Secretário de Estado norte-americano John Kerry (esq.) conversa com Hossein Fereydoun (ao centro), irmão do presidente iraniano, Hassan Rouhani, e o ministro de Relações Exteriores de Teerã Javad Zarif (dir.)| Foto: HANDOUT/REUTERS

O acordo nuclear entre o Irã e o Grupo 5+1 (formado por Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha), alcançado após maratonas de diálogos que duraram mais de 20 meses, provocou ceticismo entre os países do Golfo Pérsico, de tendência sunita, que o consideraram preocupante e contrário aos interesses de suas monarquias.

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Tudo dependerá das interpretações ideológicas feitas deste acordo histórico entre o Irã (máximo expoente do xiismo), mas a sensação geral que paira entre os países árabes do Golfo é de preocupação diante de uma aparente aproximação entre o Irã -- histórico inimigo dos sunitas --e os Estados Unidos, habitual aliado da Arábia Saudita, a grande potência petrolífera mundial.

Em comunicado, os países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG, integrado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã) mostraram hoje esperança de que esse acordo dissipe seus temores sobre o regime iraniano e preserve a segurança e estabilidade da região.

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O escritor e analista Ahmed al Bakri disse à Agência Efe que os países do Golfo se mostraram receosos desde o começo do projeto nuclear iraniano e com as intenções do Irã, que “são refletidas em seu comportamento agressivo na região”.

Na mesma linha, o escritor saudita Ahmed Daif lamentou, em declarações à Efe, o comportamento do Irã nas últimas décadas em relação a Iraque, Iêmen e Síria, e advertiu que o país “não inspira confiança em suas intenções” para com os países da região.

O Irã é acusado pelos países do Golfo de promover os conflitos no Oriente Médio através de seu apoio a grupos como os houthis no Iêmen, os xiitas do Iraque, e com suas milícias que lutam junto ao ditador Bashar al Assad na Síria.

Nesse contexto, ambos compreendem os receios dos Estados do Golfo Pérsico em relação ao Irã.

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“É natural que estes países expressem temores de que o acordo possa ser interpretado como uma cumplicidade ocidental para desenvolver o projeto nuclear e promover o Irã como ‘um policial’ da região”, opinou Bakri.

O analista acrescentou que estas preocupações foram reforçadas pela “ambiguidade que rodeia as circunstâncias do acordo e o sigilo sobre alguns de seus artigos e detalhes de procedimento”.

Daif justificou o medo dos países do Golfo por também não haver mecanismos para evitar que o programa iraniano transforme sua suposta natureza pacífica em “propósitos de guerra”, que serviria para implementar “sua agenda de dominação da região”.

“Não compreendo este silêncio para as intenções do Irã, sobretudo porque Teerã não mostrou sinais que sugiram mudança em sua política de derramamento de sangue, pois continua a apoiar milícias terroristas nos países vizinhos e o regime de Bashar al Assad, que mata sua própria gente com dinheiro iraniano”, advertiu Daif.

Além disso, explicou que o acordo nuclear “não recolhe mecanismos para enfrentar a manipulação e a fraude na interpretação dos tratados como está acostumado o Irã”.

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Por tudo isso, o analista lamentou que este acordo represente “uma oportunidade” para que o Irã se livre das sanções e fortaleça suas capacidades militares com o passar do tempo.

Nesse sentido, embora a Arábia Saudita tenha feito um comunicando ontem expressando seu apoio ao acordo, um funcionário saudita disse à agência estatal de notícias, “SPA”, que o reino prefere que as sanções impostas ao Irã sejam mantidas devido ao seu apoio ao terrorismo e à violação das convenções e dos tratados internacionais ao armar grupos rebeldes na região.

Além disso, a Liga Árabe expressou esperança de que o acordo assinado em Viena tenha resultados positivos para o mundo árabe e ponha um fim no rearmamento nuclear no Oriente Médio, embora tenha reconhecido que um aumento da influência iraniana “poderia afetar negativamente a segurança e a estabilidade” da região.

Para acalmar os ânimos, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, procurou o rei saudita, Salman bin Abdulaziz, para reiterar a promessa que fez na conferência de Camp David, em maio, de que seu país apoiará o CCG diante de qualquer “agressão” externa e com o uso da força se necessário for.

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Enquanto isso, o secretário de Estado americano, John Kerry, ligou para os ministros de Relações Exteriores dos outros países do CCG para explicar os detalhes do nuclear e seu desejo de continuar com a coordenação para desenvolver interesses comuns de segurança e estabilidade regional.

Para dissipar dúvidas, os membros do CCG e dos EUA combinaram realizar em breve uma reunião, mesmo que isso não melhore a sensível relação entre xiitas e sunitas da região, nem ponha fim à corrida pela liderança de um ferido Oriente Médio, dessangrado por conflitos sectários e ameaçado pelo terrorismo.