazem fila em frente à World Central Kitchen, uma organização sem fins lucrativos que oferece refeições em situações de desastres naturais e tem servido os funcionários afetados pela paralisação, em Washington, 22 de janeiro |  CHIP SOMODEVILLA / AFP
Centenas de funcionários federais em licença não remunerada fazem fila em frente à World Central Kitchen, uma organização sem fins lucrativos que oferece refeições em situações de desastres naturais e tem servido os funcionários afetados pela paralisação, em Washington, 22 de janeiro| Foto:  CHIP SOMODEVILLA / AFP

O “shutdown”, ou a paralisação de serviços do governo norte-americano, já é a maior da história. A mídia continua usando o termo “crise” para falar da questão. “A paralisação revela caos, confusão e ansiedade!”, diz o Washington Post. “O sofrimento se espalha por toda parte”. As manchetes do New York Times dizem que “passou dos limites!” 

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Mas calma lá. Olhando para os Estados Unidos, vejo as pessoas levando suas vidas – as famílias comendo em restaurantes, os funcionários indo trabalhar, as crianças brincando nos parquinhos, etc. Preciso perguntar: onde está a crise? 

Os especialistas falam como se o governo fosse a parte mais importante do país, mas não é. Precisamos de algum governo, de um governo limitado. Mas a maior parte da vida, o melhor da vida, acontece sem o governo – e muitas das melhores partes apesar do governo. 

É claro que a paralisação é um tema relevante para as 800 mil pessoas que não estão recebendo o seu salário. Mas elas serão pagas. Servidores públicos sempre são pagos após paralisações. 

O colunista Paul Krugman chamou esta paralisação de “o grande experimento libertário de Trump”. Mas não é libertário. As regras excessivas do governo continuam em vigor, e eventualmente os servidores públicos serão pagos por não trabalhar – o que faz disso tudo um experimento em grande parte não-libertário. 

No entanto, há lições a aprender. Durante uma paralisação quando Barack Obama era presidente, funcionários do governo estavam tão ansiosos por sublinhar sua pauta através do incômodo causado às pessoas que estavam até impedindo visitantes de entrar em parques públicos. 

O governo Trump não está fazendo isso, então a rede PBS encontrou uma nova crise: “Lixeiras transbordando... As equipes dos parques não podem limpar a bagunça enquanto o Congresso e o presidente não cheguem a um acordo”, reportou o programa NewsHour. 

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Mas voluntários apareceram para recolher parte do lixo. Quando têm a chance, é comum que cidadãos se metam a fazer coisas que o governo diz que só ele pode fazer. 

O Washington Post manchetou em uma capa que os fazendeiros estavam “mal das pernas”, “porque não estavam recebendo os subsídios do governo”. Mas a questão é: por que afinal de contas eles recebem subsídios? Uma justificativa é que a medida serve para “salvar a agricultura familiar”. Mas o dinheiro vai para grandes fazendas. 

O governo não precisa “garantir o abastecimento de alimentos”, outra justificativa para os subsídios. A maior parte dos produtores de frutas e vegetais não recebem subsídios, e mesmo assim não temos escassez de pêssegos, ameixas, vagens, etc. 

Os subsídios são um embuste criado por políticos que lucram com o agronegócio produzindo trigo, algodão, milho e soja. Esses agricultores deveriam ir se catar e viver sem subsídios também. 

Durante paralisações, o governo diz que “servidores que não são essenciais” não devem ir trabalhar. Mas se 400 mil funcionários não são essenciais, por que os pagamos? Por que ainda pagamos por 100 mil soldados norte-americanos na Alemanha, no Japão, na Itália e na Inglaterra? Já não vencemos essas guerras? 

Poderíamos passar a faca em boa parte do governo. O New York Times clama: “O shutdown paralisa as inspeções alimentares da FDA (Food and Drug Administration)!” Mas se você continua lendo, descobre que a inspeção de carne vermelha e de aves é feita pelo Departamento de Agricultura – que continua funcionando. E até a FDA também já está retornando com algumas das inspeções que lhe cabem. 

O mais importante é o seguinte: a carne é segura não por causa do governo, mas por causa da competição. Vendedores de alimentos se preocupam com a sua reputação. Eles sabem que vai ser uma propaganda muito ruim para eles se envenenarem pessoas, então tomam ainda mais medidas de segurança do que o governo exige. Um produtor de carne me disse que emprega 2 mil fiscais a mais do que a lei requer. 

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Repórteres preguiçosos cobrem políticos. Os entrevistados estão geralmente em um só lugar – Washington. Entrevistar políticos é mais fácil do que fazer reportagens sobre as pessoas que vão atrás de seus próprios interesses em todo o país. Mas são essas pessoas que fazem os Estados Unidos funcionarem. Enquanto especialistas e políticos agem como se tudo dependesse da intervenção do governo, o oposto é que é verdade. 

Até a segurança é um trabalho que o setor privado faz melhor. No aeroporto de São Francisco, as filas de segurança andam mais rápido. “Os funcionários da vistoria são mais simpáticos!”, me dizem. A Administração para a Segurança dos Transportes até mesmo reconheceu que esses funcionários são melhores na tarefa de detectar contrabando. Isso porque São Francisco – assim como Kansas City, Seattle e uma dúzia de aeroportos menores – privatizaram o processo. Empresas privadas são responsáveis pela segurança. 

Essas empresas são melhores porque precisam competir. Se fizerem um serviço ruim, são demitidas. Mas o governo nunca demite a si mesmo. Os servidores públicos bradam: “Somos essenciais!” Mas eu digo: “Deem um tempo. A maioria de vocês não é”. 

John Stossel é apresentador de "Stossel" na Fox Business Network e autor de "No They Can't! Por que o governo falha - mas os indivíduos têm sucesso". 

Tradução de Felipe Sérgio Koller 

©2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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