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São Paulo – A bomba atômica lançada sobre Nagasaki, em 9 de agosto de 1945, provocou a morte de milhares de pessoas, mas salvou Manabu Ashihara, hoje com 77 anos. O acontecimento, que precipitou o fim da Segunda Guerra Mundial, obrigou o jovem de 16 anos a cancelar um compromisso marcado para o dia 21 daquele mês: morrer.

Naquele dia, ele usaria um barco carregado de explosivos para se chocar com um navio norte-americano.

Foi uma das cinco vezes em que escapou da morte. Um ano após se alistar, aos 15 anos, ele caiu no mar com o avião em que treinava. O instrutor morreu, mas Ashihara se salvou.

Quando a bomba atômica caiu, ele estava na casa dos avós, na própria cidade de Nagasaki. Sua tia, única da família a saber da missão, já havia colocado seu retrato no butsudan, altar em que os japoneses homenageiam os mortos.

Militar, Ashihara foi destacado para socorrer as vítimas. Por ter sobrevivido à bomba, ele está em Nagasaki há um mês fazendo os exames médicos anuais pagos pelo governo japonês. Como não teve seqüela da radiação, é também objeto de estudos científicos.

Em 1967, em Atibaia, um mês após chegar ao Brasil, Ashihara caiu de trator de uma ponte de cinco metros de altura. "As pessoas passavam a mão nele para pegar sorte’’, diz Yussuke, o oitavo e último filho de Ashihara com sua mulher, Saeko.

Foi a mesma sorte que o salvou de uma cirurgia para retirar um coágulo no cérebro após um acidente de carro em 2001.

Ashihara vive hoje com a família em um sítio em Embu (Grande São Paulo), onde cultiva bonsais. Gosta de pescar, tocar violão e contar suas histórias. "55 anos de casado, tudo fala, né?’’, comenta Saeko.

Os dois vieram para o Brasil em 1967. "A Rússia ameaçava provocar uma terceira guerra’’, diz Yussuke. "Meu pai queria segurança para a família.’’

Questionado se compreende por que seu pai ofereceu a vida, Yussuke responde entre sério e brincando: "Nessa época, os jovens do Japão eram meio doidos. Para lutar pelo país, não mediam conseqüências’’.

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