Um rebelde novato nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) é treinado por um veterano nas montanhas ao norte de Medellin, Colômbia, em 31 de agosto de 2018. Rebeldes estão se rearmando, a violência está aumentando no campo e o novo governo está hesitando em seu compromisso com o acordo de paz alcançado em setembro de 2016| Foto: Federico Rios Escobar / The New York Times

O acordo de paz assinado em 2016 entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) encerrou um conflito de cinco décadas que deixou pelo menos 220 mil mortos no país e marcou o início de uma nova era. O pacto rendeu um prêmio Nobel da Paz ao então presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. Mas muitos dos ex-combatentes que entregaram suas armas após o pacto voltaram a lutar, e assim a paz duradoura ainda parece incerta no país.

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Cerca de um terço dos ex-combatentes das Farc voltaram a pegar em armas após o acordo de paz, informou a agência de notícias Reuters com base em um relatório militar confidencial em 5 de junho. Segundo o documento, o número de combatentes atualmente nas Farc chega a 2.300, um grande aumento dos cerca de 300 combatentes da época do acordo de paz.

O relatório diz que existem 31 grupos dissidentes das Farc operando em regiões que cultivam coca, que serve de matéria-prima para a cocaína, e em áreas de mineração ilegal de ouro. As atividades de guerrilha das Farc eram financiadas em parte pelo tráfico de drogas.

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Sob o acordo de paz, os agricultores tiveram ajuda para substituir o cultivo de coca por alternativas legais, como café e cacau. Apesar disso, a indústria da droga está prosperando no país. Autoridades colombianas estimam que mais de um quarto da gasolina vendida no país no ano passado tenha sido usado pela indústria das drogas, que usa o combustível tanto como ingrediente quanto para geração de energia, segundo o jornal The Guardian.

Moradores da pequena cidade de Riosucio disseram ao jornal britânico que alguns postos de combustível do local são controlados por narcotraficantes, que muitas vezes são aliados de paramilitares que agem em conluio com forças do estado.

Escândalo Santrich

O acordo de paz garantiu benefícios aos ex-integrantes da guerrilha em troca da promessa de desarmamento e do fim dos atos de violência. Entre os benefícios, eles podem escolher cinco integrantes para o Senado e cinco para a Câmara dos Deputados.

Uma dessas vagas é do ex-comandante das Farc, Jesús Santrich, que assumiu o seu mandato como deputado em 11 de junho, após ser liberado da prisão.

Santrich, que foi um dos integrantes da equipe de negociadores do acordo, foi acusado de enviar dez toneladas de cocaína para Miami depois da assinatura do pacto de paz. O caso foi julgado pela Justiça Especial pela Paz (JEP), o tribunal especial criado para atuar em casos relacionados a delitos cometidos antes do estabelecimento do acordo de paz e que tem condenado vários ex-guerrilheiros com penas alternativas.

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O JEP afirmou que não foi possível comprovar se o envio da droga para o exterior ocorreu antes ou depois de 1º de dezembro de 2016, a data da assinatura do acordo, e o tribunal só pode atuar em casos anteriores a essa data. Assim, o tribunal pediu a sua liberação de Santrich, que estava na prisão desde abril de 2018.

Agora, ele passa a integrar a bancada da Farc, que mudou o seu nome para Força Alternativa Revolucionária do Comum ao se tornar um partido. Como deputado, não pode mais ser julgado pela JEP e nem pela justiça comum. As acusações contra ele serão analisadas pela Corte Suprema.

Santrich foi recebido no Congresso com rechaço pelos partidos de centro direita, especialmente os que formam a bancada do governo. Causou surpresa no país o fato de dirigentes do partido Alianza Verde, de centro esquerda, o maior opositor de Iván Duque no Congresso e grande defensor dos acordos de paz com a Farc, também terem se manifestado em repúdio à chegada do ex-guerrilheiro no Congresso.

Os congressistas seguravam cartazes que diziam "Não queremos narcotraficantes, fora Santrich".

O presidente Iván Duque tem sofrido desgaste político nos últimos meses. Eleito em agosto de 2018 com a plataforma de endurecer a luta contra o tráfico e a corrupção, bem como de rever pontos do acordo de paz, que ele considera muito favorável aos guerrilheiros, o presidente ainda não conseguiu cumprir suas promessas. O presidente não quer que a JEP considere o crime de narcotráfico passível de anistia.

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Duque havia sugerido ao Congresso a alteração de seis pontos do pacto para tornar as penas mais duras, mas as propostas foram derrotadas no Congresso em 29 de maio.