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Criticando a demora dos países ricos em socorrer o Haiti, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, indicou que a ajuda dada pelo governo brasileiro, empresas nacionais, doações privadas, equipes de socorro e alimentos em espécie chegaria "perto de R$ 1 bilhão". Amorim ainda alertou que as economias desenvolvidas "deveriam fazer mais" pelo Haiti.

O chanceler participou nesta quarta-feira de uma reunião especial da ONU convocada pelo Brasil para garantir que a proteção aos direitos humanos no Haiti fosse respeitada no processo de reconstrução do pais. Na quinta-feira, uma resolução será aprovada para garantir que a dimensão dos direitos humanos seja incluída no processo de reconstrução do país. Mas sem a ideia original do Brasil de enviar uma missão para avaliar a situação em Porto Príncipe.

A resolução, ainda assim, reafirma a soberania do Haiti e sua integridade territorial, além de dar ao governo do país um papel central na reconstrução. Todos os governos aceitaram o texto da resolução.

Amorim, em entrevista aos jornais brasileiros, deixou claro que os países ricos precisam fazer mais pelo Haiti. "Eu acho que eles (países ricos) demoraram e podem fazer mais", disse, evitando dar os nomes dos países criticados. Segundo a ONU, 66% do orçamento pedido para ajudar o Haiti foi já enviado à entidade. Mas a entidade admite que já está revendo para cima o valor de quanto de fato custará a operação.

Na quinta-feira, durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, o chanceler fará a proposta para que todos os países ricos e alguns emergentes eliminem tarifas de importação para produtos do Haiti por 20 anos. A esperança é de que isso ajude a atrair investimentos de empresas para o país, usando o Haiti como plataforma de exportação. Americanos e brasileiros já haviam iniciado negociações para esse esquema no setor têxtil. Mas o objetivo é o de ampliar a todos os setores.

O chanceler brasileiro admite que quer aproveitar o momento para adotar o maior número de decisões e compromissos políticos em relação ao Haiti, influenciando o destino do país no longo prazo "Temos de fazer isso antes que a mídia mude seu foco para outro desastre internacional e que o Haiti fique em segundo plano", reconheceu. "Nosso problema é fazer muita coisa e muito rápido", disse. "A pobreza existia antes do terremoto e não vai desaparecer quando as equipes de socorro e TVs forem a outro lugar", alertou.

Ele acredita que já existe o compromisso internacional de ajudar o Haiti por dez anos. "O Haiti é certamente hoje o maior desafio da habilidade da comunidade internacional para ajudar a reconstruir um pais devastado de uma forma consciente de sua soberania, ao mesmo tempo estabelecendo um ciclo de desenvolvimento", disse.

Além da medida provisória do governo destinando US$ 230 milhões ao Haiti, o governo já enviou mais US$ 15 milhões. Nesta quarta-feira, os US$ 10 milhões restantes que ainda faltavam ser enviados pelo Brasil foram depositados nas contas da ONU. Outros US$ 15 milhões serão enviados para a reconstrução. Ja as doações de cidadãos brasileiros chegaram a US$ 1,5 milhão, enquanto empresas anunciaram aportes considerados como importantes. Além disso, a Conab e Confederação Nacional da Agricultura enviaram alimentos em espécie. Amorim, porém, admite que não pode garantir que não haja dupla contagem de recursos em sua avaliação de que a ajuda nacional ao Haiti chegaria perto de R$ 1 bilhão.

O governo indicou que a grande parte do dinheiro está indo para a ONU.

Mas rejeita a tese de que teria "desconfianças" em relação à atitude do governo do Haiti com os novos recursos.

Amorim defendeu, ainda assim, a criação de um mecanismo para prestar contas em relação ao dinheiro usado. Há um ano, o então comandante das tropas brasileiras no Haiti, Carlos dos Santos Cruz, alertou para o desvio de recursos. "Precisamos analisar para saber qual é a perda desse dinheiro nos caminhos administrativos. Há uma perda grande. O volume de dinheiro é grande, mas não há o impacto social no final da linha", disse já na época.

Soberania

O encontro da ONU se transformou em um apelo generalizado para que a soberania do Haiti fosse respeitada. O primeiro a dar o recado foi o próprio Amorim. "A função não é substituir as autoridades haitianas em decidir quais são as necessidades de seu povo e estabelecer as prioridades"", disse, insistindo que a prioridade agora será a de fortalecer o governo do Haiti.

De forma sutil ou direta, Nicarágua, Cuba, Argélia e Egito preferiram usar o palanque da ONU atacar Washington pelo envio de soldados. A Casa Branca apenas "lamentou" que o evento tenha sido usado para os ataques.

Apesar da proposta do Brasil de realizar o evento, organizações não governamentais como Anistia Internacional, Human Rights Watch e UN Watch questionaram a iniciativa do encontro. Isso porque a resolução que amanhã será aprovada acabou enfraquecida. A principal crítica é de que não há uma decisão de enviar nem um relator especial ao Haiti e nem uma missão de governos. Caberá apenas à ONU fazer uma avaliação da situação nos próximos meses.

A assessoria de imprensa da ONU ainda afirmou que não poderia confirmar o valor levantado pela ONG UN Watch de que o encontro de ontem representou um "desperdício de US$ 200 mil". "Não houve custo suplementar para a realização da reunião", afirmou a assessoria de imprensa da ONU. A ONG, hoje, insistiu com o número, alegando que esse é o valor de quanto um dia de reuniões na ONU custa.

Houve pelo menos um acordo: de que os direitos humanos precisam estar no centro das decisões. A alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, pediu para manter "a vigilância, a fim de proteger os mais vulneráveis, em particular crianças, deficientes, idosos, mulheres e mais pobres", que poderiam sofrer prisões arbitrárias, violência sexual e tráfico de pessoas. Representando o Haiti, o diplomata Jean-Claude Pierre disse que o desastre sofrido por seu país significou "o golpe de misericórdia" dos direitos econômicos e sociais.

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