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A Alemanha está em choque com a mais recente onda de violência neonazista. A menos de três semanas da abertura da Copa do Mundo de futebol, o Ministério do Interior divulgou ontem um relatório segundo o qual a violência da extrema-direita aumentou 27% no ano passado. Políticos de todos os partidos alertaram para o perigo de ataques racistas durante a Copa — de 9 de junho a 9 de julho — embora o número de extremistas tenha supostamente diminuído de 40.700 para 39.000.

Para o ministro do Interior, Wolfgang Schaeuble, não só o aumento do extremismo de direita é motivo de preocupação. Há em toda a Alemanha — mas sobretudo na parte oriental — uma subcultura racista, com nada menos que 142 grupos de música que propagam o ódio. Gravações musicais produzidas pelo Partido Nacional Alemão (NPD, uma espécie de sucessor do partido nazista de Hitler) são distribuídas em escolas, difundindo ainda mais a ideologia da violência.

Mapa de áreas a serem evitadas

No fim de semana passado, Giyasettin Sayan, deputado do Partido da Esquerda (LP) sofreu ferimentos graves na cabeça provocados por neonazistas que o atacaram com garrafas de vidro. Sayan, que é de origem curda, resolveu morar em Lichtenberg, um reduto neonazista no leste de Berlim, como forma de desafiar o perigo do qual acabou sendo vítima.

A grande polêmica dos últimos dias tem sido o tipo de informação que deveria ser dado aos milhares de estrangeiros que já começaram a chegar à Alemanha para a Copa do Mundo. O Conselho Africano vai divulgar ainda esta semana uma mapa de áreas onde os visitantes não devem ir, para evitar o perigo.

Também Uwe Karsten Heye, que foi porta-voz do governo de Gerhard Schroeder, fez há alguns dias um apelo veemente aos torcedores estrangeiros da Copa para que evitem determinados bairros do leste de Berlim, bem como cidades do leste do país. Heye causou uma onda de indignação por ter abordado abertamente um ponto nevrálgico na Alemanha: 61 anos depois da queda do regime nazista, há uma minoria crescente que defende valores idênticos aos de Hitler.

O juiz do tribunal de Schoenebeck, cidade próxima a Berlim, condenou ontem três neonazistas a penas de um a 3,5 anos de prisão por um ataque brutal a um menino de 12 anos, filho de uma alemã e um etíope, em janeiro passado. Apesar da suposta tentativa de assassinato, a sentença foi leve em parte porque a lei alemã prevê pena máxima de dez anos de prisão para menores de 21 anos.

Problema comum a outros países

Outros casos contribuíram para criar um clima de perplexidade no país. Para Daniel Cohn-Bendit, deputado do Partido Verde no Parlamento Europeu, o problema não existe somente da Alemanha, embora neste país pareça mais grave por causa de seu passado.

— Em toda a União Européia, um discurso antiimigratorio ajuda a acirrar o preconceito da população contra imigrantes e a fortalecer as fileiras dos neonazistas — disse o politico, que foi líder da rebelião de 1968 e tem nacionalidade dupla por ser filho de judeus alemães que nasceu no exílio dos pais na França.

Já Petra Pau, do Partido da Esquerda, defendeu ontem a criação de uma comissão nacional para investigar o extremismo de direita. Petra, da antiga Alemanha Oriental, é deputada federal pelo Partido da Esquerda no Parlamento de Berlim.

Às vésperas da Copa, a imprensa alemã começa a trocar o slogan do torneio, que é "die Welt zu Gast bei Freunden" ("o mundo visitando amigos"), para "die Welt zu Gast bei Feinden" ("o mundo visitando inimigos").

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