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Curitiba – Um estadista que não deixa ninguém indiferente. Assim se projeta o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na América Latina. Enquanto alguns países da região abraçam sua causa e se espelham em seu governo – que se auto-aclama defensor dos interesses e da unidade da América Latina –, outros vêm se mostrando insatisfeitos com suas bravatas. Neste último caso estão, especialmente, o Chile e a Colômbia. Já a lista de admiradores do governo da Venezuela é encabeçada pelo boliviano Evo Morales. No meio dos extremos, estão os países que aceitam Chávez sem seguir sua liderança, como é o caso do Brasil.

Os cidadãos latino-americanos também já não se deixam convencer tão facilmente pelo discurso populista dos líderes que seguem o chavismo. A fácil ascensão de Evo Morales ao poder, na Bolívia, não se repetiu no México, onde o chavista Andrés Manuel Lopéz Obrador perdeu a eleição presidencial para Felipe Calderón, nem no Peru, onde Ollanta Humala, abençoado pelo líder venezuelano, foi derrotado por Alan García.

A liderança de Chávez na América Latina não tem se mostrado coesa, ou seja, são várias estratégias que se moldam de acordo com as alianças formadas na região. É o que diz Sabrina Medeiros, doutora em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os pilares da estratégia de Chávez para se consolidar na região são as alianças energéticas da PetroAmérica, distribuídas entre PetroAndes, PetroMercosul e PetroCaribe. "Mas isso não quer dizer que a meta vai se consolidar como Chávez quer. Em todo o caso, a estratégia me parece o mecanismo mais inteligente de aproximação dos países latino-americanos, incluindo o Chile."

Na América Latina o que se vê são blocos de países se aproximando de Chávez como é o caso do Mercosul, diz o cientista político venezuelano Rafael Villa, da Universidade de São Paulo (USP). Ao mesmo tempo em que se tem países como Chile e Colômbia, que por seu alinhamento histórico de relação com os Estados Unidos não pretendem ir contra suas diretrizes, comenta. Na votação pela vaga temporária da América Latina no Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, o Chile se absteve, enquanto a Colômbia votou contra a candidatura da Venezuela, que parece fadada ao fracasso pela falta de consenso.

Questões de pressão interna também refletem o mal-estar do poderio chavista na América Latina, como o acordo militar entre Bolívia e Venezuela, motivo de dor de cabeça para o Chile, já que o país vem sendo pressionado pelos bolivianos por uma saída para o Oceano Pacífico.

Os Tratados de Livre Comércio (TLCs) também podem ser considerados os maiores inimigos de Chávez na América Latina, diz Sabrina. Chile e Colômbia, por exemplo, provavelmente não ficariam de fora de alianças no setor de energia, mas não abririam mão dos acordos comerciais com os Estados Unidos, analisa.

"A autonomia chilena é bastante conhecida. A posição isolacionista chilena com certeza trará dificuldades para Chávez. Ou seja, ainda terá muito trabalho pela frente."

A recente perda eleitoral de Humala (Peru) e Obrador (México) reduz o espaço de manobra de Chávez na América Latina, acredita o especialista em História da América Latina da Faculdades Curitiba, Renato Carneiro. "Não é possível desenhar hoje uma unidade latino-americana. Temos vários exemplos de países em desentendimento." Como é o caso da briga entre Argentina e Uruguai em torno da construção de indústrias papeleiras, a crise do gás e questões do gênero.

Villa acredita que o cenário é bastante favorável à reeleição de Chávez no pleito de 3 de dezembro. "Uma parte da oposição conseguiu se realizar em torno do candidato Manuel Rosales." Caso Rosales vença, terá um governo de alto risco, uma vez que boa parte do Parlamento é chavista, diz Villa. O peso do chavismo vem pontuando os últimos pleitos na Venezuela, analisa Villa. "O ideal para o fortalecimento da democracia seria uma maior gama de forças políticas atuando para que houvesse mais equilíbrio político no país."

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