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O ministro de energia venezuelano, Araque: ofertas serão analisadas | Jorge Uzón/AFP
O ministro de energia venezuelano, Araque: ofertas serão analisadas| Foto: Jorge Uzón/AFP

Análise

Venda colocaria em risco fornecimento interno

Helena Carnieri e Osny Tavares

O apagão pelo qual passa a Venezuela se assemelha ao que ocorreu no Brasil em 2001. A maior geradora do país vizinho, a usina de Guri, se encontra em pane por falta de água e falta de investimentos. Foi para momentos como esse que os dois países construíram uma linha de transmissão, planejada ainda na era pré-Chávez e inaugurada em 2001.

Desde então, a Eletronorte compra energia hidrelétrica da Venezuela por um preço muito menor que o das termelétricas a diesel de Roraima, estado beneficiado pelo intercâmbio.

O problema é que transmitir energia no sentido inverso (Roraima-Venezuela) ainda é inviável, de acordo com analistas. "Não tem como honrar um acordo desses (de venda de energia para a Venezuela) sem colocar em risco nosso próprio fornecimento", diz José

Ricardo de Oliveira, sócio da consultoria Ernst & Young. Mas o governo brasileiro "fará de tudo para ajudar Chávez, pelo alinhamento político", opina.

Rafael Herzberg, diretor da Interact Consultoria de Energia, concorda que a venda de eletricidade à Venezuela dependeria da abundância do produto no Brasil. "Se houver sobra de energia naquele circuito (região), seria um bom negócio vender para os vizinhos. Não se trata de uma questão política, e sim de disponibilidade de energia."

Com a Argentina o Brasil fez um acordo parecido. Abriu uma espécie de conta corrente de energia, para suprir momentos de extrema demanda energética. Recentemente, o país vizinho forneceu ao território brasileiro cerca de 500 MW-hora, assim como o Brasil salvou o governo Kichner em 2008 durante o apagão causado pelo inverno muito rigoroso.

A Venezuela estuda a oferta de venda de energia feita por Brasil, Colômbia e outros países, de acordo com o ministro de Eletricidade da Venezuela, Alí Rodríguez Ara­­que. O país sofre com interrupções no fornecimento de eletricidade há meses.

"Se há uma oferta da parte da Colômbia, bem, vamos analisá-la, assim como vamos fazer com uma oferta feita pelo Brasil", afirmou Araque, em comunicado divulgado na noite de terça-feira.

Ele notou, porém, que o governo do presidente Hugo Chávez aceitará apenas uma oferta, "caso ela seja considerada necessária". A oferta colombiana teria ocorrido apesar de uma longa disputa entre os dois países.

De acordo com a Agência Brasil, autoridades brasileiras teriam ido a Caracas para auxiliar o governo Chávez a encontrar soluções para a crise energética.

Sobre o Brasil, Rodríguez lembrou que a Venezuela atualmente exporta uma pequena quantidade de eletricidade para o país. Segundo o ministro, agora o Brasil propôs que a Venezuela passe a receber energia, ao invés de enviá-la.

O Brasil compra cerca de 80 megawatts da Venezuela, que abastecem o estado de Roraima (leia mais, ao lado). Araque não detalhou, entretanto, como se daria essa operação.

Crise

Uma forte seca na Venezuela, que depende fortemente de hidrelétricas para geração de energia, causou a crise no setor, em um contexto de aumento da demanda. Vários especialistas acusam, também, o governo local de não fazer os investimentos necessários para evitar o problema.

Como resultado, o governo determinou nos últimos meses que a eletricidade fosse racionada, impondo blecautes e limitando o horário de funcionamento de lojas, escritórios do governo e outros locais.

Rodríguez afirmou que qualquer plano de importar eletricidade de vizinhos seria algo secundário à iniciativa principal de resolver o problema energético venezuelano. O governo local tem um plano para expandir a capacidade de geração de energia.

A acusação de falta de investimentos faz sentido se observada uma estratégia do atual governo da Venezuela, cuja economia é baseada no petróleo e derivados. Em períodos de alta no preço do barril do produto, o país, capitalizado e com déficit na oferta de alimentos e serviços, considera mais viável importar mercadorias do que produzir.

Mas com a redução do preço do barril de petróleo no mercado, essa política ficou fragilizada. Só com o Brasil, o país tem um saldo negativo em sua balança comercial de mais de US$ 3 milhões.

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