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| Foto: BORIS HORVAT/AFP

Subiu para 84 o número de mortos no atentado em Nice, na Riviera Francesa. Um homem dirigindo um caminhão avançou contra uma multidão que celebrava na quinta-feira (14) a festa da Queda da Bastilha, em um ataque classificado pelo presidente François Hollande de “terrorista”. A tragédia, que até o momento não foi reivindicada por nenhum grupo, fez com que o presidente François Hollande voltasse atrás e estendesse o estado de emergência no país por mais três meses.

Ao menos 50 crianças foram hospitalizadas em Nice, e duas delas morreram na manhã desta sexta-feira, segundo um responsável do centro pediátrico. “Às 7h da manhã constatamos a morte de duas crianças durante cirurgias; outras seguem entre a vida e a morte”, indicou a mesma fonte. O último balanço do atentado é de ao menos 84 mortos e 18 pessoas em estado crítico.

Cronologia: França foi alvo de múltiplos ataques desde janeiro de 2015

O motorista, que durante dois quilômetros avançou semeando caos e morte, foi identificado como um franco-tunisiano de 31 anos, morador de Nice. Seus documentos foram encontrados no veículo.

Banalidade e violência

VALERY HACHE/AFP

Em uma agradável noite de verão, um caminhão branco avançou em alta velocidade pelo Passeio dos Ingleses, a avenida costeira de Nice, para onde centenas de pessoas se dirigiram para presenciar os fogos de artifício por ocasião do aniversário da Queda da Bastilha.

O veículo de 19 toneladas avançou por dois quilômetros, atingindo as pessoas pelo caminho, até o motorista, que tinha uma arma e atirou várias vezes, ser abatido pela polícia.

“Era um caos. Vimos gente ferida (...) ouvimos muitas vítimas gritarem”, relatou um jornalista da AFP.

A banalidade do modo operacional – um caminhão como única arma – e o fato de várias crianças figurarem entre as 84 vitimas, assustou. O motorista “mudou de trajetória ao menos uma vez”, afirmou a polícia à AFP. “Claramente tentou provocar o maior número de vítimas”.

Após o drama, o país observará três dias de luto nacional, anunciou o primeiro-ministro Manuel Valls. Ele também anunciou que o governo fará o necessário para estender o estado de emergência em vigor na França desde os atentados de novembro de 2015 em Paris.

Marie, de 37 anos, agente de segurança em Villa Masséna, um palácio muito próximo ao local do incidente que acolhia uma celebração pelo 14 de julho, viu “centenas de pessoas correndo para dentro para se proteger”. “Havia crianças e as pessoas se pisoteavam”, contou à AFP.

“As pessoas tropeçavam, tentando entrar em hotéis, restaurantes, estacionamentos, em qualquer lugar onde pudessem evitar estar na rua”, indicou outra testemunha, Emily Watkins, à Australian Broadcasting Corporation (ABC).

Várias horas depois do ataque, o caminhão branco permanecia parado em frente a um luxuoso centro hoteleiro, com seus pneus perfurados por balas e a porta direita repleta de marcas de tiros

Uma fonte policial disse que o veículo havia sido alugado na região há alguns dias. As autoridades também fizeram um apelo urgente para que as pessoas doem sangue.

Dezenas de pessoas buscavam ao mesmo tempo no Twitter notícias de seus parentes.

Por sua vez, a mesquita de Al-Azhar, a mais alta autoridade do Islã sunita, pediu a união de “esforços para derrotar o terrorismo e limpar o mundo deste mal”.

Caráter terrorista

O “caráter terrorista” do ataque é inegável, disse em um discurso televisivo o presidente Hollande.

O chefe de Estado também advertiu que, apesar dos ataques, a França “reforçará sua ação na Síria e no Iraque”, países onde combate os terroristas do Estado Islâmico (EI).

O estado de emergência, que deveria terminar em quinze dias, foi prolongado por três meses. Este regime, decretado após os atentados de 13 de novembro, facilita as operações policiais e a prisão domiciliar de suspeitos.

Igualmente, Hollande anunciou o recurso a milhares de cidadãos reservistas para apoiar policiais e gendarmes, esgotados por meses de vigilância intensiva desde 2015.

A universidade egípcia de Al-Azhar, a máxima autoridade sunita, condenou nesta sexta-feira o atentado de Nice, e pediu para “limpar o mundo” do mal do “terrorismo”. “Estes ataques terroristas abjetos contradizem os ensinamentos do Islã”, disse a instituição com sede no Cairo em um comunicado. “Al-Azhar (...) afirma a necessidade de unir esforços para derrotar o terrorismo e limpar o mundo deste mal”.

Atentado de Nice atingiu o coração da Riviera Francesa

VALERY HACHE/AFP

O Passeio dos Ingleses de Nice, palco na quinta-feira à noite de um atentado que deixou ao menos 84 mortos, é o lugar mais simbólico desta cidade conhecida mundialmente como a capital da Riviera Francesa.

Nice, a quinta cidade mais populosa da França, é um importante destino turístico desde o século XIX e a avenida costeira deve seu nome a um reverendo inglês e ao seu cunhado que criaram a partir de 1824 um primeiro caminho de terra, que foi se ampliando e embelezando nas décadas seguintes.

Em 1860, Nice, até o momento vinculada ao reino da Sardenha, passou para território francês.

