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O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, discursa em uma coletiva de imprensa no final de uma reunião dos Ministros das Relações Exteriores da OTAN na sede da Aliança em Bruxelas em 24 de março de 2021.
O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, discursa em uma coletiva de imprensa no final de uma reunião dos Ministros das Relações Exteriores da OTAN na sede da Aliança em Bruxelas em 24 de março de 2021.| Foto: Virginia Mayo / AFP

Depois do encontro hostil em frente às câmeras na semana passada, Estados Unidos e China se voltaram para seus aliados para mostrar alinhamento estratégico. Nesta semana, enquanto os EUA foram em busca do apoio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), os chineses receberam uma visita do governo da Rússia, no qual fizeram declarações provocadoras aos americanos.

China e Rússia foram alvos de recentes sanções dos Estados Unidos e de outros países ocidentais – a China por abusos aos direitos humanos contra o povo uigur e a Rússia por causa do envenenamento e prisão de Alexei Navalny, o mais reconhecido crítico do Kremlin – e estão buscando estreitar os laços bilaterais, ajustando suas retóricas, para fazer frente ao Ocidente.

Neste contexto, Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, recebeu o seu homólogo Sergei Lavrov na cidade de Guilin, no sul da China, nesta terça-feira (23). Em uma declaração conjunta, eles convocaram uma cúpula do Conselho de Segurança da ONU para tratar do que consideram uma intervenção dos países ocidentais em seus assuntos internos e intimidação por meio das sanções.

“A interferência nos assuntos internos de uma nação soberana sob a desculpa de ‘fazer avançar a democracia’ é inaceitável”, disseram. “Em um momento de crescente turbulência política global, uma cúpula dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU é particularmente necessária para estabelecer um diálogo direto sobre as formas de resolver os problemas comuns da humanidade no interesse de manter a estabilidade global”, afirma o comunicado publicado no site do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

Em uma indireta para os Estados Unidos – já que o país não é citado nominalmente no documento – eles enfatizaram que os estados-membros da ONU devem aderir “aos princípios do multilateralismo aberto, igualitário e não ideológico”.

Mas, em coletiva de imprensa, a delegação russa foi direto ao ponto: “Notamos a natureza destrutiva das intenções dos EUA, contando com as alianças político-militares da era da Guerra Fria e criando novas alianças fechadas no mesmo espírito, para minar a arquitetura jurídica internacional centrada nas Nações Unidas”, disse Lavrov.

Rússia e China também declararam que os países estudam como reduzir o risco das sanções do ocidente. As saídas seriam reforçar a independência tecnológica dos dois países, usar moedas próprias nas transações comerciais como uma alternativa ao dólar. “Precisamos deixar de usar sistemas de pagamento internacionais controlados pelo Ocidente”, afirmou o ministro russo.

Uma reportagem do jornal chinês Global Times, publicada após o encontro entre Lavrov e Wang, traz a visão de especialistas chineses de que a declaração conjunta “é um duro golpe para a alegada ‘ordem internacional baseada em regras’", em referência ao que disseram os oficiais americanos em encontro com os chineses na semana passada. Na ocasião, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, fez uma série de críticas ao governo chinês, dizendo que suas ações “ameaçam a ordem baseada em regras que mantém a estabilidade global”.

“Analistas disseram que os EUA estão tentando usar sua própria definição de ordem internacional e valores universais para manipular e disciplinar outros países para estender sua hegemonia, e é por isso que China e Rússia, dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, devem se manifestar para quebrar sua monopólio de narrativas e formulação de regras, para impulsionar a democratização das relações internacionais”, escreveram os jornalistas do Global Times Yang Sheng e Fan Anqi.

O encontro e o clima geopolítico indicam que a relação entre China e Rússia deve se aprofundar daqui para frente, em áreas diversas, como cooperação em questões sanitárias, ciência e tecnologia. Em exemplo: neste mês, eles assinaram um acordo para desenvolver uma estação espacial lunar de pesquisa.

“As políticas do governo Biden, baseadas na noção da China como o principal desafiante ao domínio global dos EUA, e da Rússia como uma grande ameaça à ordem mundial liderada pelos EUA, tornaram imperativo que Moscou e Pequim trabalhem juntos ainda mais estreitamente em questões geopolíticas, geoeconômicas e de segurança”, escreveu o diretor do Carnegie Moscow Center, Dmitri Trenin, em um artigo de opinião publicado nesta semana no jornal estatal China Daily.

Enquanto isso, os Estados Unidos se voltam para a Otan. Nesta semana, Blinken visitou o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, e prometeu “revitalizar” a aliança “para ter certeza de que ela é tão forte e eficaz contra as ameaças de hoje quanto foi no passado".

A administração Biden está empenhando esforços para se reaproximar dos aliados europeus, depois de quatro anos de um relacionamento tenso entre os dois lados do Atlântico durante o governo do republicano Donald Trump. A China e a Rússia, claramente, estavam na pauta do encontro, além de outros assuntos como Irã, mudanças climáticas, terrorismo e cibersegurança.

“Não há dúvida de que o comportamento coercitivo da China ameaça nossa segurança e prosperidade coletivas e que eles estão trabalhando ativamente para minar as regras do sistema internacional e os valores que nós e nossos aliados compartilhamos", disse Blinken em coletiva de imprensa.

Uma estratégia conjunta, porém, ainda não parece ter sido definida. Um dos pontos de tensão entre os aliados é a construção do gasoduto Nord Stream 2, da Rússia a Alemanha, que, na visão dos Estados Unidos, colocará os alemães em uma posição de dependência energética da Rússia, além de prejudicar a Ucrânia, aliada americana.

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