Líderes durante reunião da União Europeia: espionagem dominou discussões e gerou protestos dos países monitorados| Foto: François Lenoir/Reuters

Reação deve aumentar, prevê Dilma

A presidente brasileira Dilma Rousseff afirmou ontem que será cada vez mais crescente a manifestação de países democráticos contra a espionagem política e comercial praticada pelos Estados Unidos. Dilma voltou a pedir regulamentação internacional para a internet.

O comentário da presidente ocorreu em entrevista à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte (MG), quando questionada sobre as novas revelações de que o celular da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, também foi grampeado pela espionagem americana.

Dilma, que, a exemplo da Petrobras, foi vigiada pela NSA, voltou a afirmar que a espionagem é "inadmissível" porque viola os direitos e a soberania do país, dos seus cidadãos e das suas empresas. Ela repetiu que transmitiu ao presidente norte-americano, Barack Obama, a "inconformidade do governo brasileiro" e que ele "tem se comprometido a avaliar e tomar as medidas cabíveis".

Soberania

Dilma, contudo, acha que cada vez mais outras nações levantarão as suas inconformidades. "Eu quero dizer que crescentemente haverá uma reação dos países, porque ninguém, eu acredito, nenhuma nação democrática vai admitir essa quebra da soberania, essa violação dos direitos humanos, dos direitos civis de sua população, que é isso que se faz através da agência nacional de segurança americana", afirmou.

Ela disse que o governo brasileiro recebeu a solidariedade dos vizinhos do Mercosul e que nesta semana " vários líderes mundiais se manifestaram de forma bem dura". Ela citou o governo francês e a chanceler alemã, Angela Merkel.

Folhapress

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Sem resposta

O governo dos Estados Unidos não esclareceu se espionou ou não um telefone celular da chanceler alemã Angela Merkel, mas reiterou que atualmente não está monitorando suas comunicações nem pretende fazer isso no futuro. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, evitou em sua entrevista coletiva diária responder à pergunta se a inteligência americana espionou no passado um telefone celular de Merkel e argumentou que o governo não vai falar "publicamente" a respeito.

Kerry: EUA trabalham para encontrar equilíbrio

Depois que presidentes e ex-presidentes descobriram terem sido pessoalmente espionados pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, em inglês), novos documentos revelados pelo jornal britânico The Guardian mostram que, no total, 35 líderes mundiais foram alvo de espionagem.

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Um memorando confidencial revela que a agência incentiva altos funcionários a partilharem informações de seus clientes (Casa Branca e Pentágono entre eles) para adicionar o número de telefone de líderes políticos estrangeiros a seus sistemas de vigilância.

Segundo o documento, um funcionário não identificado entregou mais de 200 números, incluindo o de 35 líderes mundiais – nenhum deles nomeado no relatório. O memorando, de outubro de 2006, foi obtido pelo jornal através do ex-técnico da CIA Edward Snowden e sugere que a vigilância não era um caso isolado: a agência monitora rotineiramente os telefones de líderes mundiais, até mesmo com a ajuda de outras autoridades americanas.

O assunto espionagem dominou as discussões durante a reunião de líderes da União Europeia, realizada ontem em Bruxelas. Falando a jornalistas antes de seguir para o evento, a chanceler alemã Angela Merkel disse que é "completamente inaceitável" que os Estados Unidos espionem seus "amigos".

"A espionagem entre amigos é completamente inaceitável", disse Merkel aos repórteres em breve comunicado, ao chegar ao local da cúpula. "Precisamos de confiança entre aliados e parceiros e esta confiança precisa ser reconstruída", acrescentou. Foram os primeiros comentários públicos a respeito das acusações de que agências de inteligência norte-americanas grampearam o telefone da chanceler.

Itália

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Na mesma linha, o primeiro-ministro da Itália, Enrico Letta, classificou como "inconcebível e inaceitável" o suposto monitoramento de telecomunicações italianas pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. Ele fez a declaração depois que o semanário italiano L’Espresso noticiou que os dois países têm monitorado redes italianas de telecomunicações, tendo como alvo o governo, empresas e grupos terroristas suspeitos.

"É inconcebível e inaceitável que haja atos de espionagem desse tipo", disse Letta a repórteres. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, informou ao premiê que os EUA trabalham para "encontrar um equilíbrio adequado entre a proteção da segurança e da privacidade de nossos cidadãos" e que as consultas a parceiros como a Itália continuariam.

Suspensão - Parlamento Europeu vota contra compartilhamento de dados com os EUA

Agência Estado

O Parlamento Europeu votou ontem pela suspensão de um programa de compartilhamento de informações sobre "terrorismo" e de dados financeiros com os Estados Unidos. A decisão foi motivada pelas alegações de que os norte-americanos teriam espionado cidadãos europeus aleatoriamente. O texto suspende o Programa de Rastreamento de Finanças Destinadas ao Terrorismo, conhecido pelas inicias TFTP, em resposta às suspeitas de que os EUA teriam coletado dados bancários de cidadãos da UE armazenados pela empresa belga Swift. O programa permite aos EUA acesso a dados financeiros de correntistas sob suspeita de "terrorismo", mas os documentos vazados por Snowden sugerem que os norte-americanos monitoraram informações sem nenhuma relação com "terrorismo".

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