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Zelensky e Biden, em encontro na Casa Branca na semana passada: presidente americano quer que pacote adicional para a Ucrânia seja aprovado juntamente com recursos emergenciais, mas parte da oposição republicana está travando a medida
Zelensky e Biden, em encontro na Casa Branca na semana passada: presidente americano quer que pacote adicional para a Ucrânia seja aprovado juntamente com recursos emergenciais, mas parte da oposição republicana está travando a medida| Foto: EFE/EPA/JULIA NIKHINSON

Desde o ano passado, o apoio à Ucrânia na sua defesa contra a invasão russa é questionado internamente nos países que ajudam Kiev no conflito.

Matteo Salvini, líder da Liga, integrante da coalizão de direita da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, questionou as sanções aplicadas contra Moscou, e a Unidas Podemos, então coalizão de esquerda (posteriormente transformada em Sumar) que apoiava o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, se opôs ao envio de armas aos ucranianos.

Após mais de um ano e meio de conflito e com a Ucrânia sem conseguir grandes avanços na contraofensiva lançada em junho, as fissuras nesse apoio começam a aparecer com mais evidência nos países da OTAN, que apoiam a Ucrânia no conflito desde o primeiro momento.

O anúncio mais incisivo ocorreu na semana passada, quando o primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, disse que Varsóvia vai parar de transferir armas para a Ucrânia e vai concentrar recursos na modernização do próprio arsenal.

A medida foi anunciada um dia depois de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, condenar na Assembleia Geral das Nações Unidas o “teatro político” em torno dos grãos ucranianos. Dias antes, a Polônia, a Hungria e a Eslováquia haviam prorrogado vetos às importações desses produtos da Ucrânia para proteger os produtores locais.

Além desse desentendimento sobre a importação de grãos, outro fator que parece ter pesado na decisão polonesa é a questão eleitoral: em 15 de outubro, será realizada a eleição parlamentar no país, e o partido conservador Lei e Justiça, que está no poder, teme o efeito da guerra na Ucrânia nas urnas.

Uma pesquisa divulgada em junho pela Universidade de Varsóvia e pela Universidade de Ciências Econômicas e Humanas de Varsóvia mostrou que 55% dos poloneses acreditam que o país não deve oferecer mais ajuda à Ucrânia, contra apenas 28% que pensam o contrário.

Em abril e maio de 2022, quase metade dos entrevistados havia respondido que a Polônia deveria prestar mais apoio à Ucrânia. A Polônia é o sexto país que mais enviou ajuda militar à Ucrânia no conflito, aproximadamente US$ 3,6 bilhões.

Quanto aos refugiados, a proporção dos poloneses que acreditam que os ucranianos que fogem da guerra deveriam ter acesso aos mesmos benefícios sociais que os cidadãos locais possuem caiu de 28% para 18% desde o ano passado. A Polônia é o país que no momento mais abriga refugiados ucranianos, cerca de 1,5 milhão.

A Ucrânia é assunto eleitoral também na Eslováquia, que realizará eleições parlamentares no próximo sábado (30). O partido de esquerda Smer, que lidera as pesquisas, informou que o país não enviará mais ajuda à Ucrânia caso a legenda chegue ao governo.

“Se o Smer fizer parte do governo, não enviaremos mais armas ou munições para a Ucrânia”, disse à agência Associated Press o líder do partido, Robert Fico, que já foi primeiro-ministro da Eslováquia entre 2006 e 2010 e entre 2012 e 2018.

Nos Estados Unidos, o presidente democrata Joe Biden tenta aprovar no Congresso um pacote adicional de mais de US$ 20 bilhões em ajuda à Ucrânia.

Os democratas esperam que essa ajuda seja aprovada juntamente com recursos emergenciais que precisam do sinal verde do Legislativo até sábado para que não ocorra uma paralisação do governo americano. Entretanto, parte da oposição republicana na Câmara, alegando preocupação com o excesso de gastos, está travando a medida.

Em julho, quando os Estados Unidos anunciaram o fornecimento de bombas de fragmentação à Ucrânia, o ex-presidente americano Donald Trump (2017-2021), favorito para ser o candidato republicano à Casa Branca em 2024, criticou a medida e disse que o país não deveria enviar “as nossas últimas reservas em uma altura em que os nossos próprios arsenais estão perigosamente reduzidos”.

“Temos de acabar com esta loucura, pôr fim imediato ao derramamento de sangue na Ucrânia e voltar a nos concentrar nos interesses vitais dos Estados Unidos”, afirmou Trump.

Os Estados Unidos são o país que mais enviou ajuda militar à Ucrânia desde o início da guerra, quase US$ 44 bilhões. Uma pesquisa encomendada pela CNN ao instituto SSRS, cujos resultados foram divulgados em agosto, mostrou que 55% da população americana considera que o Congresso não deve aprovar mais pacotes de ajuda aos ucranianos.

Em artigo para o think tank americano Atlantic Council, Yevgeniya Gaber, ex-assessora de política externa do governo ucraniano, disse que Kiev avança lentamente no campo de batalha porque o Ocidente se recusou a fornecer toda a ajuda militar de que o país invadido necessitava no início da guerra. Agora, cortar o apoio seria um desastre, argumentou.

“Embora o custo do sucesso ucraniano possa ser elevado, a possibilidade de a Ucrânia perder esta guerra teria um preço muito mais elevado, ao assinalar um fracasso estratégico dos Estados Unidos, manter a ameaça russa à Europa e aumentar os ganhos da China na grande competição global das grandes potências”, escreveu a especialista.

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