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Cidade do Vaticano – O Papa Bento XVI, em uma tentativa de apaziguar a ira do mundo muçulmano, lamentou que as palavras ditas na terça-feira passada na Alemanha tenham parecido ofensivas aos fiéis muçulmanos, declarou ontem o novo secretário de Estado do Vaticano, Tarcísio Bertone.

"A interpretação de seus comentários nos países muçulmanos não corresponde de modo algum com suas intenções", comentou o monsenhor Bertone em sua primeira declaração oficial desde a nomeação na sexta-feira para o segundo cargo mais importante na hierarquia do Vaticano, em substituição a Angelo Sodano.

Mas um dirigente dos Irmãos Muçulmanos, com sede no Egito, Abdel Moneim Abul Futuh, disse que a declaração do secretário de Estado do Vaticano não constitui uma desculpa do Papa ao mundo muçulmano.

"Isto não são desculpas, o secretário de Estado do Vaticano se contenta em afirmar que o Papa sente que suas palavras foram mal intepretadas, mas aqui não houve nenhuma má interpretação", disse Abul Futuh. "O Papa cometeu um erro, deve reconhecer este erro e pedir desculpas", acrescentou.

A expectativa é que Bento XVI aproveite o Angelus de domingo para comentar novamente a polêmica, que lembra a controvérsia provocada há oito meses pelas caricaturas de Maomé. "Podem acontecer certos esclarecimentos", disse ontem o padre Lombardi, porta-voz do Papa e diretor da sala de imprensa do Vaticano.

Na Santa Sé o clima é de relativa inquietação, acrescentou, pois o Vaticano acompanha de perto os acontecimentos. "A inesperada reação à lição teológica de Bento XVI pegou a Santa Sé de surpresa", afirma Bruno Bartoloni, especialista em Vaticano, ao jornal italiano Corriere della Sera.

A própria administração vaticana ficou desconcertada com os comentários do Papa sobre o Islã. O Sumo Pontífice tem o costume de preparar sozinho os textos teológicos.

A surpresa na Santa Sé se explica porque a crise explodiu em um momento de mudanças importantes no comando da Igreja. Na sexta-feira, o cardeal Bertone, um homem sem experiência de governo ou diplomacia, assumiu a secretaria de Estado. No mesmo dia, o Papa nomeou como novo "ministro das Relações Exteriores" o francês Dominique Mamberti, que era núncio apostólico no Sudão, Somália e Eritréia. Mamberti é um bom conhecedor dos vínculos entre o Islã e o Ocidente, mas ainda não teve tempo de deixar Cartum. No entanto, divulgou uma declaração oficial na qual afirma que o diálogo entre as religiões é uma "questão crucial" para o Papa.

Discurso

A origem da controvérsia foi um discurso que o chefe da Igreja Católica fez na terça-feira na Alemanha, no qual insinuou uma relação entre o Islã e a violência por meio da jihad (guerra santa). Bertone garantiu que Bento XVI "reitera seu respeito e estima por aqueles que professam o Islã". "O Papa espera que possam compreender suas palavras de maneira justa para que, uma vez superado este momento difícil, se reforce o testemunho no Deus único, vivo e presente".

Com a mensagem, o Vaticano tenta frear a onda de protestos nos quatro cantos do mundo islâmico. O comunicado recorda que a posição do Papa sobre o Islã continua sendo inequivocamente a expressada no documento conciliar (do Concílio Vaticano II sobre a Igreja e as religiões não cristãs) ‘Nossa Aetate’.

Segundo este documento, a "Igreja considera com estima os muçulmanos que louvam o Deus único vivo e presente, criador do céu e da terra, que falou aos homens", recorda o cardeal Bertone.

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