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Quando Francisco era apenas Jorge Mario Bergoglio, cardeal e arcebispo de Buenos Aires, a presidente Cristina Kirchner e seu marido e antecessor, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), evitavam ao máximo encontrar-se com quem era, naquele momento, uma das principais autoridades eclesiásticas da Argentina. Em sua Presidência, Kirchner fazia questão de não participar da tradicional missa de 25 de maio (data em que se comemora o início da revolução libertadora de 1810) celebrada por Bergoglio na Catedral Metropolitana de Buenos Aires, atitude mantida por Cristina, que, no último domingo, teve seu sétimo encontro com o Papa argentino, desta vez em Cuba. Desde que Bergoglio foi escolhido como sucessor de Bento XVI a chefe de Estado mudou radicalmente de posição e se tornou fã de carteirinha de quem fora, durante tantos anos, considerado inimigo da Casa Rosada.

“O sermão foi muito interessante, falava fundamentalmente do outro, dos vulneráveis, dos pobres… ninguém pode sentir-se cristão nem sentir-se católico se não contempla os pobres e esse é o melhor serviço e o mais importante”, declarou Cristina, após presenciar a homilia de Francisco na Praça da Revolução, em Havana.

A presidente argentina foi até Cuba apenas para estar na missa mais importante da visita do Papa à ilha e poder trocar algumas palavras com o homem que, no passado, seu governo incluía na lista de “inimigos”. Néstor e Cristina se irritavam com os discursos de Bergoglio, principalmente quando o então Arcebispo portenho falava sobre questões sensíveis como pobreza e corrupção. A relação entre os Kirchner e a Igreja sempre foi tensa e durante os anos em que Bergoglio era uma das máximas autoridades eclesiásticas do país ainda mais.

Quando estava à frente do Arcebispado portenho, o ex-cardeal argentino se opôs a leis consideradas centrais para o kirchnerismo como a que permitiu o casamento gay, aprovada pelo Congresso em 2010. Bergoglio criticou, ainda, a posição do governo Kirchner durante a rebelião de produtores rurais que paralisou o país nos primeiros meses de 2008. Na época, o então arcebispo pediu “um gesto de grandeza” à presidente, para superar um conflito que provocou forte dano à economia.

Hoje, tudo isso faz parte de um passado que a chefe de Estado evita comentar, em nome de sua boa relação com Francisco. Em Cuba, como em todos os encontros com o primeiro Papa latino-americano da História, Cristina mostrou-se emocionada:

“Foi um choque, tudo junto. Estar aí, nessa Praça da Revolução, era como se o Che (Guevara) estivesse nos olhando”.

Segundo contou a presidente, em Havana ambos conversaram apenas durante alguns minutos: “ele pediu que reze por ele e eu pedi que reze por mim”.

A presidente já teve várias reuniões com o Papa no Vaticano e também foi ao Paraguai, em julho passado, somente para presenciar uma das missas de Francisco durante sua visita ao país. Em meados de 2013, Cristina viajou ao Rio com vários colaboradores para participar de algumas atividades das Jornadas da Juventude, primeiro grande evento do Sumo Pontífice na América Latina.

Apesar dos desejos da Casa Rosada, Francisco preferiu deixar uma eventual visita a seu país para outro momento, já que, segundo versões extraoficiais, não quer interferir no processo de sucessão da presidente. Especula-se com uma viagem do Papa à Argentina somente em 2017, quando o novo governo, que assumirá no próximo dia 10 de dezembro, já estiver consolidado.

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