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Primeiros dias do pontificado de Francisco estão carregados de atos de desprendimento, coerentes com seus ensinamentos | Alessandro Bianchi/Reuters
Primeiros dias do pontificado de Francisco estão carregados de atos de desprendimento, coerentes com seus ensinamentos| Foto: Alessandro Bianchi/Reuters

Rede global

A última análise da estatística da Agência Fides, do Vaticano, de outubro de 2012, apresenta milhares de hospitais e escolas mantidos pela Igreja, assim como iniciativas próximas, como a Campanha Mundial da Educação, ou o Projeto Ágata Esmeralda, realizado com a parceria Milão-Salvador. Entre as instituições administradas pela Igreja em todo o mundo estão:

70.544 escolas maternais, frequentadas por 6.478.627 alunos.

547 leprosários, distribuídos principalmente na Ásia (285) e África (198).

17.223 casas para idosos, doentes crônicos e portadores de deficiência, em maioria na Europa (8.021) e América (5.650).

9.882 orfanatos, um terço dos quais na Ásia (3.606).

43.591 institutos secundários, com 17.793.559 alunos.

92.847 escolas fundamentais, com 31.151.170 alunos.

5.305 hospitais, com maior presença na América (1.694) e África (1.150).

18.179 postos de saúde, em maioria na América (5.762), África (5.312) e Ásia (3.884).

Preocupação antiga

A ênfase do papa Francisco nas questões sociais pode fazer parecer que essa é uma novidade na Igreja, mas a Doutrina Social da Igreja tem raízes no pensamento de grandes teólogos cristãos, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. No entanto, documentos específicos sobre o tema surgiram a partir do fim do século 19.

1891 – Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII

1961 – Encíclica Mater et Magistra, de João XXIII

1963 – Encíclica Pacem in Terris, de João XXIII

1965 – Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II

1967 – Encíclica Populorum Progressio, de Paulo VI

1971 – Carta Apostólica Octogesima Adveniens, de Paulo VI

1981 – Encíclica Laborem Exercens, de João Paulo II

1991 – Encíclica Centesimus Annus, de João Paulo II

2005 – Compêndio de Doutrina Social da Igreja

2009 – Encíclica Caritas in Veritate, de Bento XVI

Se o ditado popular diz que "frei exemplo é o melhor pregador", imagine se o frei chega a papa. É o caso de Francisco, cujos primeiros dias de pontificado estão carregados de atos de desprendimento que, ao lado de seu histórico como arcebispo de Buenos Aires, dão pistas sobre a contribuição que ele pode dar à Doutrina Social da Igreja, o corpo de ensinamentos católicos relativos a temas como distribuição de renda e sistemas econômicos e que começou a ser consolidado no fim do século 19.

Que o tema é caro ao papa ficou evidente no encontro com a presidente argentina, Cristina Kirchner. O pontífice presenteou sua compatriota justamente com um Compêndio da Doutrina Social da Igreja, publicação lançada em 2005. Tendo liderado os católicos portenhos durante momentos difíceis na economia do país, o então arcebispo Jorge Mario Bergoglio manifestou seu compromisso com a justiça social não apenas ao trabalhar preferencialmente em bairros de periferia, mas também adotando sinais de simplicidade, como morar em um apartamento pequeno em vez do palácio episcopal; utilizar o transporte público, recusando um carro de luxo com motorista; e cozinhar a própria comida, dispensando o trabalho de empregados.

Para a professora de Ética e Doutrina Social da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, a brasileira Maria Aparecida Ferrari, a salvação da pessoa envolve os aspectos espirituais e corporais, e por isso a história registra muitas iniciativas de caráter assistencial da Igreja Católica, como o atendimento a doentes, enfermos, pobres e peregrinos. Mas uma frase do papa na missa de encerramento do conclave indica o seu pensamento sobre a atividade caritativa da Igreja: "Se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG piedosa, mas não a Igreja, esposa do Senhor".

"A Igreja não é simplesmente uma obra de beneficência porque visa à salvação das almas, no primeiro plano, sem desprezar o segundo", analisa Maria Aparecida. "Assim como da Igreja e da ação dos cristãos nasceram os hospitais, no berço desta doutrina também foram desenvolvidas as escolas, que promovem a educação como alimento da alma."

>big>Pontífice despojado causa apreensão

Círculos autodenominados "tradicionalistas", característicos por seu apego à liturgias elaboradas e à missa tridentina, demonstraram certa apreensão pelo modo como se apresentou o papa Francisco, com algumas simplificações – permitidas pelas regras litúrgicas, ressalte-se – em relação ao modo como Bento XVI celebrava.

O monsenhor brasileiro José Aparecido Gonçalves de Almeida, que trabalha na Cúria Romana como canonista, não compartilha dessa preocupação, mas constata que o papa Francisco provavelmente celebrará suas missas despojando-se de alguns sinais exteriores como trombetas, arranjos musicais complexos e alguns tipos de paramentos excessivamente bordados ou com rendas, que para o pontífice atual podem parecer aparatosos.

"Mas isso não é liturgia, é gosto opinável de pessoas que estão trabalhando – e creio que com sincero zelo – para preparar as liturgias do Romano Pontífice", diz o monsenhor José Aparecido.

Fios

"Quem consegue imaginar Bento XVI preocupado com fios dourados e dando indicações sobre as rendas das túnicas ou sobre os clarins que ressoam na Basílica para anunciar que o sumo pontífice está entrando?", questiona o canonista, ressaltando que o pensamento litúrgico do agora papa emérito era muito mais profundo, e que os detalhes exteriores são apenas reflexo do modo como Bento XVI entende o culto litúrgico.

Homilia

"Sinceramente só consigo imaginá-lo [Bento XVI] preocupado em preparar-se para a missa na oração, em preparar uma homilia de altíssima teologia, profunda doutrina e linguagem simples que minha mãe consegue entender, mesmo ouvindo-a em italiano. Assim como o papa atual, a quem eu vejo rezando, celebrando como Bento XVI e – embora sem cantar – entrando no mistério de Cristo, pregando com amor uma palavra de vida", completa o sacerdote.

Viagem

Dom Geraldo Majella vai a Florença para trabalhar em projeto assistencialista

O arcebispo emérito de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, viajou a Florença após a celebração da missa do início do pontificado do papa Francisco. "Eu não vou para passear, mas para trabalhar em uma entidade italiana que adotou 10 mil crianças na Bahia", esclareceu o cardeal à Gazeta do Povo, quando se preparava para viajar.

Trata-se do Projeto Ágata Esmeralda, uma associação de adoção à distância, fundada em 1992 pelo florentino Mauro Barsi, por meio de um convênio firmado entre as arquidioceses de Florença e Salvador. Nascido em 1946, Barsi foi professor de Letras em uma escola média de ensino superior e colaborador do cardeal Lucas Moreira Neves, à época arcebispo de Salvador e, depois, prefeito da Congregação para os Bispos, no Vaticano. O nome da instituição é uma homenagem a Ágata Esmeralda, a primeira menina, de pais desconhecidos, acolhida no Hospital dos Inocentes, em Florença, em 1445.

Há cerca de 20 anos o projeto Ágata Esmeralda atua em Salvador e região metropolitana, sendo responsável pela adoção de mais de 10 mil crianças por italianos e por projetos de educação em bairros carentes. Entre as várias frentes de trabalho está o Centro Afro de Promoção e Defesa da Vida Ezequiel Ramin, que oferece educação infantil, reforço escolar e aulas de capoeira e percussão para crianças e jovens, em Lauro de Freitas.

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