Na “Belle Epoque”, Nice vive seu apogeu graças a um público cosmopolita. Muitos aristocratas frequentavam a cidade, atraídos por seus invernos leves. Em 1880, inspirado no modelo inglês, um cassino de formas orientais foi erguido em um píer sobre o mar.

A partir dos anos 1920, o turismo de verão começou a aparecer na Côte d’ Azur, impulsionado por ilustres expatriados americanos como o escritor John Dos Passos.

Centenas de edifícios, alguns deles art deco, foram construídos entre as duas guerras mundiais na cidade, que acolhe muitos artistas, músicos e escritores.

Hotéis de luxo, cassinos e palácios abriram suas portas. Em 1912, o romeno Henri Negresco ordenou a construção do palácio mais mítico de Nice. Pouco depois, o inglês Henry Ruhl criou um hotel que leva seu nome, onde atualmente se situa o Méridien.

Outros hotéis aumentaram a reputação do Passeio dos Ingleses, como o Palácio do Mediterrâneo, cuja fachada está catalogada como monumento histórico, assim como a cúpula do Negresco.

O Passeio dos Ingleses também abriga eventos festivos como o famoso carnaval ou a batalha das flores.

Nice, situada perto da fronteira com a Itália e o principado de Mônaco, atrai todos os anos quatro milhões de visitantes.

No entanto, a cidade registra um número de desemprego superior à média francesa (15% em 2013, contra 10% em toda a França).

Esta cidade conta com 342 mil habitantes, o que a converte na quinta mais populosa da França depois de Paris, Marselha, Lyon e Toulouse.

Cronologia: França foi alvo de múltiplos ataques desde janeiro de 2015

O ataque que deixou mais de 70 mortos na noite desta quinta-feira, em Nice, no sudeste da França, é mais um capítulo para a triste história recente da França desde os atentados extremistas de janeiro de 2015 contra o semanário satírico Charlie Hebdo.

- De 7 a 9 de janeiro de 2015: Os irmãos Said e Cherif Kouachi mataram 12 pessoas em 7 de janeiro na sede do semanário satírico francês Charlie Hebdo, em Paris. Entre as vítimas estavam o diretor da publicação, vários de seus renomados cartunistas e dois policiais.

Após dois dias foragidos, as forças de segurança executaram os atacantes, entrincheirados em uma empresa nos arredores da capital.

Em 8 de janeiro, Amedy Coulibaly matou um policial e feriu um agente municipal em Montrouge, ao sul do País. E, um dia depois, fez reféns os clientes e funcionários de um supermercado de alimentos judaicos da capital francesa, matando quatro deles. Os agente o abateram durante o ataque, pouco depois da morte dos irmãos Kouachi.

Estes últimos foram reivindicados pela Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) e Amedy Coulibaly pelo grupo Estado Islâmico (EI).

- 3 de fevereiro de 2015: Em Nice, três militares de guarda frente a um centro da comunidade judaica foram agredidos com faca. O assaltante, Moussa Coulibaly, de 30 anos, foi rapidamente capturado. Em detenção, expressou seu ódio à França, aos militares e aos judeus.

- 19 de abril de 2015: Sid Ahmed Ghlam, estudante argelino de informática, foi detido em Paris por, supostamente, ter matado uma mulher e por preparar um atentado contra uma igreja de Villejuif, nos arredores do sul de Paris. O suspeito, que tinha em sua posse armas de guerra, estava fichado pelos serviços de informação por ter abraçado o islã radical. Além disso, confessa ter planejado outras ações.

- 26 de junho de 2015: Yassin Salhi matou e decapitou seu chefe Hervé Cornara antes de tentar alcançar a fábrica Air Products de Saint-Quentin-Fallavier (sudeste), ao jogar sua caminhonete contra cilindros de gás. Acabou sendo detido.

- 13 de julho de 2015: Quatro jovens de 16 a 23 anos, entre eles um militar que deu baixa, foram presos como suspeitos de planejar o ataque ao campo militar de Fort Béar (sudeste) e a decapitação gravada de um oficial em nome da jihad (guerra santa). Todos eles declararam lealdade ao EI.

- 21 de agosto de 2015: Dois militares americanos de férias neutralizaram um homem armado que abriu fogo a bordo de um trem Thalys, que faz a rota entre Amsterdã e Paris. Duas pessoas ficaram feridas, uma de bala e a outra de arma branca. O atacante, um jovem marroquino, foi detido.

- 13 de novembro de 2015: A França sofreu os piores atentados de sua história, que envolveram, pela primeira vez, atacantes suicidas. Os atentados atingiram, em Paris, a casa de shows Bataclan, vários bares e restaurantes do centro da capital, assim como os arredores do Stade de France, situado mais ao norte, em Saint-Denis. Um total de 130 pessoas morreram, principalmente jovens, e mais de 350 ficaram feridas. O EI reivindicou os ataques.

- 7 de janeiro de 2016: Um homem armado com uma arma branca e um cinturão falso de explosivos foi abatido após gritar “Allahu Akbar” enquanto se aproximava de uma delegacia do norte de Paris. O atacante portava uma reivindicação manuscrita em árabe, na qual jurava lealdade ao chefe do EI.

- 13 de junho de 2016: Um extremista de 25 anos matou um policial em Magnanville, ao nordeste de Paris, na porta de sua casa e a companheira deste último no interior da residência. Agentes da unidade de elite da polícia francesa executaram Larossi Abdalla, que havia reivindicado sua ação nas redes sociais em nome do EI.

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