Migrantes venezuelanos esperam em frente ao escritório de migração do Equador, em Tulcan, antes de atravessar para Ipiales, na Colômbia, 20 de agosto| Foto:  LUIS ROBAYO / AFP

Um feminicídio no Equador desencadeou uma onda de violência contra venezuelanos e levou o governo a tomar medidas mais rígidas em relação a esses imigrantes. 

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Após uma equatoriana grávida ser assassinada por seu companheiro venezuelano na cidade de Ibarra, no norte do país, parte da população começou a desalojar imigrantes dessa nacionalidade em hotéis, casas e parques onde dormiam e exigir que abandonem a cidade, a principal no caminho para o interior do Equador. 

É o primeiro assassinato cometido por um imigrante venezuelano no Equador desde que centenas de milhares chegaram ao país, fugindo da crise econômica e política. 

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O governo pediu calma à população, mas anunciou que vai exigir atestado de antecedentes criminais dos venezuelanos que tentarem entrar no país 

"O agressor, neste caso, é um cidadão estrangeiro, o que poderia provocar uma generalização que só trará mais violência. É o momento de lembrar que o nosso também é um povo migrante", disse nesta segunda o vice-presidente do país, Otto Sonnenholzner, que tem ascendência alemã e libanesa. 

"Sem generalizar, mas com mão firme, hoje temos que diferenciar entre os venezuelanos que estão fugindo do governo Maduro e outros que tiram vantagem da situação para cometer crimes", disse o vice. 

O crime aconteceu quando o homem, que mantinha a companheira refém e a segurava pelo pescoço, a esfaqueou em plena rua, mesmo rodeado por policiais que apontavam armas para ele. 

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Segundo o vice-presidente, os agentes poderão sofrer sanções por não terem conseguido salvar a vida da mulher. 

Após o crime, no fim de semana, o presidente do Equador, Lenin Moreno afirmou que vai criar unidades para checar o status legal dos venezuelanos "nas ruas, nos ambientes de trabalho e nas fronteiras". 

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O Equador estima que 1,3 milhão de venezuelanos entraram no país no último ano, apesar de muitos deles terem ido para outros países. 

O governo de Nicolás Maduro acusou o Equador de incitar a perseguição aos venezuelanos. 

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"O presidente Lenín Moreno e seu governo incitaram uma perseguição fascista contra os venezuelanos no Equador. São responsáveis pela segurança e integridade de nossos compatriotas", escreveu, no Twitter, o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza. 

Segundo Sonnenholzner, Caracas se recusa a dar a Quito informações sobre seus cidadãos que querem migrar para o Equador. No ano passado, a Argentina reduziu as exigências para imigrantes venezuelanos levando em conta que muitos têm dificuldades para tirar documentos em seu país, incluindo o certificado de antecedentes. 

Apesar dos pedidos das autoridades equatorianas para que seus cidadãos não usem a violência contra os imigrantes, representantes da comunidade venezuelana no país dizem que eles têm sofrido ataques e ameaças após o assassinato e os comentários de Moreno. 

Mulheres e crianças venezuelanas foram atacadas no terminal rodoviário de Ibarra, quando tentavam fugir para a capital, Quito, relata Febres Cordero, da Federação de Venezuelanos no Exterior. 

"Estamos preocupados com atos xenofóbicos que ocorreram em várias cidades pelo país", disse. 

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Segundo ele, quatro venezuelanos teriam morrido em Ibarra e 82 ficaram feridos no resto do país, mas a polícia informou que "não há cidadãos venezuelanos mortos ou feridos" nesses incidentes. 

Mulheres foram às ruas no domingo e nesta segunda para se mobilizar contra a violência de gênero no país.