O governador do distrito boliviano de Cochabamba abandonou na segunda-feira suas exigências de maior autonomia local, que provocaram a ira de seguidores do presidente Evo Morales e sangrentos protestos populares. Apesar do recuo do governador Manfred Reyes Villa, os "evistas" continuam pedindo sua renúncia.

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Reyes Villa, que se diz "refugiado" no vizinho Departamento (Estado) de Santa Cruz, anunciou a decisão enquanto seu colega de La Paz, José Luis Paredes, ratificou a formação de uma "frente de defesa" das autoridades regionais contrárias ao governo nacional de esquerda.

"Decidiu-se deixar de lado a intenção de levar adiante um referendo autonômico", disse Reyes Villa, ex-militar, direitista e várias vezes candidato à presidência. "Queremos uma solução que fortaleça a democracia, que não é somente para Cochabamba, mas para todo o país", acrescentou ele, em aparente referência à decisão do governo de negar um caráter nacional ao conflito, que já deixou dois mortos e dezenas de feridos.

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Reyes Villa diz que se refugiou em Santa Cruz há quatro dias por ser ``fustigado'' em Cochabamba por parte dos sindicatos liderados pelos produtores de coca.

O governo de Morales insistiu na segunda-feira que não busca a instabilidade nas regiões, e acusou os governadores de ''fazer política em vez de trabalhar''.

``Reyes Villa é quem provocou a reação popular, por querer um novo referendo autonômico num distrito que votou majoritariamente pelo 'não' às autonomias'', disse o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, sobre o referendo de julho de 2005, quando o ``não'' à autonomia venceu em cinco dos nove Departamentos.

Atualmente, seis dos nove governadores defendem a autonomia, e grupos cívicos e empresariais de Santa Cruz exercem a maior resistência às reformas ``anti-neoliberais'' de Morales, iniciadas em 2006 com a nacionalização do gás e do petróleo e uma lei de reforma agrária.

``Reyes Villa é uma nova carta da oligarquia derrotada nas eleições, e em Cochabamba a única solução é que se vá'', disse o camponês Omar Fernández, um dos líderes de uma vigília na praça central de Cochabamba, com a qual os ativistas exigem a renúncia do governador.

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O governador Paredes disse que, se um governador for obrigado a renunciar, todos os demais deveriam deixar os cargos, exigindo também a renúncia de Morales para convocar novas eleições nacionais e regionais. Ele próprio é alvo de protestos exigindo sua renúncia na combativa cidade de El Alto, vizinha à capital.

Milhares de pessoas se reuniram na segunda-feira numa rua de El Alto e decidiram dar dois dias para que Paredes deixe de lado suas exigências autonomistas ou abandone o cargo.