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Israel isolou Beirute do norte do país e promoveu ataques nas regiões setentrionais do Líbano, que até o momento haviam sido poupadas, neste que é o vigésimo quarto dia da ofensiva contra o Hezbollah. O ataque mais sangrento ocorreu em plena luz do dia na região agrícola de Qaa, próximo à fronteira com a Síria, onde pelo menos 25 pessoas morreram .

Segundo o relato de testemunhas, aviões de combate israelenses abriram fogo contra um grupo de trabalhadores, em sua maioria curdos e sírios, que quando carregavam um trailer frigorífico de frutas e hortaliças no coração do Vale do Bekaa, uma das fortificações do grupo xiita libanês Hezbollah. Pelo menos 20 feridos foram transferidos a hospitais na Síria, segundo o Ministério de Saúde libanês.

As regiões cristãs do norte do país, até o momento poupadas da guerra, também sofreram pela primeira vez ataques israelenses, em uma estratégia destinada, aparentemente, a propagar o pânico entre a população libanesa.

Pouco após o amanhecer, por volta das 7h da manhã (1h de Brasília), caças-bombardeiros israelenses empreenderam operações bélicas coordenadas contra quatro viadutos e pontes da estrada que une Beirute à cidade de Trípoli, e que conduz à única passagem fronteiriça ainda utilizável com a Síria.

O primeiro ataque destruiu parcialmente o viaduto que cruza a região de Mamelten, na parte cristã de Yunes, cerca de 20 quilômetros ao norte da capital. Os três mísseis lançados atingiram um Mercedes preto e uma caminhonete de transporte público que cruzavam as montanhas no momento, deixando três feridos.

Um quilômetro ao norte, na região do Cassino de Beirute, outros dois mísseis abriram uma cratera profunda próximo à ponte que conduz ao rio Nahar al-Kalb, que desemboca no Mar Mediterrâneo. O maior ataque, no entanto, ocorreu em Halap, onde os moradores que saíam para trabalhar viram quatro mísseis reduziram a ruínas um viaduto de seiscentos metros de comprimento e 53 de altura, um dos maiores do norte do Líbano.

- Foi horrível. Em um instante, vi a ponte desabar sobre um de meus vizinhos. Agora já sentimos a guerra - disse Mariam Salib, cuja casa, ao lado da ponte, havia ficado praticamente destruída.

- Por que Israel nos ataca? Aqui não há membros do Hezbollah. Só querem nos causar danos porque na realidade nos odeiam, odeiam o Líbano e os libaneses - disse Rita Bachir, moradora da aldeia.

Segundo membros da Cruz Vermelha libanesa, havia dois cadáveres sob os escombros do viaduto de Halat.

Mais ao norte, a aviação israelense destruiu a ponte de Matfun, na região de Batrum, uma das saídas naturais em direção às montanhas onde se conservam os últimos cedros que fizeram o Líbano famoso na Antiguidade.

Segundo a rede de televisão libanesa LBC, os caças-bombardeiros israelenses também inutilizaram a estrada entre Tareya e Afka, que une Beirute ao vale de Bekaa através das montanha, e destruíram uma importante central elétrica da região.

- Destruíram qualquer possibilidade econômica, qualquer negócio nesta região. Tudo está perdido - disse à George al-Juri, morador de Halat.

Os ataques contra as pontes da principal estrada que liga Beirute à Síria impediram o trânsito de um comboio de oito caminhões com 150 toneladas de material de ajuda e cortaram o que a ONU chamou de o "cordão umbilical" dos suprimentos de auxílio.

- A estrada toda virou história - disse Astrid van Genderen Stort, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). - Esse é um grande revés porque usávamos essa estrada para levar ao Líbano nossos funcionários e os suprimentos.

O Programa Mundial de Alimentação (WFP), ligado à ONU, suspendeu seus planos de enviar comboios para a cidade portuária de Tiro e para Rashidiyeh. A Organização Internacional para a Migração disse que precisou adiar a retirada de 2 mil pessoas, entre as quais 720 filipinos e laosianos, por uma estrada costeira, neste final de semana.

- Não há onde colocá-las em Beirute - afirmou Jemini Pandvashe, porta-voz da entidade. - Precisamos encontrar, com urgência, uma forma de tirá-los de lá.

O Acnur também se viu obrigado a adiar uma visita que faria aos arredores de Beirute para avaliar a situação dos abrigados ali e para entregar material de ajuda para cerca de 400.000 pessoas refugiadas com outras famílias, em escolas ou em parques da área.

Estima-se que o número total de pessoas expulsas de suas casas esteja entre 800 mil e 1 milhão. Cerca de um quinto desse total teria fugido para a vizinha Síria.

Hezbollah lança mais 200 mísseis

Em resposta aos ataques desta sexta-feira, o Hezbollah teria lançado mais de 200 mísseis Katyusha contra o norte de Israel, matando pelo menos três pessoas e deixando outras 29 feridas, segundo a versão eletrônica do jornal israelense "Ha'aretz".

Segundo a rede de TVAl Arabiya, cinco soldados israelenses foram mortos em um confronto com guerrilheiros do Hezbollah perto do povoado de Markaba, no Sul do Líbano nesta sexta-feira. As forças de segurança israelenses, no entanto, só confirmaram três mortes, até o momento.

A milícia xiita libanesa já teria matado pelo menos 68 israelenses, incluindo 41 soldados, sem contar as mortes desta sexta-feira.

O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, ordenou que o Exército para se preparasse para uma possível incursão na direção do norte até o Rio Litani, disseram funcionários da segurança. Uma ofensiva terrestre que chegue tão longe necessitaria da aprovação do gabinete do primeiro-ministro Ehud Olmert, pois significaria avançar mais além da planejada "zona de segurança" no Sul do Líbano.

Fontes políticas afirmam que Olmert tem discordado até agora enviar soldados até o Litani e não está convencido de que isto deteria os ataques com foguetes do Hezbollah contra Israel, um dos principais objetivos do Estado judeu.

- Não foi tomada nenhuma decisão - disse o general-brigadeiro Ido Nehushtan, mas acrescentou que o Exército está pronto para tomar qualquer ação que seja requerida.

Uma invasão até o Litani seria a incursão israelense mais profunda no Líbano desde 1982.

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