Telão mostra informações do voo daMalaysia Airlines que desapareceu com 239 pessoas a bordo.| Foto: Jason Lee / EFE

Os problemas só começaram na indústria de aviação da Ásia. Um ano com cinco grandes desastres, o desaparecimento do voo 370 e a turbulência financeira ressaltam os desafios do maior mercado de viagens aéreas do mundo. Nesse contexto, governos, reguladores e companhias aéreas estão com dificuldades para manter a força após uma década de grande crescimento.

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33%

do tráfego aéreo global é composto por passageiros da Ásia e do Pacífico. O número de pessoas viajando nessas regiões aumentou em um terço nos últimos cinco anos e atingiu 1,1 bilhão. Essa proporção deverá crescer para 42% nas próximas duas décadas e chegará a um total de 1,8 bilhão de pessoas.

O boom recente foi impulsionado pela acentuada expansão econômica da região. Além disso, liberalizações de mercado abriram espaço para a chegada de dezenas de novas companhias de baixo custo, que transformaram o setor.

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Diante da elevada demanda, é possível encontrar hoje uma escassez de pilotos e falhas em sistemas de controle de tráfego aéreo e infraestrutura aeroportuária, especialmente nas grandes nações do Sudeste Asiático, como a Indonésia.

Destroços de avião malaio abatido na Ucrânia, em 2014, com 298 pessoas a bordo. 

“Estamos em águas desconhecidas”, afirma Desmond Ross, diretor da consultoria de aviação DRA International e ex-chefe do Gabinete de Segurança de Aviação do Pacífico, que supervisiona o setor aéreo para as ilhas do Pacífico Sul. “Eu não acho que o mundo tenha visto esse tipo de crescimento antes.”

Um terço dos acidentes de avião na região da Ásia e do Pacífico entre 2008 e 2012 ocorreu por causa de “deficiências envolvendo controle regulatório”, afirmou a Organização de Aviação Civil Internacional (ICAO, na sigla em inglês), que faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU). Outros 27% envolveram “deficiências na gestão da segurança”.

Falta de unidade nos procedimentos dificulta comunicação

Companhias de baixo custo representam cerca de 60% da capacidade de passageiros da Ásia, de acordo com a central para a Aviação CAPA. Companhias aéreas asiáticas têm cerca de 1,6 mil aeronaves encomendadas, mais do que há em operação hoje. A Lion Air, da Indonésia, pediu mais 500, mas está impedida de voar no espaço aéreo da União Europeia.

O aumento do número de jatos também está sufocando os principais corredores aéreos e pesando sobre controladores de voo. Os desastres recentes geraram novos pedidos por reformas para unificar as normas de segurança fragmentadas no Sudeste Asiático.

O relatório oficial sobre o desaparecimento do voo 370 da Malaysia Airlines, publicado em março, ilustrou a necessidade de colocar padrões, afirma Shukor Yusof, fundador da empresa de pesquisa de aviação Endau Analytics, com sede na Malásia.

A transcrição das conversas revela confusão entre controladores de tráfego aéreo da Malásia e do Vietnã, que tiveram dificuldades ao longo de várias horas para lidar com o desaparecimento inesperado do avião. Cinco horas após a última transmissão do Boeing 777, eles não entendiam uns aos outros enquanto tentavam estabelecer as operações de busca à aeronave.

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Enquanto isso, a recente auditoria da agência sobre a Tailândia trouxe revelações inquietantes a respeito do que está escondido em um país que se promoveu ao mundo como um destino seguro e acolhedor.

Em março, a agência informou os governos sobre “preocupações significativas de segurança”, o que levou vários países asiáticos a intensificar as inspeções de companhias aéreas tailandesas ou evitar que as empresas iniciassem novas rotas de voos e modificassem horários.

O líder do governo militar da Tailândia, Prayuth Chan-Ocha, que derrubou seu antecessor civil em um golpe no ano passado, diz que anos de negligência permitiram que problemas se acumulassem até um nível crítico. Ele afirmou que o Departamento de Aviação Civil tem apenas 12 inspetores, número inalterado durante anos, apesar de enorme crescimento do turismo.

O líder militar prometeu usar seus poderes autoritários para reformar a aviação no país, mas não está claro se mudanças radicais podem ser implementadas com rapidez suficiente para evitar uma degradação da classificação de segurança da Tailândia.

Ross diz que os problemas da Tailândia não são únicos e decorrem da “super expansão” que vem ocorrendo ao longo dos últimos 10 anos. Além de ferir o turismo, o aviso da ICAO poderia também levar companhias de seguros a elevarem imediatamente suas taxas para as companhias aéreas que operam na Tailândia.

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Setor se expande na Indonésia sem regulamentação

A Indonésia gera bastante preocupação ao setor de aviação. Em dezembro, um avião da AirAsia caiu no mar quando transportava 162 pessoas, durante viagem de Surabaya para Cingapura. O desastre foi o quinto acidente aéreo com companhias asiáticas em um período de 12 meses. O voo não havia sido autorizado pelas autoridades indonésias, mostrando a falta de supervisão no sistema aéreo.

Voar é muitas vezes a opção mais fácil em viagens na Indonésia, um arquipélago de 17 mil ilhas e 250 milhões de pessoas.

A regulamentação e a infraestrutura parecem não estar sendo atualizadas com rapidez suficiente para acompanhar o ritmo de expansão da Indonésia. A previsão é que o mercado de viagens aéreas do país triplique nos próximos 20 anos, para 270 milhões de passageiros, tornando-se o sexto maior do mundo.

“Estou muito preocupado com a segurança na Indonésia”, disse o diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA na sigla em inglês) e ex-executivo-chefe da Cathay Pacific Airways, Tony Tyler, em um discurso aos oficiais da aviação do país em Jacarta. Ele observou que desde 2010 o país teve, pelo menos, um acidente por ano em que um avião foi destruído.

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Tyler apontou que o país precisa atualizar seu sistema de gestão de tráfego aéreo para lidar com o crescente número de aeronaves nos céus. As companhias aéreas têm mais de 800 novas aeronaves encomendadas.

Apesar do número elevado de catástrofes aéreas em 2014, decorrente em parte das duas tragédias envolvendo a Malaysia Airlines, a indústria aérea afirma que foi um ano relativamente seguro para voar.

O total de 12 acidentes fatais ficou abaixo da média de cinco anos, de 19. Já as chamadas “perdas de casco” ou descarte de aviões após incidentes (fatais ou não) foram as mais baixas na história. De outra perspectiva, no entanto, foi um ano particularmente trágico. Ao incluir o avião da Malaysia que foi abatido quando voava sobre a Ucrânia, o que não está nas contas do setor, 939 pessoas foram mortas em aviões no ano passado.