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Bombeiros e policiais resgatam passageiros de trem que se chocou contra plataforma em uma das estações ferroviárias mais movimentadas de Buenos Aires | Julio Sanders/Reuters
Bombeiros e policiais resgatam passageiros de trem que se chocou contra plataforma em uma das estações ferroviárias mais movimentadas de Buenos Aires| Foto: Julio Sanders/Reuters

Os argentinos choram nesta quinta-feira a morte de 50 pessoas em uma das maiores tragédias ferroviárias do país e pedem o estabelecimento de responsabilidades por um acidente que evidenciou a precariedade do serviço e a falta de controle estatal sobre a gestão privada.

Um dia após o acidente que, além dos 50 mortos - dente eles pelo menos oito deles estrangeiros - e mais de 700 feridos em Buenos Aires, as autoridades concluíram as tarefas de identificação das vítimas, mas dezenas de pessoas ainda buscam vários passageiros nos hospitais da cidade.

Entre os mortos, fontes oficiais confirmaram cinco cidadãos paraguaios, dois bolivianos, um chileno e um peruano.

O governo da presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, antecipou nesta quinta-feira que se apresentará como acusação no processo judicial aberto sobre o acidente. Ela disse ainda que se reserva possíveis ações administrativas no futuro.

"Aqui não se criam esquemas de proteção para ninguém", destacou o ministro do Planejamento argentino, Julio de Vido, em entrevista coletiva que havia suscitado intensos rumores sobre a possibilidade de o governo retirar a concessão à empresa Trens de Buenos Aires (TBA), responsável pela linha onde houve o acidente.

O trem acidentado pertence à rede de trens regionais de Buenos Aires administrada pela TBA, propriedade dos irmãos Cirigliano, um dos grupos de transporte mais poderosos do país, relacionados pela imprensa local com o ex-ministro Ricardo Jaime, investigado por corrupção.

Em meio à polêmica, o diretor Roque Cirigliano afirmou nesta quinta-feira que o trem "estava em boas condições" e classificou o serviço como "razoável", em uma breve visita à estação de Once, palco da tragédia.

"Cinquenta mortos lhe parece razoável?", contestou um dos passageiros, enquanto o diretor abandonava o recinto às pressas em meio à indignação popular.

Na estação, uma das três mais movimentadas da capital argentina, dezenas de pessoas recolhiam assinaturas nesta quinta-feira para um abaixo-assinado com o objetivo de denunciar a situação das ferrovias do país.

"Alguns trens estão quebrados e os freios não andam", denunciou Lisa Tejeda, uma das ativistas que pedia assinaturas. "Não me senti segura nos trens da TBA. Se ontem aconteceu isso, hoje pode acontecer o mesmo", lamentou.

O auditor-geral da Argentina, Leandro Despouy, lembrou nesta quinta-feira que o relatório realizado pela Auditoria em 2008 sobre as deficiências que o serviço apresentava nessa linha demonstrou que "a situação era desastrosa", especialmente o sistema de freios.

"Estão dadas as condições para que o Estado possa proceder à rescisão da concessão" da TBA, porque o acidente foi "consequência direta do descumprimento de normas básicas", assinalou Despouy, em declarações à "Radio Continental".

"Se não se fazem os investimentos necessários, se coloca o usuário em perigo. O sistema de controle não funciona", afirmou o sindicalista Rubén Sobrero, dirigente da União Ferroviária.

Para Eduardo Mondino, ex-procurador-geral da Argentina, "isso não é um acidente, tem responsabilidades políticas e funcionais".

As críticas e o sentimento de revolta social afetaram a agenda da presidente Cristina Kirchner, que suspendeu suas atividades oficiais, decretou dois dias de luto nacional com a bandeira a meio mastro e suspendeu as festas de Carnaval, mas até o momento não fez nenhuma declaração pública sobre o acidente.

Nas portas do necrotério, Juan Frumento chorava a morte de seu filho de 32 anos: "A responsabilidade é dos encarregados pela condução do país, que são os que devem manter o transporte em boas condições, mas não o fazem".

"Acham que só dizer que vamos pôr a bandeira a meio mastro já é suficiente. Controlem a TBA! Somos seres humanos com direitos", exclamava aos prantos a tia de outro jovem morto no acidente de quarta-feira.

As críticas ao governo e à gestão privada dos serviços públicos se difundiram também nas redes sociais.

"Estamos procurando Cristina Fernández. Ela se perdeu ontem depois do acidente. Somos 40 milhões de loucos. Obrigado por divulgar", dizia um tuiteiro em alusão ao silêncio da presidente.

"É um fato: as vacas têm melhor sistema de transporte do que nós", ironizava uma argentina indignada em sua conta no microblog Twitter.

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