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Apoiador do presidente interino da Venezuela e líder da oposição a Maduro, Juan Guaidó, protesta em Caracas em 11 de maio
Apoiador do presidente interino da Venezuela e líder da oposição a Maduro, Juan Guaidó, protesta em Caracas em 11 de maio| Foto: Marvin RECINOS / AFP

Quando precisam explicar por que seus esforços para retirar Nicolás Maduro do poder não tiveram sucesso, os funcionários do governo Trump normalmente citam a influência sombria de Cuba e da Rússia, que, segundo eles, endureceram a resistência do regime. O que eles não falam muito é um fator possivelmente mais importante: o Cartel dos Sóis.

Esse termo colorido refere-se à rede de tráfico de drogas que a cada ano transporta centenas de toneladas de cocaína colombiana de campos de aviação venezuelanos para a América Central e Caribe para distribuição final nos Estados Unidos e Europa – e isso inclui alguns dos funcionários mais graduados do regime de Maduro. Esses homens não estão se apegando ao poder porque são verdadeiramente leais ao socialismo, ou por causa de sua fidelidade a Vladimir Putin e Raúl Castro. Eles se agarram porque, apesar da implosão econômica da Venezuela, ainda estão colhendo milhões – e é provável que sejam presos na Venezuela ou nos Estados Unidos se eles se afastarem.

O tráfico de cocaína é apenas uma das inúmeras atividades criminosas em que a elite da "revolução bolivariana" de Hugo Chávez está imersa. Há também mineração ilícita de ouro e ferro; vendas fraudulentas de petróleo; comissão irregular por importação de alimentos e medicamentos; e negociação corrupta de moedas. Maduro e todos perto dele, incluindo sua esposa, seu número dois, e os ministros do Interior e da Indústria, estão mergulhados até o pescoço nesses esquemas.

Embora tanto o governo Trump quanto os defensores estrangeiros de extrema esquerda de Maduro prefiram descrever a crise venezuelana em termos políticos, a realidade é que o regime é menos um governo – muito menos um governo socialista – do que uma gangue criminosa. Isso tem duas consequências que estão complicando sua remoção. Primeiro, o dinheiro que o regime está colhendo das atividades criminosas está servindo como um suporte que permite que ele sobreviva às sanções dos EUA.

Talvez mais importante ainda, a contaminação tóxica sobre quase todos os altos funcionários torna muito mais difícil seguir as fórmulas habituais para uma transição pacífica, incluindo a criação de um governo de transição e anistia para aqueles que deixarem o poder.

Receita ilícita em crescimento

O colapso da economia regular da Venezuela criou escassez extrema de alimentos, água, remédios e energia, e fez com que mais de 10% de seus 30 milhões de habitantes fugissem do país. No entanto, a receita ilícita que é abundante para o grupo de Maduro parece estar aumentando. Uma reportagem recente da CNN disse que os voos de transporte de drogas a partir da Venezuela aumentaram de cerca de dois por semana em 2017 para quase diariamente em 2018; a reportagem cita um funcionário dos EUA que diz que houve até cinco voos por noite este ano. Em 2018, estima-se que 265 toneladas de cocaína colombiana, com um valor de mercado de US$ 39 bilhões, foram traficadas pela Venezuela, segundo a reportagem.

Outro novo estudo elaborado pela Universidade Nacional de Defesa por Douglas Farah e Caitlyn Yates descobriu que mesmo enquanto o regime de Maduro vendia 73 toneladas de ouro na Turquia e nos Emirados Árabes Unidos no ano passado para levantar dinheiro, suas reservas cresceram 11 toneladas – o resultado provável de mineração ilegal de ouro, incluindo por grupos rebeldes colombianos baseados na Venezuela e aliados do regime. Essas vendas poderiam ter levantado perto de US$ 3 bilhões, mais do que o suficiente para financiar as forças de segurança e grupos paramilitares ainda leais a Maduro.

Farah e Yates descrevem o regime venezuelano como parte de uma rede regional que eles chamam de Empresa Criminal Conjunta Bolivariana, um "consórcio de atores estatais e não estatais criminalizados". Eles identificaram 181 indivíduos e 176 empresas em 26 países ligados à atividade criminosa venezuelana. Graças a esse empreendimento, dizem eles, "o regime de Maduro não entrou em colapso e pode durar por um período significativo... A capacidade da rede de se adaptar e diversificar sua carteira criminosa significa que o dinheiro continua a fluir para os cofres do regime".

Em teoria, a oposição venezuelana, o governo Trump e outros que buscam remover Maduro poderiam resolver perdoar tudo isso. A oposição falou sobre anistia para os líderes militares que se voltarem contra o regime e, na semana passada, o Departamento do Tesouro suspendeu as sanções do chefe de inteligência da Venezuela depois que ele desertou.

Por uma questão prática, no entanto, é difícil imaginar a maioria da máfia de Maduro simplesmente indo embora. Pelo menos dois de seus capangas foram indiciados por júris federais dos EUA. Outro, o ex-general Hugo Carvajal, fugiu para a Espanha no mês passado – e foi prontamente preso por um pedido de extradição dos EUA. Ele enfrenta acusações federais de contrabando de cocaína.

Alguns líderes da oposição e governos estrangeiros esperam conseguir uma administração transitória que inclua figuras do regime. Mas, como a veterana ativista da oposição María Corina Machado disse ao Washington Post, "você não pode ter chefões do narcotráfico... você não pode ter indivíduos que façam parte da máfia de tráfico de ouro, tráfico de petróleo e gás ou máfias de alimentos". Isso, infelizmente, pode excluir quase todos os que têm o poder de provocar uma mudança pacífica em Caracas.

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