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Cabos eleitorais do candidato presidencial Saeed Jalili fazem campanha em Teerã | Abedin Taherkenareh/Efe
Cabos eleitorais do candidato presidencial Saeed Jalili fazem campanha em Teerã| Foto: Abedin Taherkenareh/Efe

Diplomacia

Candidatos iranianos divergem sobre programa nuclear

Os candidatos à Presidência do Irã divergem sobre como deve proceder a conversa com as potências estrangeiras sobre o programa nuclear do país. O assunto surgiu durante o terceiro, e último, debate televisionado antes da eleição do país, marcada para o dia 14.

Os dois candidatos de centro – Hasan Rowhani, último negociador do programa nuclear, e Saeed Jalili, atual negociador – trocaram acusações durante o debate. Rowhani afirmou que a política linha-dura apresentada por Jalili foi a responsável por ocasionar as sanções internacionais impostas à república islâmica. Jalili, por sua vez, disse que o medo que Rowhani tem do Ocidente fez com que o programa nuclear fosse temporariamente encerrado em 2003.

No ápice de uma intestina disputa interna de poder em 2011, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, ficou tão exasperado com a situação que advertiu à república islâmica que, se julgasse necessário, chegaria ao extremo de depor um presidente legitimamente eleito. A ameaça de Khamenei foi entendida como mera demonstração de força, mas o episódio é bastante instrutivo para explicar a eleição presidencial da próxima semana, quando os iranianos irão às urnas para eleger o sucessor de Mahmoud Ahmadinejad, que chegou ao poder como aliado dos aiatolás e encerra seu segundo mandato na condição de pária político.

Khamenei e sua poderosa Guarda Revolucionária aproveitam os preparativos para o pleito 14 de junho visando levar adiante uma campanha para encurralar a Presidência e consolidar seu poder depois de quatro anos turbulentos. A teocracia dominante deseja manter um edifício organizado e com menos ramificações influentes – a presidência, o Parlamento, as reitorias das universidades –, todas elas restritas a funções bastante específicas e previsíveis.

Os últimos quatro anos, porém, abalaram essa estrutura quase até suas fundações. As fracassadas tentativas de Ahmadinejad de amealhar mais poder representaram uma espécie de amotinamento."Khamenei está agora se esforçando ao máximo para restringir o alcance da Presidência", afirma Rasool Nafisi, analista de assuntos iranianos da Strayer University na Virgínia. "Ele quer simplesmente estabelecer limites claros e bastante restritos à atuação do presidente."

Um debate promovido na semana passada pela televisão estatal iraniana pareceu reforçar a imagem de que se procura um tecnocrata. Os oito presidenciáveis, a maioria formada por políticos leais ao sistema vigente, queixaram-se do formato de debate enquanto o moderador muitas vezes pressionava por respostas resumidas a "sim" ou "não" para questões sobre temas tão complexos como a economia e o programa nuclear do Irã. "Khamenei está deixando claro que, a partir do primeiro dia de mandato, o próximo presidente precisa saber qual é o seu lugar", disse Nafisi.

Trata-se essencialmente de uma implementação do entendimento original do papel do presidente no Irã. Na estrutura política iraniana, o presidente ocupa a função de chefe de governo e não figura entre os mais importantes formuladores de política. Todas as decisões mais importantes – desde o rumo do programa nuclear aos serviços de espionagem e à política externa –cabem aos clérigos.

Porém, a partir de 1989, a Presidência passou a ganhar certa força, quando foi extinto o conflitante cargo de primeiro-ministro. Mais tarde, quando o presidente era o reformista Mohammad Khatami, o posto ficou fortalecido quando ele tentou proporcionar mais liberdades sociais e políticas no país. Ahmadinejad, por sua vez, buscou uma linha mais personalista. Khamenei busca recolocar a presidência no seu antigo formato: uma pasta limitada, incumbida de gerir a economia do país e outros assuntos políticos cotidianos.

Khamenei não tem nome favorito

Ao contrário do que aconteceu em 2009, Khamenei e a Guarda Revolucionária não manifestaram preferência por nenhum candidato. Quatro anos atrás, antes de Ahmadinejad cair em desgraça com os aiatolás, o apoio à reeleição do presidente foi aberto, em detrimento dos candidatos reformistas Mir Hossein Mousavi e Mahdi Karroubi, que depois aderiram aos protestos contra o resultado da votação. Mousavi e Karroubi passaram mais de dois anos em prisão domiciliar.

Para a eleição da próxima sexta-feira, a cédula conterá apenas o nome de candidatos favoráveis ao establishment. E a expectativa é de que eles aceitem os limites antecipados por Khamenei. Alguns comentários de Khamenei até poderiam ser interpretados como uma inclinação em favor de Saeed Jalili, o principal negociador nuclear do país, e, em menor medida, em favor de Ali Akbar Velayati, seu conselheiro de política externa.

Já os membros da Guarda Revolucionária podem ter alguma preferência por seus ex-comandantes e agora candidatos Mohammad Bagher Qalibaf, atual prefeito de Teerã, e Mohsen Rezaei. A incógnita é o ex-negociador nuclear iraniano Hasan Rowhani, um moderado que recebeu na última hora o apoio de Rafsanjani e de Khatami.

"O fato de o sistema governante não ter fechado com um candidato específico não significa que estejamos próximos de alguma mudança de regime", explicou Scott Lucas, especialista em assuntos iranianos da Universidade de Birmingham. "Significa apenas que o sistema está se adaptando."

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