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Presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Barack Obama, dos EUA, durante encontro do G20 ocorrido no início do mês | Pablo Martinez Monsivais/Reuters
Presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Barack Obama, dos EUA, durante encontro do G20 ocorrido no início do mês| Foto: Pablo Martinez Monsivais/Reuters

Discursos

Irã e Palestina mostram disposição para colocar fim a conflitos históricos

Além de marcar a definição do acordo para acabar com as armas químicas na Síria, a Assembleia Geral da ONU, realizada na semana passada em Nova York, deu outras mostras de que a diplomacia pode ser o caminho para solucionar outros conflitos e impasses mundo afora. Ao mesmo tempo em que Irã e Estados Unidos ensaiaram uma reaproximação após 34 anos, a liderança palestina pediu empenho da comunidade internacional para selar um acordo de paz definitivo com Israel.

Na quinta-feira, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e o chanceler do Irã, Mohammad Javad Zarif, se encontraram para discutir o impasse que envolve o programa nuclear iraniano. No dia seguinte, foi a vez do presidente americano Barack Obama conversar por telefone com o presidente iraniano Hassan Rouhani. Washington e Teerã romperam relações diplomáticas logo depois da Revolução Islâmica iraniana de 1979.

Pressão

Em relação ao conflito histórico entre israelenses e palestinos, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, pediu em discurso que a comunidade internacional exerça toda a pressão possível para que as negociações possam alcançar um acordo de paz "definitivo". Falando pela primeira vez em nome do Estado da Palestina na ONU, Abbas destacou a participação do governo norte-americano no reatamento das conversas com Israel. "[Essas conversas] parecem ser a última oportunidade de conseguir uma paz justa", advertiu.

  • Mahmoud Abbas pede apoio da comunidade internacional
  • Rouhani conversou com Obama na sexta-feira por telefone

Quando o mundo parecia na iminência de um confronto de proporções inimagináveis, eis que duas das principais potências do mundo chegaram a um acordo e evitaram uma ofensiva militar. A postura de Estados Unidos e Rússia na resolução do impasse pelo uso de armas químicas na Síria mostrou que a diplomacia ainda pode prevalecer sobre o belicismo. Na última semana, durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), muitos discursos apontaram para uma política voltada para o diálogo. Para analistas, porém, ainda é cedo para apostar em um avanço na solução dos principais conflitos do planeta.

Na última sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU aprovou um acordo para que a Síria destrua seu arsenal químico. Com a decisão, evitou-se que o governo dos EUA promovesse um ataque militar ao país, o que era contestado por parte da comunidade internacional e pelos próprios norte-americanos, que em pesquisas de opinião se mostravam amplamente contrários à intervenção.

Para Guilherme Casa­rões, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), o acordo foi uma vitória das diplomacias russa e síria, que criaram as condições para que os EUA aceitassem recuar na ideia de intervir e acatassem uma solução pacífica. "Após desenhar a chamada ‘linha vermelha’ [o uso de armas químicas, tido como situação limite para agir na Síria], ficou difícil para o presidente [Barack] Obama encontrar alternativas à ação militar. No fundo, prevaleceu o bom senso diplomático, por mais que isso tenha representado uma derrota política de todos aqueles que esperavam que a intervenção ocorresse", avalia.

Já o professor Hermes Moreira Junior, da Universi­dade Federal da Grande Dourados (UFGD), considera precipitado falar em vitórias, ainda que tenham sido amenizados os discursos em torno de uma intervenção. "Parece muito mais ter sido uma derrota da proposta do Executivo norte-americano, que não reuniu apoio do Congresso, não contou com suporte da opinião pública nos Estados Unidos e enfrentou forte resistência internacional", acredita.

Ceticismo

Moreira não vê com entusiasmo a possibilidade de esforços diplomáticos solucionarem conflitos como do Egito ou entre Israel e Palestina. "Haja vista que não foi o esforço diplomático que gerou a construção desse acordo, mas a ausência de condições domésticas e internacionais para uma intervenção norte-americana, não seria adequado imaginar que as expectativas de resolução desses casos possam vir a ser positivas", afirma.

"Diante de crises internacionais graves, sobretudo daquelas que representem algum tipo de ameaça aos interesses nacionais dos Estados Unidos, a solução militar será sempre uma possibilidade no horizonte", acrescenta Casarões.

Limitações prejudicam ação da ONU

Responsável por mediar conflitos e principal fórum para resolução de divergências na comunidade internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem atuado para tentar fazer valer a diplomacia. Apesar de algumas amarras e de a organização tropeçar em suas próprias limitações, especialistas acreditam que seu papel não pode ser desprezado.

"Seu papel de mediador de conflitos é útil, na medida em que oferece um fórum onde os países podem discutir, pelas vias diplomáticas, as soluções para as questões internacionais. Sua submissão aos interesses nacionais, contudo, limita bastante esse papel que a ONU tenta desempenhar", analisa Guilherme Casarões, professor da FGV.

Para Hermes Moreira Júnior, da UFGD, é preciso que a ONU aja com mais firmeza. "É necessário, para garantir a legitimidade de sua existência e evitar o esvaziamento de seus fóruns institucionais, que as Nações Unidas se posicionem de maneira bastante dura às disputas baseadas nos interesses das grandes potências e articulem ações propositivas na direção da ampliação da governança global multilateral".

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