• Carregando...
“Na Venezuela e no Equador, os governos pararam de investir no setor e, por causa disso, agora estão tendo problemas.” João Carlos Cascaes, engenheiro eletricista e ex-presidente da Copel |
“Na Venezuela e no Equador, os governos pararam de investir no setor e, por causa disso, agora estão tendo problemas.” João Carlos Cascaes, engenheiro eletricista e ex-presidente da Copel| Foto:

Luz tênue

Medidas para racionar energia causam contrariedade em venezuelanos e equatorianos.

Venezuela

- Criação do Ministério da Energia Elétrica.

- Aumento da tarifa para grandes usuários.

- Distribuição de lâmpadas mais eficientes.

- Proibição de realizar eventos esportivos à noite.

- Proibição de importar produtos eletrônicos "gastadores".

- Importação de pequenos geradores.

Equador

- Empresas que possuem geradores devem usá-lo ininterruptamente.

- Estatal de petróleo subsidia compra de óleo diesel.

- Adiamento ou suspensão de eventos noturnos.

Fonte: da Redação

Futuro

Fornecimento de energia no mundo continuará insuficiente

Da Redação com agências

Sem investimentos, as populações de várias regiões do mundo continuarão sem energia nos próximos anos. A previsão é da Agência Internacional de Energia (AIE), com base em estudos sobre o consumo de energia elétrica no mundo.

De acordo com a agência, a demanda mundial por energia aumentará em 40% em 2030. Diante do quadro preocupante, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Copenhague em dezembro, será um "momento crucial" para planejar um futuro sustentável.

Segundo o diretor da AIE, Nobuo Tanaka, os líderes mundiais têm uma "oportunidade histórica de evitar os piores efeitos da mudança climática" e afirma que a "a eficiência energética é a maior contribuição" para a redução da demanda desejada pela AIE.

O relatório da agência prevê que em 2030 o preço do barril de petróleo chegará aos US$ 115, após ter alcançado os US$ 100 em 2020.

A queda da atividade econômica em 2009 resultou na estabilização do preço do petróleo em torno dos

US$ 60 por barril, frente ao preço médio de US$ 97 do ano passado, mas haverá mudança, segundo a AIE.

As estimativas da agência apontam que o ritmo de crescimento da demanda mundial por petróleo será de 1%, o que significa passar de 85 milhões de barris diários consumidos em 2008 para uma demanda de 105 milhões de barris em 2030.

A agência prevê ainda que os combustíveis fósseis constituirão três quartos da futura demanda energética.

  • Entenda o crescimento da demanda energética mundial

Na Venezuela e no Equador, os dramas pessoais de uma rotina sem energia elétrica perderam sua singularidade. Enquanto os brasileiros ainda trocam relatos sobre os apuros do apagão da última terça-feira, cidadãos destes dois países aprendem a reorganizar hábitos que, em tempos de normalidade no fornecimento de eletricidade, são automáticos.

"Não estamos em tempos de jacuzzi", decretou o presidente venezuelano Hugo Chávez. A Venezuela enfrenta atualmente uma seca prolongada, causada pelo fenômeno climático El Niño. Os níveis dos reservatórios foram severamente afetados, forçando o governo a adotar racionamentos de água e de energia e garantir à população que novas usinas hidrelétricas serão construídas.

O Equador também sofre uma severa estiagem, que atinge principalmente a região onde está localizada a hidrelétrica de Paute, a mais importante do país. O presidente Rafael Correa se viu obrigado a decretar um "estado de exceção elétrica". Na semana passada, o governo equatoriano iniciou um racionamento compulsório em áreas residenciais, proibiu a realização de eventos à noite e obrigou empresas que possuem geradores de energia a usá-los ininterruptamente.

A eletricidade é um serviço básico, que torna a vida civilizada possível em seus mais diferentes níveis. Da bebida gelada à estabilidade da economia, o fluxo ininterrupto dos watts está diretamente associado à plena sensação de conforto e segurança. Por conta disso, crises energéticas costumam ser vistas com temor pelos governos. Seu im­­pacto na opinião pública é imediato.

As explicações oficiais dos governos da Venezuela e do Equador imputam a crise energética às surpresas do clima. Sem chuvas para encher os re­­servatórios e fazer as turbinas girarem, tudo o que se pode fa­­zer é esperar.

Para o engenheiro eletricista João Carlos Cascaes, ex-presidente da Copel, as adversidades meteorológicas não podem ser justificativa para a falta de energia, mas, sim, incentivo para in­­vestimentos no setor. "Por causa dessa dependência em relação ao clima, um país precisa pensar dez anos à frente ao tratar do desenvolvimento do setor elétrico. Na Venezuela e no Equa­­dor, os governos pararam de investir no setor e, por causa disso, agora estão tendo problemas", analisa.

Segundo Cascaes, o crescimento contínuo da demanda por energia exige desenvolvimento idem: "Não existe teto para o consumo de eletricidade. Se, por exemplo, a temperatura da Terra subir ou implantarem metrô e carro elétrico nas grandes cidades, a demanda aumenta. Por­tan­to o planejamento técnico precisa estar dissociado da política. Nun­ca vai faltar energia se os governos arcarem com o ônus financeiro e de tecnologia".

Ivo Pugnaloni, diretor técnico da Enercons Consultoria em Energia, corrobora a ideia de que o setor de energia elétrica anda alguns passos à frente do desenvolvimento de um país. "O aumento no consumo de eletricidade é descolado do crescimento do PIB. Se uma nação cresce, digamos, 4% ao ano, a demanda energética vai crescer 5,5%", aponta.

Para ele, o modelo é aplicado à Venezuela: "Este país atravessa crescimento acima de 8% e tem uma matriz energética altamente dependente do petróleo. Talvez eles tenham descuidado dos investimentos, e o setor elétrico não é algo que anda sozinho, cresce vegetativamente".

Alternativa

Com as hidrelétricas saturadas e operando muito abaixo da capacidade por causa da seca, Vene­­zuela e Equador recorrem ao petróleo e ao gás, matrizes energéticas mais abundantes, para alimentar termelétricas e geradores caseiros.

Na Venezuela, o consumo de diesel aumentou 8,8% e o de gás natural, 12%, segundo o órgão operador da rede elétrica do país. Os dados se referem ao mês de agosto, os últimos disponíveis. No Equador, a obrigatoriedade do uso de geradores é amparada por subsídios da estatal Petroecuador, que deve in­­clusive criar créditos de pagamento para facilitar a compra de óleo diesel pelos cidadãos.

Para João Cascaes, as termelétricas devem ficar restritas a um uso complementar, e funcionar como solução paliativa em casos emergenciais. "A vantagem da térmica é que ela entra em funcionamento mais rapidamente, em média três anos após o início da construção, e com investimento menor. Mas elas devem ser consideradas ‘máquinas de prateleira’, usadas para cumprir curtos períodos de falta de geração", afirma.

Ivo Pugnaloni aponta como solução ideal a interligação dos sistemas energéticos dos países da América do Sul. "Secas que atingem toda a extensão territorial de um país são evitáveis apenas no Brasil, devido ao seu tamanho. E mesmo assim o Acre é alimentado com energia que vem do Peru. Energia elétrica não tem pátria. Os países do Co­­ne Sul precisam deixar a retórica de lado e realizar parcerias estratégicas", defende.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]