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Rixas do futebol à parte, Brasil e Argentina, ao menos sob o aspecto econômico, estão batendo um bolão. Segundo estimativas da Câmara de Comércio Argentino Brasileira de São Paulo, o comércio entre os dois países deverá ficar em torno de US$ 25 bilhões neste ano - 25% maior que em 2006 e quase o dobro do registrado em 2003.

- Em termos percentuais, este é o volume de comércio bilateral que mais cresce no mundo - observa Alberto Alzueta, presidente da Câmara.

A previsão para o "segundo tempo", no entanto, não é das mais otimistas. Recém-saído de uma crise econômica que resultou no confisco de milhões de poupanças e deixou mais de 50% da população abaixo da linha de pobreza, o país enfrenta o desafio de crescer contornando a inflação e os problemas de credibilidade que envolvem institutos oficiais.

Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional, a economia argentina deverá se expandir a um ritmo de 7,5% neste ano. A inflação, no entanto, é uma incógnita: a estimativa do Indec, órgão oficial do governo é de 8,6%, enquanto a de outros institutos oscila até 18%, em meio a escândalos, denúncias e troca-troca no governo.

Para a economista Cassiana Fernandez, da Mauá Investimentos, as relações comerciais entre Brasil e Argentina tendem a se deteriorar no próximo ano. Não em função da vitória de um ou outro candidato, mas devido ao eventual agravamento da situação do país.

- Se o preço do trigo cair no mercado internacional (sua principal commodity) eles terão problemas fiscais. Além disso, se houver algum descontrole mais sério da inflação, acho que nem a Cristina Kirchner (peronista, apontada como favorita nas urnas) nem a Elisa Carrió (da Coalizão Cívica) hesitarão em agir para evitar uma crise. E o arcabouço correto a ser utilizado neste combate (aumento dos juros) leva à redução do crescimento do país e do comércio internacional - avalia.

Do ponto de vista comercial, em sua opinião, apenas o candidato Ricardo Lopes Murphy, do partido Recrear, teria uma postura mais neoliberal. Tanto o candidato da coalizão Uma Nação Avançada (UNA), Roberto Lavagna (ex-ministro da Economia), quanto o atual presidente, Néstor Kirchner, marido de Cristina, já impuseram barreiras comerciais a produtos brasileiros, como calçados e eletrodomésticos.

Em um ponto, no entanto, os discursos estão afinados. Todos afirmam ter no Brasil um parceiro estratégico e requisitam mais investimentos do país.

Investimentos do Brasil na Argentina são destaque

Na opinião de Alzueta, os investimentos do Brasil na Argentina nunca estiveram tão fortes. Apenas neste ano, o frigorífico Marfrig comprou mais de 70% da Quickfood ; a JBS-Friboi comprou, por meio de sua subsidiária Swift, adquirida em 2005, o frigorífico Col-Car. Sem contar o interesse da Petrobras na compra dos ativos da Exxon no país, anos depois da aquisição da argentina Peres Companc.

O forte apetite brasileiro pelo país vizinho tem sido, inclusive, alvo de críticas da imprensa local. No ano passado, por exemplo, os jornais se indignaram diante do anúncio da compra da cervejaria Quilmes, patrocinadora da seleção argentina de futebol, pela Ambev, dona da marca Brahma, às vésperas da Copa do Mundo. Reação similar ocorreu durante a compra da Loma Negra pela Camargo Correa e da Acindar pela Belgo Mineira.

Com sotaque carregado, no entanto, Alzueta avalia que este interesse é bom para seu país.

- O uso da capacidade instalada da indústria argentina está acima de 80%. O país precisa de investimentos - diz, comemorando uma conquista recente, que passa a vigorar a partir de 2008: a possibilidade de pagamento em moeda local no comércio internacional entre os dois países.

- Para os pequenos e médios industriais, que hoje não conseguem participar do negócio internacional, isto vai ser um facilitador fantástico. Não será preciso pensar em quanto está o dólar. Um empresário venderá, em sua moeda local, da mesma maneira que vende para outros estados de seu país, sem custos com a conversão do câmbio - explica.

Alzueta confirma que as pendências comerciais existem, mas frisa que elas ainda são pequenas em relação ao comércio total.

- O número de conflitos é cada vez menor e localizado em alguns setores que você conta com os dedos das mãos. Os setores têxtil, de calçados e da linha branca, hoje, não somam 2% do comércio bilateral entre Brasil e Argentina - minimiza.

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