
Pelo menos 70 crianças morreram e 600 mil pessoas contraíram problemas respiratórios e pneumonia nas zonas montanhosas de Ayacucho e Huancavelica, no Peru, em conseqüência do rigoroso inverno, o mais frio dos últimos 30 anos no país, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA).
Ayacucho e Huancavelica ficam a leste da cidade de Pisco, uma das mais atingidas pelo terremotoda última quarta-feira (15).
Além de arrasar com a colheita da região, o frio matou dezenas de lhamas e alpacas, os dois únicos mamíferos que podem ser criados em zonas altas.
O PMA anunciou nesta segunda-feira o envio de alimentos ao Peru, que também serão distribuídos pelos flagelados do terremoto de quarta.
O Peru está pedindo comida, barracas, medicamentos, roupa e água para cerca de 200.000 pessoas que ficaram sem teto depois do terremoto que causou a morte de mais de 500 pessoas.
Cobrança da União Européia
O alto representante de Política Externa e de Segurança Comum da União Européia (UE), Javier Solana, afirmou hoje que "tão importante quanto enviar ajuda ao Peru é conseguir que esta seja distribuída de forma eficaz".
Solana, que assistiu a um ato institucional na localidade espanhola de Bueu, na região da Galícia (noroeste), expressou sua satisfação pelo fato de todos os países da UE estarem se mobilizando para "reduzir o sofrimento da população peruana", após o terremoto que atingiu o país na quarta-feira passada.
No entanto, segundo o alto representante, para conseguir reduzir este sofrimento não é só necessário que chegue ajuda internacional, mas que esta seja distribuída "de forma eficaz, tarefa muito importante e essencial", disse.
Organização
A Defesa Civil do Peru conseguiu organizar a assistência ao litoral central do país, devastado pelo terremoto após "72 horas críticas de confusão e caos que sempre ocorrem nestes casos", segundo o responsável pela coordenação, James Atkins.
Diretor de emergências da Defesa Civil peruana, Atkins critica alguns noticiários que afirmam "estar tudo desorganizado" e ressaltou que "uma catástrofe nunca é organizada nem avisa" quando vai chegar.
"Nós viemos e cumprimos nossa função, meu pessoal está com apenas duas horas de sono até hoje, desde a manhã de quinta-feira, como todos os que estão aqui, como todas as ONGs e instituições estatais", afirmou Atkins.
O responsável por coordenar a emergência no aeroporto de Pisco e principal encarregado de distribuir a assistência que chega de todo o mundo responde às críticas sobre falta de organização e coordenação ao indicar que "os caminhões entram e saem, com toneladas e toneladas de ajuda".
Atkins, um engenheiro de 60 anos, responde a todos e atende os pedidos na medida de suas possibilidades.
Nas últimas horas, o funcionário visitou os 13 albergues que acolhem milhares de desabrigados que ficaram sem lar em Pisco.
Ele afirmou que há 3 mil pessoas somente no albergue do Complexo Atlético Pisqueño, "onde será instalado um hospital usado pela delegação cubana com os últimos avanços médicos".
Os outros 12 albergues também contam com serviços médicos, alguns deles com hospitais completos vindos de Estados Unidos, Espanha e do próprio Ministério da Saúde peruano, além de equipamentos da Colômbia, Coréia e Equador, entre outros países.
Seis novos hospitais de campanha enviados pela cooperação internacional iniciaram hoje suas atividades na região mais afetada, com a administração de cubanos, americanos e espanhóis em coordenação com os responsáveis da Defesa Civil peruana.
Este atendimento imediato de emergência, a primeira fase da operação iniciada na quinta-feira, vai durar, segundo Atkins, "pelo menos três meses", nos quais deverá ser mantido o envio de ajuda, embora não na quantidade que chega agora.
Nos primeiros quatro dias, chegaram ao aeroporto de Pisco 250 vôos procedentes do resto do Peru e de outros países, com pelo menos mil toneladas de ajuda e diversos socorristas, médicos e especialistas em desastres.
A segunda fase da operação será a de reabilitação e a terceira, de reconstrução, afirma o alto cargo da Defesa Civil, embora esta última leve anos até que se conclua.
Por enquanto, uma das ajudas mais importantes que a Defesa Civil deve oferecer aos desabrigados é a psicológica, pois as pessoas afetadas sofrem com um "forte sofrimento que pode levá-las a crises e doenças posteriores", ressalta Atkins.
"Também é preciso fazer o tratamento correspondente dos que estão a cargo da ajuda, que sofrem o trauma do que vêem, por isso devemos nos preocupar com que nosso pessoal esteja protegido neste aspecto", disse.
No entanto, continuam as críticas à organização da assistência, sobretudo pela falta de coordenação para a atribuição de tarefas às equipes de socorro e ajuda médica, pois alguns tiveram que esperar todo um dia para começar a trabalhar, enquanto os atingidos esperavam com ansiedade.
Três minutos de tremor
O terremoto que sacudiu na quarta-feira (15) a costa peruana teve uma duração de 3 minutos e 30 segundos e uma magnitude de 7,9 graus, revelou nesta segunda-feira o diretor de sismologia do Instituto Geofísico do Peru (IGP), Hernando Tavera. Antes, a magnitude fora registrada em 8 graus.
O especialista assinalou, em entrevista ao jornalista peruano Jaime Bayly, que a costa peruana foi por apenas um sismo, e não por dois, como assinalaram diversas publicações e também o presidente peruano, Alan García.
"Foi apenas um terremoto de três minutos e 30 segundos que, para mim, foi sentido primeiro como um movimento leve e depois outro forte, e isso deu a sensação de dois terremotos, mas foi um sismo muito complexo em seu desenvolvimento", assegurou.
O cientista reconheceu que em 2005 apresentou um relatório público - que também foi enviado ao Instituto Nacional de Defesa Civil (INDECI) - no qual advertiu em detalhes que um terremoto poderia ocorrer no litoral sul, em frente à costa de Pisco, a cidade mais devastada pelo sismo da quarta-feira.
"O IGP faz pesquisas e as publica, em 2000 fizemos um estudo dos grandes terremotos que ocorreram no país e esses resultados foram publicados e apresentados à Defesa Civil", assegurou.
Tavera precisou que o relatório informava sobre "uma área entre Chilca (ao sul de Lima) e Pisco onde não havia rompimentos desde 1746 e, por isso, havia a alta probabilidade de um sismo".
O cientista disse que "o governo deve desenvolver um trabalho de prevenção em nível nacional" e que "os meios de comunicação devem dedicar algumas horas para divulgar a cultura científica".
"Ninguém no mundo tem a capacidade de prever quando vai acontecer um terremoto, mas é possível determinar as áreas", enfatizou.



