• Carregando...

O especialista em Magreb e islamismo Kader Abderrahim, do Instituto de Estudos Políticos (IEP), de Paris, prevê um agravamento dos protestos no Oriente Médio. Ao mesmo tempo, acha difícil não haver manipulações antiamericanas por trás do episódio. O analista conversou com a Agência O Globo de Túnis, capital da Tunísia, onde também ocorreram manifestações violentas hoje.

Como o senhor analisa as consequências do ataque ao consulado dos EUA em Benghazi?

Há uma dificuldade em compreender o que se passa e também em imaginar que um filme que ninguém viu provoque tais reações de violência. Aqui em Túnis houve manifestações de violência diante da embaixada americana, com tiros com munição letal por parte da polícia. A situação se torna bastante grave. Estas manifestações haviam sido anunciadas, e não se pode entender por que o governo aqui não se organizou melhor para isto. Confesso que fiquei surpreso com o que ocorreu na Tunísia, um país de forte tradição de Estado.

Como vê a situação na região?

Há uma dificuldade geral em distinguir o verdadeiro do falso, e prever o que poderá acontecer, porque a situação é muito sensível e poderá se descontrolar de maneira bastante rápida. Vemos que os protestos — na Líbia, no Egito, na Tunísia, no Iêmen ou no Sudão — ocorreram em países nos quais há dois anos se nota uma forte mobilização popular contra os antigos ditadores, e que não conseguem alcançar uma real estabilidade. As manifestações perduram, e as instituições não obtiveram crédito nem estabilidade. Custa-me crer que tenha sido apenas um filme a provocar tais reações. Não se pode excluir a possibilidade de manipulações. Tudo ocorre logo após o aniversário dos ataques do 11 de Setembro. Deve-se colocar tudo nesse contexto, e ao mesmo tempo é preciso prudência.

Qual é o quadro na Tunísia?

As pessoas estão inquietas e chocadas. É extremamente complicado explicar a estes tunisianos, hoje, que os EUA são um país onde reina a liberdade de expressão, assim como explicar aos não muçulmanos até que ponto esta questão da imagem do profeta e de seu papel é muito importante. Vemos uma incompreensão mútua. Hoje, penso que a situação pode piorar. E não sabemos o que poderão fazer os EUA para acalmar o jogo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]