O presidente da Argentina, Alberto Fernández, e a ministra da Economia, Silvina Batakis, na cerimônia de posse da ministra, em 4 de julho de 2022.| Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE
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Diante da desvalorização acelerada do peso e da inflação persistente, os argentinos focam atualmente em se livrar de sua moeda e comprar dólares, além de buscar refúgio nos bens duráveis, como eletrodomésticos, carros, materiais de construção e certas tecnologias.

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A moeda argentina aprofundou sua fraqueza devido à aceleração da inflação, que já estava em 64% ao ano em junho, e à expectativa de um salto na taxa de câmbio oficial, não apenas pela escassez de reservas e falta de financiamento do déficit fiscal, mas por conta da incerteza na resolução dos desequilíbrios macroeconômicos derivada das divergências políticas dentro do governo de Alberto Fernández.

"Este é um problema típico da Argentina há muito tempo, típico da alta inflação argentina", afirmou à Agência Efe o diretor da C&T Assessores Econômicos, Camilo Tiscornia, já que desde 1945 a Argentina vem se distanciando do resto do mundo em relação à dinâmica dos preços.

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"Isso está causando uma série de comportamentos que não existem em países que não tiveram essa inflação tão alta", considerou Tiscornia.

O refúgio habitual dos argentinos é a compra de dólares para entesouramento, mas agora também passaram a antecipar a compra de bens duráveis ​​antes que subam de preço.

"As pessoas, enquanto continuarem com esse nível de incerteza, continuarão comprando bens duráveis ​​para se proteger da inflação, principalmente quando não tiverem acesso a informações financeiras ou instrumentos financeiros para se proteger da inflação", explicou à Efe Matías Wilson, economista-chefe da Câmara Argentina de Comércio.

Segundo Wilson, os argentinos recorrem a eletrodomésticos, automóveis e alguns artigos tecnológicos - porque tem uma vida útil mais curta - e destacou que "é comum" adiantar custos juntando materiais para construção, ao mesmo tempo que somam os gastos em pesos com turismo, que também está experimentando um boom na Argentina.

"As pessoas querem tirar os pesos das suas costas", explicou Wilson.

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Mercadoria

A contraparte do consumidor é o comerciante ou fabricante que compra a mercadoria ou retém sua produção.

"Eu esgotaria todas as instâncias para não vender nenhum tipo de mercadoria, inclusive em dólares. Primeiro pegaria financiamento, já que as taxas estão negativas em relação à inflação", recomendou nesta semana um relatório do economista Salvador Distéfano.

Nesta instância estão os produtores agrícolas, que retêm a colheita para exportação nos campos - a consultoria Equilibra estima que restam cerca de US$ 10,3 bilhões a serem comercializados - na expectativa de um câmbio mais favorável.

Não é conveniente vender recebendo pesos porque se perde poder aquisitivo: a taxa de juros que remunera os depósitos a prazo é inferior à inflação esperada, enquanto os instrumentos da bolsa "são mais arriscados, não é o que faria uma pessoa mais conservadora, que não é tão sofisticada", pontuou Tiscornia.

O Banco Central, sedento por reservas, lançou nesta semana um mecanismo transitório, com o qual espera que os produtores liquidem cerca de US$ 2,5 bilhões, permitindo que adquiram divisas no mercado oficial de varejo por 30% do obtido com a venda de grãos e converter o restante em depósito com remuneração atrelada à evolução do câmbio oficial.

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Turbulência

A Argentina tem em vigor um programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para refinanciar uma dívida de US$ 40 bilhões de dólares, mas no último mês intensificou-se a deterioração das variáveis ​​financeiras.

Para Tiscornia, "começa-se a ver que o déficit fiscal não vai diminuir" e "é crescente a expectativa de que esse déficit fiscal vai causar mais inflação porque o governo não tem muitas alternativas para financiá-lo, vai ter que recorrer à emissão monetária e isso implica em mais inflação".

Neste mês, além disso, o câmbio paralelo disparou - 37% no mercado negro, o chamado "dólar blue", e até 34% no câmbio financeiro - devido à renúncia do agora ex-ministro da Economia, Martín Guzmán.

Em diálogo com o FMI, a nova ministra da Economia, Silvina Batakis, não tocou nas metas de 2,5% do PIB para o déficit primário deste ano, uma assistência monetária ao Tesouro de 1% do PIB e um aumento das reservas internacionais líquidas de US$ 5,8 bilhões e, perante os investidores, disse que contava com o apoio político de todas as fileiras do partido governista para equilibrar as contas públicas.

Embora o risco-país tenha cedido acima de 2.600 pontos básicos, a incerteza não diminui, já que o governo está avaliando uma possível substituição da ministra Batakis.

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"Seria necessário ir a anúncios muito específicos de que o déficit fiscal está começando a cair agora e isso é o que é difícil de fazer politicamente", disse Tiscornia.

"O governo não está totalmente convencido de que tem que fazer isso porque é politicamente caro. Estamos nesse tipo de limbo de grande incerteza e isso causa volatilidade financeira", completou Tiscornia.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]